O Reino de Newles

NEKO

Abriu os olhos com dificuldade. Ouviu o barulho dos pingos da chuva na janela de seu quarto. Ainda sentia seus músculos dormentes por conta do esforço que fizera com aquele ataque. Seus olhos pesavam e tinha dificuldade em abri-los por completo, mas visualizou uma luz no teto. Estava deitado, inerte em uma cama, tentava se mexer, mas os efeitos colaterais de sua magia ainda estavam o afetando. Se debruçou na cama e acabou caindo no chão.

– Ai, droga! – Resmungou.

,A força de seu corpo começou a voltar e seus olhos começaram a se acostumar com a pouca iluminação exalada do candelabro em cima de sua cabeça. Estava ao lado de sua cama, um colchão feito de palha, ornamentado com tecidos e madeira luxuosos. Do outro lado, uma prateleira de livros e em ao lado desta havia seu baú com algumas poucas roupas. Sua raça não estava acostumada a usar muitas roupas em seu corpo. Tinham uma grande incidência de pelos e isso já bastava para protege-los do frio. A varanda ficava entre a prateleira e sua cama, fazendo com que tivesse que contornar seu quarto caso quisesse ler alguma coisa.

Foi para a varanda de seu quarto, todos os quartos do castelo real detinham um espaço ao ar livre, era uma construção feita de concreto e magia, feita antes de ter nascido. Em baixo podia ver a grande escadaria que dava para a cidade. Ao fundo, as casas feitas de madeira mostravam que os habitantes estavam acordando. As chamas dos postes se apagavam lentamente e as finas camadas de iluminação das janelas de vidro deixavam de existir.

A chuva já tinha passado e o clima estava úmido e agradável, o ar que entrava em suas narinas era leve e carregava consigo o brilho do amanhecer no reino de Newles, um lugar que teve seu desenvolvimento graças aos Newles, seres que evoluíram dos animais que os humanos costumavam conhecer. Agora, adentraram o lado Oeste do mundo e por conta do forte vínculo que tinham com a magia do universo, conseguiam manipular e controlar vários tipos de habilidades. Porém os humanos não deixaram barato e mesmo com o espaço do Leste para eles, começaram uma guerra para poder conquistar o Oeste.

Diferentemente dos Newles, os humanos nunca foram capazes de usar magia por um motivo que nem os mais cultos podiam explicar. Todos os seres vivos nascem com magia dentro de si e essa magia se esvai quando o ser vivo morre, porem os seres humanos perderam a capacidade de usar a magia que estava dentro deles. Por conta disso, sentiram medo de que os Newles pudessem ser uma ameaça futuramente e tentaram colonizar o Reino, mas não conseguiram, pelo menos não até agora.

A chuva se acalmou e com isso as nuvens começaram a se dissipar. Viu uma poça de água no chão da varanda, dava para ver seu reflexo, mesmo meio embasado. Detinha pelos laranja no corpo com listras, afiados dentes e orelhas pontudas, suas garras negras cresciam cada vez mais. Seu nariz preto se mexia quando tentava cheirar o ambiente e seus olhos amarelados exalavam o terror que sentiu com aquele pesadelo que pareceu tão real quanto a morte. Seu coração ainda palpitava e ainda processava o ocorrido. Não sabia se foi só um sonho ou algo a mais, porém sentiu de verdade os acontecimentos. Havia presenciado a morte do pai, o Rei.

– Aquilo...foi um sonho mesmo? – Sentou um pouco nas grades da varanda, pensando em tudo que havia ocorrido para chegar onde estava. Já faziam 10 anos que estava no castelo.

Estava quase na hora de seu treinamento matinal começar. Ser um príncipe vinha com uma série de responsabilidades e muitas expectativas. Foi adotado pelo Rei há 10 anos atrás por conta de um acidente que chamou-o a atenção. Desde aquele dia, começou a morar com Licaon no distrito mais nobre do reino. Ainda lembrava dos detalhes daquele tenebroso dia.

Era inverno, as nuvens ameaçavam pôr a terra sobre a pressão das imensas chuvas que estavam por vir, o Reino dos Newles estava com uma escassez de alimentos por conta de outro ataque dos humanos e por isso muitos dos cidadãos foram para a parte mais nobre a procura de ajuda. O Rei Licaon sempre era bondoso com seus súditos, mas existia muitas pessoas para pouca comida. Foi onde começou sua jornada, tentando achar comida.