O Reino de Newles

LICAON

Licaon, um nome um tanto quanto estranho, mas era o nome que sua mãe o havia dado a muito tempo atrás. O lobo detinha seus pelos acinzentados, olhos alaranjados, dentes e garras afiadas e uma armadura de couro com um tecido leve preso ao pescoço que servia de capa. Diferente de todos de sua espécie, o lobo treinou a vida inteira e conseguiu aperfeiçoar seu corpo para que ficasse forte. Seus músculos não eram tão bem desenvolvidos como os de Drako, mas se garantia em uma batalha. Detinha uma bermuda com um cinto. Os braços de Licaon estavam enfaixados por conta da batalha de ontem.

Estava em seu quarto, o maior de todo o reino que ficava mais ao extremo do castelo, o chão era dourado, as tapeçarias eram de uma coloração avermelhada e as cortinas tinham um tom carmesim. Era uma noite fria, calma, úmida e enevoada. Sentou-se em seu sofá vermelho, retirando as faixas para ver os ferimentos. Eram cortes profundos que demoravam para parar de sangrar. Aquelas eram as cicatrizes de suas falhas. Voltou a envolver os braços e em pouco tempo um súdito felino de expressão séria trouxe um pouco de vinho em um cálice. Licaon pediu que se retirasse e que chamasse Neko para vê-lo.

Sentado, visualizou a cama de casal no canto do quarto. Em cima da cama, preso na parede, havia um quadro.

Já se faziam 18 anos desde que tudo aconteceu.

Algumas lágrimas começaram a cair de seu rosto, se espalhando por entre seu longo focinho de lobo. Na pintura estava Licaon abraçando uma loba de pelos negros e duas crianças, um pequeno lobo de 7 anos de idade e pelos laranja e uma recém nascida mais branca que a neve. Eram Orenji e Okami, seus filhos.

Há quase três décadas atrás, foi coroado novo Rei no território Newles, era o Senhor do Oeste, aquele que comandava o lado de sua raça e que iria comandar o exército para atacar o Leste. Humanos e Newles se enfrentavam a muito tempo, sendo esta guerra passada de geração para geração, porém quando se tornou Rei e completou seus 18 anos, estava muito feliz em poder viver juntamente com Lupa, sua amiga de infância e Rainha. Ambos decidiram ter filhos e serem uma família feliz, ele amava Lupa do fundo de seu coração. Porém os humanos não estavam satisfeitos com o que tinham, queriam mais território, queriam mais recursos para eles, queriam mais propriedade para que pudessem expandir seu exército diabólico. Foi então que decidiram invadir o castelo.

Muitos Newles foram pegos de surpresa e morreram, mas Licaon conseguiu expulsar a maioria do complexo graças ao seu imenso poder flamejante.

Concentrou-se nos inimigos para que não chegassem até onde Lupa e as crianças estavam. No entanto, enquanto lutava não percebeu que um deles se esgueirou por entre as extremidades do castelo. Um inimigo com uniforme preto e uma máscara dourada entrou enquanto enfrentava os outros.

Correu para seu quarto, não sabia o que faria se perdesse as pessoas mais importantes da vida dele.

Quando adentrou as extremidades do quarto visualizou sua esposa inerte no chão dourado, com sangue saindo de sua garganta e as presas a mostra em sinal de confronto. Não via os corpos de Orenji e nem de Okami. Aproximou-se da esposa ensanguentada e berrou de dor, chorando como uma criança. Gritou e apertou o corpo de sua amada. O corpo de Lupa se tornou frio e sem vida. Tentava chamar por ela, mas nada acontecia.

Ainda chorando, viu algo próximo a poça de sangue. Pensava que ainda tinha a possibilidade de seus filhos estarem vivos, mas fitou o chão vermelho e um choque percorreu toda sua espinha. Toda sua esperança foi perdida quando viu uma parte do corpo de seu filho ao lado de escombros do castelo que caíram quando os humanos danificaram o complexo. O braço de seu filho estava lá e esta era a única parte que não foi soterrada.

Ao lado dos escombros, havia uma máscara dourada.

Licaon sempre havia controlado seus poderes, mas naquela hora, sentiu um ódio imenso que se acumulou em sua alma. Foi fraco e não conseguiu proteger sua família, não conseguiu sequer salvar seus filhos.