01| Me deixem em paz!

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Ana não gostava muito de sair do conforto de sua casa. Não gostava de andar sob um sol quente, que sempre deixava aquela sensação de suor e de que iria desmaiar a qualquer momento por conta da alta temperatura. Ela não gostava de correr, pois nunca parecia ter fôlego suficiente e sempre uma dor aguda nas costelas a impedia de continuar o percurso. E ela também não gostava de estar em lugares com muita gente. Definitivamente estar rodeada de gente a irritava ao mesmo tempo que fazia um frio percorrer sua barriga por não saber o que poderia acontecer.

Ana listava todas as coisas de que conseguia pensar naquele momento a fim de se manter concentrada enquanto tentava correr o mais rápido que podia para longe daquelas coisas. Coisas que um dia já tiveram uma vida, um trabalho, amigos, família... Coisas que um dia foram humanas.

Ah, como ela odiava aqueles zumbis idiotas... Ela com certeza adicionaria mais aquele item à sua lista mental.

— Me deixem em paz! — Ela gritou, irritada, correndo pelas ruas assustadoras em plena luz do dia, e chamando a atenção de mais uma criatura para aquele grupo de seis sedentos por sua carne humana. — Ah, que maravilha! Mais um pro clube... — Murmurou, lutando contra o esgotamento de seu corpo.

Você consegue, Ana. É só correr mais um pouco e você pode entrar na sua antiga escola e se esconder lá. Depois arruma um jeito de... Seus pensamentos foram interrompidos quando seu tornozelo foi atingido por alguma coisa que parecia ter o dobro de força que o corpo magro e nada atlético da mulher no auge de seus vinte e dois anos.

Seu coração começou a acelerar ainda mais rápido quando ela percebeu que um dos monstrengos putrefatos conseguiu agarrar-se a sua perna. O sangue e outros resíduos nojentos dele sujando sua roupa só não eram piores do que o medo que ela sentia em levar uma mordida. Foi por isso que ela reuniu coragem e todas as suas forças para usar a sua mochila como arma. Embora ela carregasse um estilete escolar, isqueiro, uma corda, alguns mantimentos e um kit de primeiros socorros, ela não estava muito segura de que aquilo pudesse servir para alguma coisa.

A cabeça do zumbi se desprendeu do corpo com o impacto, permitindo que Ana pudesse continuar correndo enquanto lutava para não vomitar ao ver a cena. No entanto, o cheiro de carne podre misturado ao lixo pelas ruas não ajudava em nada a sua situação. Mas ela tinha que continuar, senão seria alcançada pelos outros zumbis que a perseguiam.

Por sorte — ou milagre — ela conseguiu chegar em frente a escola, correndo para um dos portões na esperança de que ainda estivesse destrancado.

— Droga! — Grunhiu, balançando o cadeado e correntes enferrujadas. — É claro que não estaria aberto.

Ana encarou as grades que rodeavam toda a área da escola, respirando fundo e tomando impulso para escalá-las. Como elas não eram tão altas, aquela tarefa não parecia tão difícil. E ali parecia o único lugar que aquelas coisas não eram capazes de entrar... Pelo menos era nisso que ela queria acreditar.

Um dos zumbis agarrou sua mochila — fazendo-a pensar o quanto era idiota por não ter passado a bolsa por cima da grade antes de tentar escala-la — enquanto outro tentou agarrar sua perna, mas acabou puxando o casaco que tinha amarrado na cintura e se espatifando ao cair no chão. O que aqueles zumbis tinham de fortes e assustadores, eles também tinham de frágeis. Talvez aquilo explicava como ela havia conseguido sobreviver durante aquele dia inteiro, sozinha, enquanto tentava cruzar a cidade e ficar segura no abrigo improvisado sob a vigilância do exército. Aquela era a sua única esperança para sobreviver.

— Sai daqui! Me deixa em paz! — Ela choramingou, sentindo o pânico percorrer seu corpo ao sentir a grade balançar com a força das criaturas.

Ela fechou os olhos por um segundo, como se já aceitasse seu destino cruel de morrer daquele jeito. Sozinha, sem ninguém para chorar por sua partida... Exceto Rafael que presenciava tudo petrificado.

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