Rafael a encarou por alguns segundos que pareciam durar uma eternidade, não conseguindo conter as lágrimas e a raiva de si mesmo por ter deixado as coisas chegarem naquele ponto. Me perdoa, Ana, era o que ele repetia a si mesmo e tentava dizer com o olhar triste para ela.
— Não, por favor. — Ela chorou, abraçando-o com força, mesmo o ferimento estando consumindo toda a energia que ainda restava em seu corpo. — Por favor... Por favor, não. Diz que você vai ficar bem... Que você não vai embora...
Ele balançou a cabeça, sentindo o coração doer ao fazê-la passar por aquilo de novo. Sentindo as lágrimas pesarem ainda mais por não conseguir falar claramente que a amava e que sentia muito e que estava com medo de perdê-la também.
— Eu não quero ficar sozinha de novo, Rafa. — Ela choramingou, a cabeça enterrada no ombro dele enquanto o mantinha preso em seus braços. — Eu não quero perder você também... Não me deixe só...
Ele segurou o rosto dela com as mãos, chorando ainda mais ao vê-la tão arrasada. Vai ficar tudo bem, era o que ele tentava dizer com os olhos inundados pelas lágrimas. Eu te amo, ele tentava dizer com aquele gesto.
— Não, por favor... — Ela implorou, tentando abraçá-lo mais uma vez, mas sendo impedida por ele. — Eu te amo. Eu não posso ficar sem você...
Rafael apertou com força a mão dela, como se retribuísse aquelas palavras e tomando a sua decisão mais sábia. E impulsiva também. Mas situações desesperadas pedem medidas desesperadas, então ele não tinha escolha.
Num ato rápido, ele pegou a arma das mãos de Ana e saiu do veículo, deixando-a em choque, com o desespero entalado na garganta por ser deixada sozinha, mesmo que aquilo significasse a possibilidade de escapar viva daquela situação.
Ana sentia o coração palpitando tão forte à medida que via Rafael se livrar de todos os zumbis ao redor da van, voltando alguns segundos depois — que mais pareceram horas — para tirar Ana dali.
Rafael a pegou no colo, juntando todas as forças que ainda tinha para manter sua humanidade e não atacar a pessoa que mais amava no mundo. Mas que por falta de palavras claras, os dois nunca sequer tiveram uma chance. E nunca teriam.
Pensar naquilo era doloroso demais para ambos, fazendo aquele percurso ser um misto de emoções. Ao mesmo tempo que se olhavam com ternura, amor, os dois sentiam o peso da despedida batendo à porta.
Ana percebeu as veias ganharem ainda mais destaque no corpo dele, chorando ainda mais ao notar que ele não teria escapatória. Que em breve o amor da sua vida só seria um corpo vazio, machucando outras pessoas que tentavam sobreviver naquele fim de mundo.
Rafael estava indo embora, para sempre.
Ele tropeçou nos próprios pés, derrubando Ana a alguns passos de alguns soldados atentos à cena.
Eles se aproximavam de Ana, conferindo se ela aparentava sinais de infecção e interrogando-a no mesmo instante.
— Ela não está infectada. — Um deles confirmou, ajudando Ana a ficar de pé e a segurando quando ela viu o estado de Rafael. — Calma, moça.
— Não, por favor! Ele precisa de ajuda... Me solta! Ele precisa de ajuda! Rafael, por favor...
Rafael a encarou, quase irreconhecível com todo aquele aspecto doentio já tomando conta de seu corpo. Os olhos vermelhos e assustadores que estranhamente choravam por dar um adeus tão distante e triste.
Eu sempre vou estar com você, ele grunhiu, ajoelhando-se ao chão, desolado, por não conseguir mais forças para dizer aquilo em voz alta.
Rafael respirou fundo, olhando bem nos olhos dela e dando o seu último suspiro de vida.
— Er... VOCÊ... AMO...
E o som de um disparo foi tudo o que Ana ouviu antes de perder os sentidos.
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Não me deixe só |✔
Historia CortaCONTO | +10 Ana odeia muitas coisas, mas nenhuma delas se compara a ter que lutar pela própria sobrevivência em um mundo dominado por zumbis e toda a desordem causada pelas criaturas. E como se não bastasse esse cenário apocalíptico, Ana ainda tem q...