III

9.7K 600 29
                                    

 A fazenda era um lugar tranquilo, exceto quando as crianças dos caseiros brincavam de pega-pega pela a casa enquanto Bethany gritava com eles. Não sabia quem era mais criança, ela ou eles.

- Tia, podemos ver? – Henrique apontou para minha barriga.

- Claro, vamos à sala e eu mostro para vocês.

Deito-me no sofá e levanto a blusa para que possam ver melhor. Pedro coloca sua mão e o bebê começa a mexer.

- Olha, está tendo soluço. – Bethany se pendurou no sofá. – Já escolheu o nome?

- Não vou ficar com ele, não tenho direito de escolher o nome. – O bebê me chutou. – Ai, vai de vagar ai!

- Crianças saem dai, deixem a Srta. Ayeska quieta.

- Sem problemas Ana, eles adoram ver o Antônio chutar. – Mordi o lábio.

- Você disse que não tinha colocado o nome!

- Acabei colocando mês passado, mesmo sabendo que não posso.

- Alessandra...

- Oi Antônio, consegue me ouvir? – Pedro disse encostando sua boca em minha barriga e interrompendo o que Bethany ia dizer. – Ele consegue me ouvir?

- De vez em quando. Quando ele está mexendo muito eu canto e ele se acalma. Mas acho que ele não vai responder sua pergunta. – Sorri. – Meninos, depois vocês continuam, agora tenho que ir trabalhar.

Fazia sete meses que havíamos montando um bar na zona sul do Mato Grosso do Sul, Beth era minha sócia e me ajudava no balcão, havia mais quatro funcionários que nos ajudavam.

Por conta do meu novo estilo, Bethany achou melhor abrimos um bar para motociclista e coincidentemente me apaixonei por uma Harley Davidson, porém por conta do tamanho de minha barriga tivemos que comprar uma picape e Beth dirigia, pois eu não alcançava mais o pedal.

O bar ia muito bem, fez um enorme sucesso na cidade e recebeu o nome Clube de Moto, mesmo o nome do bar sendo Rota 66. Hoje iriamos fechar com mais dois sócios.

Por onde andas? Estou voltando para Nova Iorque, estou indo te buscar. – Nat.

Ignorei a mensagem e continuei a reunião com nossos sócios, vamos ampliar o bar para um estúdio de tatuagem e oficina para as motos. Vamos pagar caro, mas a clientela irá aumentar e nos reembolsar.

Alessandra não gosto dessa brincadeira, responde-me.

Senti minhas pernas molhadas, o barulho de água foi alto, pois todos me olhavam.

- A bolsa. – Bethany me encarou enquanto eu estava paralisada. – Alessandra levanta, sua bolsa estourou!

- Venha eu te ajudo.

Fábio colocou meu braço em volta do seu pescoço me dando apoio para que eu caminhasse, Antônio chutou e eu me curvei de dor. Bethany falava com alguém no telefone e o Eduardo estava paralisado, procurando no que ajudar.

Fábio, o mecânico me colocou no banco de trás da Freemont, sentando-se ao meu lado.

- Peço desculpas pelo o transtorno meninos. – Beth entrou no carro dando a partida. – Sua mãe já está pegando o jatinho do seu pai e o seu avô vai pegar as bolsas e já está indo também.

- Está na hora de nascer?

- Faltava uma semana, mas sem problema. – Sorri amarelo. – Já ligou para os pais?

- Alessandra, eu não vou deixar você fazer isso. Conversamos depois que você parir.

Senti mais uma agulhada no canal, essa criança iria me matar, comecei a respirar fundo e o Fábio me deu sua mãe gentilmente para que a apertasse. As contrações estavam cada vez mais forte e Beth parecia uma embriagada dirigindo, queria chegar no hospital apenas para parir e não por um acidente de carro.

- Droga. – Um policial de moto pediu para que parássemos.

- Boa tarde seu guarda, como vai?

- Bem, posso saber aonde vão com tanta pressa?

- Ai! – Fábio gritou após eu apertar sua mão. – Devagar.

- Ela está parindo, preciso leva-la ao hospital.

- Tudo bem, eu vou pedir reforços.

- Não precisa, vai demorar e eu não quero dar a luz em uma picape.

- Alessandra. – Minha amiga me reprendeu.

Quatro motos apareceram no meu campo de visão e fomos escoltados até o hospital. Antônio estava se sentindo no carnaval dentro de mim, eu o entendo com tanta festa que estavam fazendo era de se esperar que ele queira pular.

Colocaram-me no soro e me deram um copo com cubos de gelos, para que serve isso? Comecei a colocar os cubos na boca e descobri que se eu mastigar alivia a dor.

- Você está bem?

- Estou com fome, compre alguma coisa. – Bethany me olhou. 

- Você vai dar a luz e quer comer? – Assenti. 

- E mais gelo, por favor. 

- Porque gelo?

- Alivia a dor.

Depois da anestesia eu me desliguei do mundo, estava grogue, porém acordada, por um momento comecei a imaginar como seria este momento com o Nat me apoiando, com ele correndo comigo até o carro e ligando para todos avisando que seu filho estava prestes a nascer.

- Oi, está tudo bem? Está sentindo alguma dor?

- Não, por quê? – Respondi a enfermeira.

- Está chorando. Está se emocionando com a vinda do seu filho? – Ela sorriu e eu concordei, mesmo não sendo a verdade.

- Ele é lindo.

Bethany, minha mãe e meu avô estavam em cima de mim olhando o pequeno rosto em meus braços. Ele é lindo, sorri orgulhosa. Seus olhos e cabelos eram idênticos do Nathan, mas a boca carnuda era igual a minha.

- A assistente social ligou, quer saber que horas pode vir busca-lo.

- Diga que eu desisti. – Disse ainda encarando aquele rostinho, ele soluçou. – Você fazia muito isso dentro de minha barriga rapazinho. – Sorri.

--

Estão gostando? Comentem o que estão achando, quero saber. 

35 votos e continuo! 

Meu Segredo (não revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora