'Cause I've drawn regret
From the truth
Of a thousand lies
[...]
What I've done
I'll face myself
To cross out what I've become
Erase myself
And let go of
What I've done - Linkin Park

Manuella Mondel

Talvez eu fosse velha por pensar assim — ou pobre —, mas dar um baile de gala em plena quarta-feira à noite era algo que não entrava na minha cabeça. 

Porém agora, supostamente, eu era uma pessoa que ia a um baile de gala, em uma quarta-feira à noite.

    Deveria ser a Disney. Filmes de Hollywood sempre mostravam a gata borralheira que havia, de repente, adentrado a ‘alta sociedade’ — já que era quase assim que eu me sentia, — imensamente feliz e satisfeita com suas festas e bailes. Em dias em que pessoas normais se sentaríam em seus sofás, para assistirem Netflix, até estar com sono o bastante, para se arrastar para a cama, como um ótimo jeito de evitar pensar que a semana ainda estava na metade e eles ainda teriam dois ou três dias de trabalho duro, essas pessoas iam a festas para doar dinheiro a alguma entidade regida por pessoas que não precisavam de dinheiro.

    Então, essas pessoas dançavam e sorriam uns para os outros — não todas, afinal isso não era a Disney —, enquanto bebiam champanhe e faziam perguntas indiscretas como:

    — Uau, você chegou longe com Prescott, querida. Quando nasce o bebê? — Com algo que parecia uma careta.

Ou um sorriso. Ela não tinha muita expressão.

    Sorri para a senhora à minha frente, passando o olho pela multidão à nossa volta procurando o provável pai do bebê. Era inútil, ele não viria.

    Minha segunda tábua da salvação sorriu para mim e eu devolvi, o primeiro sorriso verdadeiro em vários minutos.

    — Talvez em alguns anos, sra. Holt — respondi já segurando a barra do meu vestido para poder andar mais rápido — Com licença, minha futura sogra está me chamando — sorri enquanto me afastava dali o mais rápido possível, desviando de um garçom que carregava mais taças do que eu acreditava ser prudente.

    Rejeitei com educação como das vezes anteriores. Ter acordado na cama de Tristan sem saber exatamente como chegara ali já havia sido uma boa lição. Sem álcool para Manuella.

    Apesar de ser bastante desejado naquela noite.

    — Tristan? — Melanie perguntou quando eu cheguei mais perto com um pequeno sorriso.

    — Preso no trabalho… — Devolvi o sorriso com uma pequena mentira. Era preocupante que isso tenha virado um hábito.

    Há dois dias, desculpas e mais desculpas eram o que saiam de minha boca. Tristan não compareceu à reunião de organização de terça-feira, o que eu já havia previsto. Mas também dispensou o encontro com a perfumista com “ocupado” enviado dez minutos antes.

    Eu não o via desde a segunda-feira, mesmo morando na mesma casa. Ele chegava extremamente tarde e saia antes que eu acordasse.

    Apenas pequenos sinais faziam perceber sua presença. O vapor do banho no espelho, ainda presente quando eu acordava, ou o pequeno bilhete na pasta de documentos que ele havia deixado para mim naquela manhã. Seria o arranjo perfeito, se, para manter a fachada, eu não tivesse que mentir por ele.

    E ainda havia a pasta. A que me gerava calafrios. Haviam “propostas de ocupações” para mim. Basicamente o gerenciamento de organizaçõe sem fins lucrativos comandadas pelos Prescotts. O tipo de questão que servia mais para imagem, com o qual eu nunca lidei, mas que seria esperado da esposa de um milionário filantropo.

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