One minute I held the key
Next the walls were closed on me
And I discovered that my castles stand
Upon pillars of salt and pillars of sand
Viva La Vida - Coldplay

Quando terminei meu trabalho na segunda-feira, o metrô não parecia rápido o suficiente. Eu queria começar a procurar o trabalho logo e talvez até começar hoje, se eu fosse receber por gorjeta, quanto mais cedo começasse, melhor. A frase 'tempo é dinheiro' nunca fez tanto sentido para mim.

Troquei de roupa, peguei minha bolsa e documentos, e saí a caça. Não me dei ao trabalho de preparar um currículo, o tipo de emprego que eu precisava conseguiria com lábia e um bom sorriso. Fora isso nada na minha formação ajudaria em trabalhos de meio período.

Depois de tentar em uma loja de penhores, duas floricultura e duas lanchonetes, agradeceria se o 'não' fosse educado. Ao sair de mais uma lanchonete onde o dono nem olhou na minha cara me senti meio desanimada. Nova York era enorme, mas a população também era e todo mundo precisava de trabalho, então havia superlotação em tudo.

Já passava de cinco da tarde, parei em um Starbucks e peguei um café e me senti infinitamente melhor desde o primeiro gole. Andei duas quadras procurando em toda vitrine ou fachada algum aviso se precisavam contratar.

Passando em frente a um prédio de fachada muito bonita acabei me assustando com um motorista abrindo a porta de um carro preto. Por reflexo ou graça divina eu fiz o movimento oposto ao último final de semana, entornei o café inteiro para frente e consegui não me sujar. Por obra de uma entidade nada legal havia uma pessoa na minha frente, e meu café fez uma obra de arte em sua camisa branca e terno chumbo.

Puta merda! Isso hoje não...

Fechei os olhos por um segundo desejando estar na minha cama sonhando e não passando essa vergonha, mas o ruído de aborrecimento era muito real. O que pareceu brincadeira foi o acontecimento seguinte:

- Você! Ahhh.... Mas que diabos de merda você acha que tá fazendo? Está me seguindo para dar o troco?! - abri os olhos me encolhendo e não, aquilo não era real.

A vontade de encontrar um buraco para enterrar minha cabeça era grande. Mas uma coisa era maior: a graça do momento. E é por isso que encarando aquele rosto furioso olhando pra mim eu fiz a única coisa que consegui: eu ri.

E logo ficou obvio que não era uma boa ideia já que agora além de furioso, ele me olhava como se eu fosse louca e tivesse um chifre de unicórnio crescendo na cabeça.

Talvez fosse minha imaginação, mas em uma cidade de doze milhões de habitantes, eu esbarrar e derrubar bebida em um mesmo ser humano que eu nunca tinha visto antes disso, era no mínimo, difícil. No máximo, uma brincadeira de muito mal gosto de alguém lá de cima.

O episódio anterior me veio a cabeça e olhando aqueles olhos azuis, mais impressionantes a luz do dia do que no sábado, no bar, eu me senti em uma enorme maré de azar. Deveria começar a escrever um livro sobre essas coisas que só acontecem comigo.

Quando consegui parar de rir, eu tinha lágrimas nos olhos e um homem nada contente a minha frente.

- Você é louca? - não respondi ou riria de novo - Está me seguindo?! - respirei fundo antes de me dignar a responder.

- Tentando desviar do seu motorista. E... É sério? - ele fez uma careta ainda melhor e suspirou antes de falar, como se pedindo paciência.

- Que você tem problemas sérios de coordenação, além de, talvez, algumas disfunções mentais? É, é sim - ele diz de forma arrogante, me fazendo revisar os olhos. Um hábito que eu tinha largado a um tempo.

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