Dia de surpresa e frio na barriga;

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Era uma tarde ensolarada, de tanto calor que, para Luna, estar em casa sentindo o friozinho do ar condicionado, trazia uma sensação tão aliviante quanto a de estar abaixo de uma cachoeira, enquanto sente a água gelada caindo sobre seu rosto e corpo, e levando embora toda sensação de agonia do seu ser.

Ela nunca se acostumava com o clima tão quente na Coréia. Ainda que morasse lá há anos, detestava. Não gostava do quão calor ficava naqueles meses.

Manteve o ventilador de mão ligado durante o trajeto inteiro de volta para casa, porém, ele ainda a ajudava tão pouco, visto que sua blusa estava prestes a ficar ensopada. Não havia o que fazer, precisou mesmo pegar o busão para resolver questões sobre sua faculdade após ter ido até o café, que felizmente era onde ainda tinha vaga de emprego.

— Preciso comer. — Apertou os olhos com uma feição azeda, após ter ouvido o ronco da própria barriga.

Hana encontrava-se na faculdade em plena hora de almoço, enquanto a outra que pressionava o braço contra o corpo toda vez que sentia uma pequena pontada no local, pegava todos os ingredientes que achara, e colocava em cima do balcão.

Ela não faria muita sala sobre o que cozinhar, porque era só para ela. Mandou para longe os pensamentos onde cogitava ter potencial para preparar algo maior.

— Alô? — Apoiou o telefone que tocou, com o próprio ombro, para ouvir melhor o que seu irmão teria para falar.

— Oi, Luna. — Respondeu devagar, ela diria que sem vontade. Mas por qual motivo ele ligaria para conversar se estava dessa forma?

— Tudo bem? Precisa de algo? — Questionou, tentando concentrar-se ao mesmo tempo na faca de cortar à sua frente, e o que prepararia para cozinhar.

— Se não quer mais ver seu irmão não deveria dizer diretamente para mim?

Ela parou, deixou a faca, e enfim segurou o telefone com as suas mãos.

— Por quê você está dizendo isso, Daniel?

— Eu não estou entendendo você... — O outro abaixou a voz de uma sílaba para outra, como se em um deslize fosse começar a chorar.

Mas era ela, ela quem não estava entendendo.

— Você precisa me explicar o que está acontecendo, eu jamais irei ser a pessoa que não quer ver você. Vou perguntar de novo, aconteceu alguma coisa? — Repetiu a última frase em um tom mais alto e claro.

E como o estopim para uma confusão maior, ela ouviu o soluço dele.

— Nossa mãe disse isso. — Deu pausa entre um soluço e outro, chorando. — Que você não volta mais para casa porque não se importa com a gente, comigo.

Os olhos dela se fecharam, lentamente, por uma fração de segundos. Ela não estava brava com ele, e sua cabeça doeu. Sabia que não era vista como a filha exemplar, por mais que estivesse tentando.

Ficou indignada, pois aquilo a afetava.

— Não é verdade. — Calou-se, abrindo a boca diversas vezes para proferir as palavras, mas não queria dizer qualquer uma. — É claro que eu me importo com você, isso não está acontecendo, estou do seu lado porque quero...

— Tive a impressão de que ela está desconfiada porque eu cheguei mais tarde em casa hoje, a nossa mãe. — Interrompeu, ou talvez só havia esperado tempo o suficiente. — Assim como eu te falei da última vez, não dá mais pra esconder a Dahyun. Ela estava muito irritada, e assim como fazia com você, me deixou calado enquanto levantava a voz e descontava tudo. Então foi neste momento que ela disse que você não se importava com a gente. Eu sinto muito por dizer isso, mas me afetou, Luna, porque você raramente vem aqui. Desde que se mudou.

O amor está fora de questão?Onde histórias criam vida. Descubra agora