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🌼Mike perguntando a Will para ser seu amigo🌼

Mike odiava os suéteres que sua mãe o forçava a usar, eles pinicavam sua pele e arranhavam seu pescoço, mas sempre que o tirava, sentia sua pele se tornar azul pelo frio, mesmo que não acontecesse de verdade. Por isso, continuava usando a brega peça de roupa marrom e amarela escura, as piores cores possíveis, mas seu guarda-roupa não deixava de seguir esse padrão.


Mesmo com o frio, estava pensando seriamente em deixar o suéter jogado na areia, mesmo que seus lábios se tornassem roxos e seu cérebro congelasse, pelo menos estaria brincando com alguém. Provavelmente todos o estavam ignorando por seu suéter idiota, definitivamente era por isso.

Uma dúzia de crianças brincavam no parquinho da escolinha, todos com brinquedos, sejam bonecas ou carrinhos, e alguns que não tinham brinquedos, corriam pela areia, pulavam do balanço ou faziam o gira-gira ficar tão rápido, que logo estavam deixando a areia verde com seus vômitos infantis, o que fazia muitas crianças se afastarem, mas logo retornavam, como se nada tivesse sequer acontecido ali.

Mike se aproximou de muitos grupinhos, sentindo sua mão tremendo contra seu caminhãozinho que tinha acabado de ganhar do último Natal, sua avó havia lhe dado, rindo sem ar quando o garoto gritou animado com seu mais novo brinquedo.

Na realidade ele queria um walkie-talkie, ou um binóculo, por mais que não tivesse com quem usar, mas seu pai havia deixado bem claro como deveria reagir com qualquer presente recebido pela senhorinha de idade, e, como raramente acontecia, Mike obedeceu. Dessa vez, pelo menos.

Mas, mesmo com o suéter e o brinquedo, as garotas em marias chiquinhas e os garotos com seus brinquedos legais, olhavam feio para o Wheeler, e se levantavam rapidamente, do jeito ríspido e doloroso que crianças sempre fazem.

Era tão, tão estúpido, mas sabia que seus olhos estavam ardendo, com possíveis lágrimas a caminho. Que ótimo! Além de ser ignorado, iria chorar, dando ainda mais motivos para o acharem esquisito.

Era uma cena digna de um filme trágico infantil, as risadas ecoavam em sua mente, observando seus sorrisos, seus brinquedos e brincadeiras e seus olhares risonhos, enquanto Mike estava simplesmente estático, sem saber direito como seguir dali, sentindo muitos olhos julgadores em si, embora isso não fosse verdade. Ninguém o estava notando, esse era o ponto, mas como a mente de uma criança de 5 anos poderia sequer compreender isso? Não havia como.

Coçou o nariz, sabendo que definitivamente lágrimas viriam a qualquer momento, e então, notou um grupo de crianças correndo em frente ao balanço mais afastado, elas brincavam de pega-pega, provavelmente, todas rindo, mas, parecendo esquecido na cena, havia uma criança no balanço, criança essa que sequer se dava o trabalho de levantar o olhar para as crianças, simplesmente observava seus pequenos pézinhos, que se arrastavam na areia conforme o balanço ia para frente ou para trás. Ele também usava um suéter marrom, mas o seu tinha um desenho na estampa, Mike apenas não sabia dizer qual desenho. De forma fofa e cômica, seu suéter era um pouco maior que si, indo até sua mão, ao invés de parar nos pulsos. Ele tinha a costumeira tigelinha que muitas crianças carregavam por aí com seus cinco anos de idade, mas diferente das outras crianças, esse estilo parecia ser totalmente seu, combinando perfeitamente bem.

Ele também estava sozinho.

Mike olhou em volta, curioso, e, sim, eles eram as únicas crianças sozinhas. Será que os alunos realmente tinham algo contra suéteres? Não parecia feio ou estranho no garoto, o que tinha de tão ruim, afinal de contas?

Bem, não havia nenhum brinquedo em volta de si, talvez fosse isso.

Não, algumas crianças também não tinham brinquedos mas estavam se divertindo com seus grupos de amigos.

Será que o garoto estava passando pela mesma situação? Tinha tentado se enturmar, ou será que ficou ali, aguardando?

Bem, só havia uma forma de descobrir: perguntando.

A areia era difusa, fazendo com que Mike tropeçasse um pouco, como deveria estar parecendo? Ridículo, provavelmente, mas pelo menos o garoto não havia levantado o olhar, ainda. Seria vergonhoso se ele estivesse... O que iria pensar?

Seu cabelo era castanho claro, estando próximo, o garoto finalmente pôde notar a coloração dourada de seus fios de cabelo, muito diferente do escuro encaracolado de Mike.

Por fim, mantendo a costumeira mínima distância entre eles, coçou a garganta, ganhando, pela primeira vez, a atenção do menor.

Seus olhos eram verde escuro, seus cílios eram pequenos e delicados, e ele tinha uma pintinha fofa e escura perto da boca. Mike sorriu, e o garoto se limitou a observá-lo, curioso:

— Oi — Começou, repentinamente inseguro.

— Oi — Sua voz era baixinha e calma, como uma pessoa mais velha deveria soar. Mike gostou disso, então prosseguiu.

— Meu nome é Mike. Michael, na verdade, mas ninguém me chama assim, só a minha mãe quando ela está muito brava. E a minha irmã, também, a Nancy.

Por que estava falando tanto? Não fazia a mínima ideia, mas o garoto não pareceu se importar tanto assim, sorrindo minimamente, mostrando seus pequenos dentinhos brancos:

— Meu nome é William, mas todo mundo me chama de Will.

Will era um nome fofo, soava bonito em sua voz. Mike sorriu grande, repentinamente animado, como se os últimos minutos de tortura da ignorância não tivessem sequer acontecido. Will sorriu pequeninho de volta, sem saber muito bem o que dizer. Mike também não sabia. Eles tinham cinco anos, afinal de contas:

— Você quer ser meu amigo? — Quase gaguejou, ainda experimentando as palavras complexas em sua boca.

Will o observava curioso, com a cabeça deitada minimamente para o lado. Será que Mike era tão ruim assim que o menino tinha de debater com sua mente a resposta? Mas não parecia que ele estava necessariamente pensando na pergunta, era quase que uma surpresa, como se não esperasse por isso:

— Sim, eu quero — Ainda estava aprendendo a comunicação, por isso respondeu estritamente correto, e Mike iria rir do amigo alguns anos depois por causa disso.

O Wheeler sorriu, dessa vez mais calmo, como se um peso tivesse sido tirado de suas costas, ou talvez agora estivesse compartilhando esse mesmo peso, o carregando com o baixinho:

— Quer ajuda? — Apontou para o balanço.

Will olhou para as correntes em cima de si, confuso:

— Ajuda com o que?

— A balançar! Se eu empurrar você vai ir beeeeem alto, quer tentar? — Gesticulou para cima, ganhando um riso divertido do Byers.

— Quero!

— Ok — Sorriu, deixando seu caminhãozinho na areia e correndo para trás do garoto, segurando nas correntes que as mãozinhas fofas seguravam fortemente junto de si.

Com toda sua força - o que não era muito - empurrou o balanço, e deu um passo calculado para trás, já segurando o balanço quando o mesmo voltou, só para poder empurrar ainda mais forte, com Will ganhando mais e mais altura a cada vez. Seu riso era como um veludo em contato com a pele, era divertido, gostoso de se ouvir, te fazia ter vontade de rir junto. Na verdade, era impossível não rir junto.

Continuaram até Will pedir para descer, só para trocarem de lugares várias e várias vezes, como se isso fosse a coisa mais divertida a se fazer. E era mesmo.

Não importava mais o fato de ter sido ignorado pelas crianças, tinha ganhado a amizade da criança mais importante dali!

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