Chore com todo o seu coração

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"Esse período fez com que você se aproximasse mais das pessoas que gostava, então?"

"Definitivamente não" Essa reposta eu tenho pronta. "Aquela segunda pessoa da história do amigo que desisti, ela se enquadra aqui."

Ela assente com a cabeça, dando a entender algo como 'pode falar'.

"Essa outra amizade perdurou, porém, surgiram problemas que foram superados com os anos. Só que, diferente da minha mãe, eu ainda estava aprendendo a lição do amor a pessoas próximas. E foi nesse mesmo período."

"O de cinco anos atrás?"

"Esse mesmo, e no ano seguinte também. Não foi de uma hora para outra. Eu só queria ficar em casa, como disse. Então foi difícil para amizades no geral. Mas, como sabemos, tem pessoas que entendem seu momento e outras que não. Eu diria que ela não entendeu.

"Ela não entendeu seus dias 'de confusão', como você disse."

"Isso. Era o sentimento de que quando eu entrava em uma sala, ficava invisível. Eu me sentia como um fantasma, e ela era daqueles amigos que continuavam me dizendo que esse sentimento não ia durar. Ao invés de me enxergar, ela me negava. Talvez se ela falasse 'Chore com todo o seu coração, vai limpar seu rosto. Quando você estiver em dúvida, siga seu próprio ritmo' eu não teria me cansado. A verdade é que eu não tinha alívio nem de mim, já tinha cansaço do meu próprio eu."

"A 'positividade tóxica', como você chama."

"Isso." Eu rio. "Até porque de fato os dias não duraram, não é? Mas, na época, eu não sabia nem que eu era bipolar. Só desconfiava – e era descreditado." O café já está morno. "Eu precisava de um momento para mim, eu me respeitei, e vi que fiz certo. Esse momento foi superado, e as coisas melhoraram depois, tanto que eu não me lembro exatamente de tudo, como já notei que tenho a tendência a me esquecer dos detalhes quando ciclo. Mas eu me lembro de me imaginar jurando que estava com olhos sem vida, como se eu não tivesse mais nada para sentir, e até nem mais conseguir chorar. Eu dizia 'não' a convites, 'não' a ajudar os outros, 'não' ao novo, 'não' a vida profissional, que me assustava. 'Quando vou começar a me sentir como eu novamente?' Eu me perguntava. 'Estou por um fio, minha pele está fina como papel, não consigo parar de vacilar, eu nunca estive com tanto medo.' Eu pensava. Quando acordava, eu já ficava com medo da ideia de enfrentar o dia. Eu preferiria ficar em casa, só – o que nunca era possível. Eu criei essa tempestade, é justo que eu tenha que me sentar na chuva. Beber para esquecer, no caso três xícaras de café por dia, para ver se algo me animaria. E com tudo isso em mente, sempre havia mensagens dela me cobrando respostas, encontros, saídas... 'Por favor, pare de me ligar, é exaustivo.' Eu queria responder, mas não queria ser rude. Então fui sumindo. Não havia realmente mais nada a dizer, ela não conseguia entender.

'Chore com todo o seu coração, vai limpar seu rosto. Quando você estiver em dúvida, siga seu próprio ritmo' era a mensagem que nunca vinha.

"Você sentiu incompreensão."

"Sim, me senti. Eu estava com o amor-próprio muito fraco. E todo amor é devoto, nenhum sentimento é um desperdício. Mas eu precisava dá-lo para meu próprio eu, naquele momento, antes que fosse tarde demais. 'No final é só você', eu pensei, 'pare de se afogar na espera'. Para amar alguém, é preciso se amar primeiro.

Seu amor é inútil sem amor.

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