"Outra influência positiva, então." Ela pontua.
"Sim! E direta." Concordo, já pensando na próxima. "Mas posso agora abordar outra que é muito intensa, porém um pouco diferente das que falei. E é a música.
Eu pensei que poderia ser um assunto curioso a ser trazido, mas agora que ele finalmente está na mesa, percebo que não há nada de surpreendente nisso.
"Concordei com a influência positiva falando que era direta porque vejo a música de forma indireta. Principalmente porque não é só a música, mas o artista."
"O artista é uma influência indireta."
"Não é indireta a palavra certa, talvez fosse unilateral. Mas sim, uma grande influência. Vejo somente um lado da vida daquelas celebridades, e principalmente o lado artístico, o que me permite preencher o que não conheço ao meu bel prazer. E como já disse que sou sonhador, você já pode ter ideia da dimensão que isso toma."
"Tem ali uma projeção dos seus sonhos na figura do artista."
"Tem sim, mas eu nem digo sobre eu ter aquele anseio de ser o famoso, e sim de conhecer aquela pessoa, fazer amizade com ela. Tem algumas celebridades que eu queria muito ser próximo."
"Por exemplo..."
"Inúmeros! Mas, sei lá, a Adele. Mesmo sem nunca ter vivido um término de relacionamento, eu me conecto muito com as letras e histórias e acabo me perguntando como alguém pode ficar tão limitado pelas escolhas que outra pessoa faz?"
"Uma influência limitante?"
"Talvez, já que eu que estou criando a imagem da pessoa. E se ela passa por um momento difícil e escreve sobre isso, eu acabo associando a algo conturbado também. Por que nos tornamos a versão de uma pessoa de quem nem gostamos? É até uma forma de ver o mundo pelo olhar de outras pessoas, mas que acaba se refletindo no meu próprio, já que eu adapto essa visão para a minha."
"Podemos falar sobre essas criações."
"Às vezes são ruins, me fazem imaginar uma vida perfeita que jamais poderia ser vivida. É algo que me aproxima e me repele. Estamos apaixonados pelo mundo, mas o mundo só quer nos derrubar ao colocar ideias em nossas cabeças que, de alguma forma, corrompem nossos corações."
"Então acaba sendo negativo."
"Pior que sim. Mas é algo que me faz sentir. E eu tenho esse apego grande a sentimentos. Quando eu era criança, todas as coisas podiam me impressionar, absorvendo tudo para me divertir, mas agora é como eu só absorvesse vinho. Dizem que para se divertir de verdade, você tem que trabalhar muito, e encontrar equilíbrio no sacrifício, e parece que mesmo assim, eu ainda não encontrei ninguém que esteja verdadeiramente satisfeito."
Eu tento me lembrar das pessoas com quem eu convivo.
"Eu estou esperando meu doutorado começar já tem alguns meses. Quem está desempregado não consegue relaxar porque não encontra prestígio na inutilidade. Por outro lado, quem já trabalha parece reclamar de todas as segundas-feiras. Eu estou no meio, sem saber o que esperar do futuro, e para que caminho eu vou acabar indo. Mas é melhor você acreditar que estou tentando a continuar escalando, só que quanto mais alto subimos, parece que não estamos nem um pouco mais sábios."
Eu respiro fundo para pôr a mente no lugar.
"A estratégia que tenho usado esse ano é, como já conversamos, tentar focar mais no presente e ser grato pelo que já tenho. Isso é um constante exercício. Então espero aprender a me superar. Parar de tentar ser outra pessoa. Por que tenho essa obsessão com coisas que não posso controlar? Por que estou procurando aprovação de pessoas que nem conheço? Ou mesmo de pessoas que eu não deveria me importar? Meu círculo de amigos, e principalmente de conhecidos, se reduziu demais desde o início do isolamento. Nestes tempos loucos, espero encontrar algo em que eu possa me agarrar, porque eu preciso de alguma substância na minha vida, algo real, algo que pareça verdadeiro. A Adele é muito distante. Ou qualquer outra celebridade que eu goste. Mas, mesmo assim, acredite ou não, por elas eu já chorei, marés altas, porque eu queria esse inexistente de um tanto, porém não se pode combater fogo com fogo."
"Essas pessoas são distantes..."
"Sim. Distantes da minha realidade, mas também do que eu projeto em cima delas. Eu me permito criar personalidades para elas muito mais do que eu me permito para pessoas da minha "realidade". E é então o que isso tudo me mostra, que eu posso julgar dar o meu melhor em uma amizade, porém eu espero algo em troca, já que é "real". Por isso falei que eu espero aprender a me superar, para que possamos nos amar de graça. Eu sei o quão baixo eu posso ir, eu dou o melhor que eu recebo. Não quero continuar assim com as pessoas na "vida real". Talvez minhas expectativas estejam muito altas. Melhor deixá-las apenas para o imaginário distante, um lugar que eu possa pensar "Todo mundo quer alguma coisa de mim, você só me quer", sem que os outros recebam o de tudo porque é o que me resta. Sobre esses relacionamentos fictícios, às vezes, a estrada menos percorrida é a que é melhor deixar para trás.
Espero que com o tempo nós encontremos a paz de espírito, eu poderia desejar para nós.
Além disso, outro pensamento me ocorre, que eu prefiro não trazer agora. Acabei por me lembrar de quando eu nunca estive pior, em 2016. Uma amiga minha na época acabou por receber o meu pior justamente por eu estar em frustração por imaginar o melhor. O único arrependimento que tenho, porém, é que eu queria que fosse apenas num momento diferente. Um período mais turbulento da minha vida... Por que colocaria a culpa disso nela? Isso é, tipo, uma coisa muito pesada para se conversar. Mas por causa daquele período, mesmo que tenha sido muito divertido, eu não pude continuar e criar novas memórias com ela, havia apenas memórias em uma grande tempestade.
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FanfictionDepois de cinco anos, uma nova história envolvendo amizades. Dessa vez, com um novo narrador e pessoas diferentes. Cada pessoa que entra em nossa vida deixa suas marcas, positivas, negativas, esperançosas, esquecidas... E se conseguíssemos aprender...