Ai meu Deus

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A caminho de casa, telefonei para Hannah.

— Como foi? — perguntou ela.

— Acho que foi tudo bem — disse, lembrando-me da conversa. — Ela falou e eu ouvi. Eu falei e ela ouviu. Ela disse que ia me ligar. Espero que ligue mesmo.

— Pelo que você disse de Mi, se ela disse que ia ligar... Ela vai ligar.

Entrei na via expressa e fui para minha casa de campo, mal percebendo o trânsito pelo qual passava.

— Ela vai telefonar — eu disse. — Só espero...

— O quê? — perguntou ela depois de vários segundos.

— É só que... — obriguei-me a admitir a verdade. — Eu quero tudo. Quero levá-la para jantar, perguntar qual é seu prato preferido, o que ela queria de Natal quando tinha 12 anos. Quero levá-la para minha cama e ficar com ela ali a noite toda. — Parei. — E, Deus me ajude, Hannah, eu a quero em minha sala de jogos.

Ela riu baixinho.

— Tem tudo planejado, não?

— A maior parte depende dela.

— Tudo isso depende dela — corrigiu ela. — Cada passo a partir daqui ainda será uma decisão dela. Pegue leve. As duas precisam se conhecer. Faça com que ela...

— Confie em mim. Eu sei. Eu sei. Você já me disse.

— Só quero ter certeza de que você ouviu.

— Eu ouvi.

— Ótimo — disse ela. — Porque se você a levar para a sala de jogos cedo demais, vai assustá-la. E antes mesmo que você pense em voltar à sala de jogos...

— Vamos ter de conversar — eu disse, completando sua frase. — Palavra de segurança, nosso novo acordo. Também já falamos muito nisso.

— Sei que falamos. Mas nada do que eu diga vai ressaltar como é importante que desta vez vocês duas conversem.

— Desta vez — zombei dela. — Pelo modo como você fala, vai acontecer.

— Eu acho que vai — disse ela. — Um dia. Eterna otimista, lembra?

— Humpf.

Do outro lado da ligação, veio o barulho inconfundível do choro de bebê.

— Epa — disse ela. — Hora do cochilo. Christine saiu para fazer compras. — O choro ficou mais alto. — Me ligue depois que falar com Mi.

Desligamos e passei o resto da ida para casa em silêncio, refletindo sobre minha conversa com Mi. Quando ela me telefonaria? Ela ia querer me encontrar de novo, ou só me diria para deixá-la em paz? Mas ela deixou que eu beijasse sua mão — certamente não teria me deixado fazer isso se pretendia me dizer para deixá-la em paz.

Levei a mão ao nariz para ver se o cheiro ainda estava em mim. Talvez. Pela primeira vez, o silêncio não era meu inimigo. Era um amigo — dando-me tempo para refletir e pensar. Cheirei a mão mais uma vez, certa de que podia pegar seu aroma e deixando-me refletir sobre o otimismo de Hannah.

Quando cheguei em casa, Athena correu para mim e me farejou toda assim que entrei no hall. Abaixei-me e ela lambeu minha cara, ganindo. De vez em quando, olhava a porta como se esperasse pela entrada de Mi.

— Eu sei. Sei que sente falta dela.

Ela ganiu novamente e colocou a pata em mim.

— Talvez ela volte logo — disse, torcendo para que eu estivesse certa, por nós duas.

A Dominatrix - Pansmione | Parte 2/3Onde histórias criam vida. Descubra agora