Capítulo 1

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Zurique, Suíça. Junho de 2010.

Finalmente as férias de verão chegaram, não aguentava mais ter que estudar todos os dias, ainda por cima a minha mãe quer que eu tire sempre as melhores notas. Eu gosto muito da minha mãe, mas às vezes ela consegue ser bem chata. Já faz dois anos que não vejo o meu pai, ele é alcoólico, então a minha mãe teve que se divorciar por sofrer de violência doméstica. Portanto lá se foram as minhas esperanças de ter um irmão. Eu não gosto de ser filho único, gostava tanto de ter um irmão como os meus amigos têm. Mas eu entendo que a minha mãe não queira se relacionar com mais ninguém, ela sofreu muito com o meu pai.

Hoje é o primeiro dia das férias de verão e eu vou ficar o dia todo a jogar.

Mãe: Filho, posso entrar?
Luca: Sim, a porta está aberta.
Mãe: Quero falar contigo.
Luca: Diz.

A minha mãe senta-se na cama ao meu lado.

Mãe: Eu sei que tu queres muito ter um irmão. Então eu estive a pensar em adotar. Existem muitas crianças em orfanatos a precisarem de uma família.
Luca: Que boa ideia mãe!
Mãe: Ainda bem que gostaste. Pensava que não ias querer por ser adotado. Não vai ser teu irmão de sangue...
Luca: Eu não me importo mãe. Fico muito feliz em ter um irmão e não precisa de ser de sangue.
Mãe: Ótimo! A mãe hoje vai tratar disso, está bem?
Luca: Sim!
Mãe: Talvez para a semana já tenhas um irmão.
Luca: Que fixe! Obrigado mãe.
Mãe: Eu andei em segredo a procurar um irmão para ti e encontrei um com a tua idade que se chama Nico. Que achas?
Luca: Com a minha idade? Melhor ainda. Assim podemos fazer tudo juntos e ficar as férias todas a jogar.
Mãe: Vais ter uma companhia. Mas também quero que socializes na escola, é bom teres amigos.
Luca: Sim, claro. Muito obrigado! Adorei a notícia. Sempre quis ter um irmão. É tão triste brincar sozinho.
Mãe: Agora já vais ter um irmão.

A minha mãe abraça-me e sai. Minutos depois ouço a porta de casa a fechar. Ela foi buscar o meu irmão.

Passado uns dias chegou finalmente o dia em que o meu irmão vai chegar. Estou tão ansioso que quase nem dormi. Terminei de almoçar e vim para o meu quarto me deitar na cama a olhar para o teto. Já estou a imaginar a minha vida com um irmão, vai ser muito divertido.

Mãe: Luca, eu vou buscar agora o Nico. Queres vir comigo?
Luca: Sim!

Arranjei-me e saí de casa com a minha mãe, entrei no carro e fomos até ao orfanato. Ao chegarmos lá eu fiquei no carro à espera, mudei-me para o banco de trás para poder ir ao lado do meu irmão. Pouco tempo depois a minha mãe chegou com o Nico, saí logo do carro para o cumprimentar.

Luca: Nico?
Nico: Luca?
Luca: Prazer em te conhecer.
Nico: Igualmente.

Ele sorriu e eu sorri de volta.

Mãe: Agora tens uma família. Vais ser muito feliz connosco.
Nico: Obrigado...mãe.
Luca: Senta-te aqui atrás comigo.

Entra-mos para o carro e durante o caminho fiquei a conhecer melhor o Nico. Perguntei-lhe sobre os seus passa-tempos e que jogos ele gosta. Quando chegamos a casa a nossa mãe falou um pouco connosco e depois fomos para o quarto.

Luca: Como era a tua vida no orfanato?
Nico: Tratavam-me bem. Menos uns rapazes mais velhos que andavam sempre em grupo...
Luca: Sofreste de bullying?
Nico: Sim...era horrível. Mas eu tinha duas melhores amigas incríveis, elas defendiam-me sempre.
Luca: Tens saudades delas?
Nico: Sim...muitas. Mas tudo o que mais queria era sair daquele lugar e ter uma família.
Luca: Agora já estás bem.
Nico: Estou lá desde que tenho 3 anos. Já vi muitos amigos a serem adotados, alguns foram-me visitar tempos depois.
Luca: Nossa, estás lá desde os 3 anos e nunca te adotaram?
Nico: Não. Talvez por eu ser meio tímido e andar sempre à porrada com aquele grupo...
Luca: Que horror, porque eles te tratavam assim?
Nico: Porque eu sou tímido e...tem outro motivo, mas não quero que me odeies.
Luca: Conta. Agora somos irmãos e eu vou te apoiar em tudo. Somos família!
Nico: É que eu sou gay...
Luca: Ah...
Nico: Não tenhas medo de mim...
Luca: Haha.
Nico: Já sabia que também ias gozar comigo...
Luca: Não é isso Nico haha é que eu também sou.
Nico: A sério? E a tua...nossa mãe sabe?
Luca: Eu não ganhei coragem ainda para lhe contar...mas com certeza ela ia entender que é algo normal.
Nico: Sim. Ainda bem que me entendes.
Luca: Agora estás bem. Já estás longe daqueles rapazes idiotas.
Nico: Sim.

Passamos o resto do dia a falar sobre a minha vida na escola e a vida dele no orfanato. Fiquei mal pelo Nico porque ele estava num sítio triste, em que via crianças a chorar por quererem uma família e ele próprio já chorou por esse mesmo motivo. Ele é meio tímido, mas dá para ver que está feliz por finalmente ter uma família e estar longe de quem lhe fazia bullying. O Nico passou tantos anos naquele lugar, deve estar a ser difícil agora ter uma vida diferente.

À hora do jantar a nossa mãe veio nos chamar ao quarto para irmos comer, nós estávamos a jogar um jogo de corrida. Terminamos de jogar e eu ganhei como em todas as outras vezes, mas o meu irmão gostou do jogo.

Mãe: Está boa a comida filho?
Nico: Sim, obrigado mãe. Muito obrigado mesmo por me teres adotado, adoro a minha nova família.
Mãe: Nós também te adorámos.
Luca: Sim!
Mãe: Quando me falaram sobre ti eu senti que te devia ajudar, sei que foram anos difíceis lá no orfanato. Mas agora está tudo bem contigo, vais ser muito feliz aqui em casa.
Nico: Muito obrigado.

Depois de jantar-mos fomos todos para a sala ver um filme de comédia, foi muito divertido. Quando acabou a nossa mãe levou-nos até ao nosso quarto para se despedir de nós e fomos dormir.

Nico: Mano, ainda estás acordado?
Luca: Sim.
Nico: Onde está o nosso pai?
Luca: A mãe ainda não te falou sobre isso?
Nico: Não.
Luca: É, talvez seja melhor eu a explicar.

Eu expliquei-lhe sobre o nosso pai e ele ficou triste pela nossa mãe.

Luca: Desde então a minha mãe nunca mais entrou em contacto com ele.
Nico: Não tens saudades?
Luca: Tenho. Mas quando ele vivia cá em casa estava sempre aos berros com a minha mãe e a bater-lhe. Era horrível...eu ficava fechado no quarto com medo.
Nico: Sinto muito...
Luca: Durante estes dois anos sem o ver eu já chorei com saudades, mas agora o que menos quero é vê-lo. Ele fazia muito mal à mãe.
Nico: Sendo assim fica melhor longe.
Luca: Sim.

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