Capítulo 6

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No dia seguinte a nossa mãe saiu de manhã cedo e só chegou ao fim da tarde, estava acompanhada duma mulher que se apresentou como uma assistente social. Ela veio buscar o Nico para ele regressar ao orfanato, a nossa mãe estava com lágrimas nos olhos. O Nico já tinha preparado as malas durante a tarde, hoje não fomos à escola. Foi tudo muito rápido, eu abracei o meu ex irmão com muita força tentando não chorar e vi-o a ir embora em silêncio. Era nítida a tristeza na cara dele, ele virou logo costas sem olhar para trás. Passamos a tarde deitados lado a lado a conversar como irmãos pela última vez. Bem lá no fundo nunca nos vimos como irmãos, vou ter saudades de o ver a toda a hora e de respirar o mesmo ar que ele. Por nunca nos termos afastado fez com que não desse para sentir-mos falta um do outro e percebermos o que realmente sentimos um pelo outro. Mas agora, apesar de continuarmos a ir à mesma escola, já não vamos morar na mesma casa. Vai ser bom para entendermos melhor os nossos sentimentos. Estou muito triste pela nossa...não...pela minha mãe, entendo o quão destroçada possa estar. Eu queria muito um irmão, mas acabei por me apaixonar por ele.
....

Os dias se passaram e a minha mãe continuou sem me dirigir uma palavra, praticamente já não olha para mim. Ela despreza-me e eu não a culpo por isso, tem razão, mas eu não tenho culpa, não mandámos no nosso coração. Hoje já é segunda outra vez, faz uma semana desde que o Nico deixou de ser meu irmão e foi embora. A semana passada ele faltou à escola, não sei se vai conseguir continuar a ir. Hoje, como em todos os dias da semana que passou, vou para a escola com a esperança de o ver.

...

Já se passou um mês e o Nico ainda não voltou para a escola, estou muito preocupado. Será que ele está bem? Será que o mudaram de escola por minha causa? Será que ele foi adotado por uma família que mora longe? Será que ele sente a minha falta? Tantas dúvidas, tantas perguntas...mas não consigo obter resposta. Estou em desespero. A saudade está a acabar comigo e a deixar um vazio enorme no meu coração.

...

Zurique, Suíça. 2013.

Hoje é a última semana de aulas. Amanhã o Nico faz 18 anos, ele é um mês mais novo que eu. Eu fiz 18 no mês passado, uma idade tão importante, uma data especial que não a pude passar com o Nico. Mas diverti-me imenso com o Elio e outros amigos da escola, foi a minha primeira vez numa discoteca, cheguei a casa muito bêbado e não tem mal, pois a minha mãe não se importa mais. Desde que ela descubriu sobre nós afastou-se completamente de mim, mas pelo que sei continua a ir à psicóloga, não a vejo a beber nem deprimida. Ela tem andado bem ultimamente e quase nem está em casa. Acho que estar aqui faz lhe mal. Amanhã o Nico faz anos e nem lhe posso dar os parabéns, já tentei perguntar pelo Nico à minha mãe, mas elas ignora-me. De certeza que ela deve ter pedido para o mudarem de escola, ela não quer que estejamos juntos.

...

Duas semanas se passaram,

Finalmente a minha mãe falou comigo, obrigou-me a procurar emprego para trabalhar durante este verão. Já faz uma semana que terminei a escola, fizemos uma viagem de finalistas a Paris, foi o sítio mais escolhido, passamos lá um fim-de-semana, foi muito divertido. Hoje vou fazer o que a minha mãe me mandou. Mas sinceramente, não estou com muita vontade de ficar desocupado demais este verão, tenho pensado muito no Nico. Trabalhar até vai ser melhor para me distrair e para juntar dinheiro para a nossa casa, eu ainda não me esqueci disso. Eu e o Nico vamos morar juntos.

Uns dias depois,

Elio: Parabéns! Não é nada mal para primeiro emprego.
Luca: Lol. É o primeiro emprego de quase toda a gente haha. Empregado de mesa...
Elio: Tu vais dar conta.
Luca: Espero que sim. Tenho andado muito distraído a pensar no Nico.
Elio: Acho que devias pôr o teu medo de lado e ir ao orfanato. Ou talvez já seja tarde demais...ao tempo que já me ando a oferecer para ir junto.
Luca: Acontece que nunca perdi a esperança que ele fosse voltar para a escola...até passar tempo o suficiente para eu perceber que ele já não ia voltar mais.
Elio: E tu já devias ter ido ao orfanato à muito tempo!
Luca: Eu prefiro não saber o que aconteceu. Tenho medo de ir lá e me dizerem que ele foi para longe. Ou sei lá, que me proibam de o ver.
Elio: Amanhã de manhã vais lá comigo e não se fala mais nisso!
Luca: Obrigado pelo apoio.
Elio: Já devias ter feito isto à mais tempo...és mesmo teimoso Luca.

No dia seguinte fui ao orfanato do Nico com o Elio. Eu nem consegui dormir por causa de tanta ansiedade que estava a sentir. No carro do Elio eu estava a tentar me controlar, porque eu estava com muito medo e vontade de desistir. Ao chegarmos ao orfanato, fumamos um cigarro primeiro.

Elio: Vai correr tudo bem. Acalma-te.
Luca: Eu tenho vergonha também. Vão me insultar por ser gay e por ter me apaixonado pelo meu irmão adotivo.
Elio: Queres que vá lá eu? Ficas aqui no carro, não precisas de vir.
Luca: Mas e se o Nico estiver aí?
Elio: Então eu venho te chamar.

Quando o Elio terminou de fumar entrou lá dentro e eu fiquei à espera.

Amor ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora