Capítulo 05

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Conforme continuavam viagem, as coisas iam voltando ao normal entre os dois. Não o suficiente para deixá-los falantes como antes, mas pelo menos não pareciam mais tao esquisitas. Eles não podiam esconder a atração que crescia, a forma como seus olhares se encontravam e era o suficiente para aquecer o pequeno espaço em que se encontravam.

Era a vez de Steve dirigir novamente, faltando mais doze horas de viagem, ficou decidido que ele seria o motorista até chegarem em Youngstown, no estado de Ohio, e a partir dali Natasha dirigiria as seis horas restantes. A neve havia deixado de cair, então só precisavam se preocupar com os milímetros que já tinham deixado sua marca anteriormente, os ventos frios ainda assolavam, mas dentro do carro, eles não podiam incomodar os viajantes.

— Vai fazer isso sempre que estiver sendo o motorista? — ela acabou quebrando o silencio que ergueu-se novamente. 

Aparentemente, Steve Rogers era uma pessoa que gostava de ouvir músicas conforme a época do ano em que se encontravam, o que significava que vinha obrigando a pobre moça a ouvi-lo cantar músicas de natal por boa parte do caminho. Aparentemente o fato dele ser totalmente desafinados não parecia realmente incomodá-lo.

— Achei que tínhamos um combinado — ele para a cantoria e vira a cabeça para observá-la rapidamente, ignorando o olhar de repreensão que recebeu. 

— E temos, o combinado diz que o motorista escolhe as músicas e eu realmente não tenho nenhum problema com a playlist natalina, gosto dela — o sorriso travesso começa a surgir no canto dos lábios da ruiva — Mas precisa torturar meus pobres tímpanos?

— Essa foi cruel — finge uma cara ofendida, porém também sorria, afinal de contas, sabia que era verdade sua falta de talento para cantar, mas isso não o impedia de se divertir irritando a mulher ao seu lado — E tira o pé daí.

Ele reclama com Natasha, que havia colocado os pés no painel do carro, como se não soubesse que caso ocorresse uma batida aquela posição era extremamente perigosa. Lentamente a mulher faz o que ele pede, só precisava esticar as pernas, mas não queria que tivessem que parar mais uma vez, então estava determinada a manter-se ali até chegarem na cidade de Ohio, onde comeriam e a partir dali seria a motorista no restante da viagem.

— Sabe de uma coisa que acabei de perceber? — ele questiona e não espera por uma resposta de verdade, só continua falando — Eu te contei o porquê de ter trocado Nova York por Winnipeg, mas você não me falou seus motivos. 

— Parece que não vai voltar a nevar de novo — Romanoff sabia que era óbvia a mudança de assunto, porém aquele era um tópico que não gostaria de comentar no momento. 

— Falando sobre o tempo? É assim que foge de um tema que não quer conversar? — o loiro tenta brincar para aliviar o clima. 

— Olha, para ser sincera, não sou a pessoa mais aberta do mundo, emocionalmente falando — completa antes que fosse levado para outro sentido — Nunca fui muito boa em falar sobre meus sentimentos e é por isso que, em geral, escrevo sobre eles. 

— Então, envolve sentimentos? — naquele momento, ele não sabia se estava só sendo implicante ou se era sua curiosidade gritando para descobrir que tipos de emoções fortes eram aquelas que conseguiram empurrá-la para outro país — Obrigada então. 

— Pelo o que? — ela o encarou levemente assustada pelo agradecimento repentino, esperava mais algum tipo de piadinha, não aquilo. 

— Você disse que não era boa em falar sobre si mesma com os outros e sobre suas emoções, então obrigada, por tudo o que compartilhou comigo nesse último dia — queria dizer essas palavras encarando as íris verdes dela, mas infelizmente precisava manter o foco na estrada, então tudo o que conseguiu foi uma rápida olhadela. 

— Não tem esse direito — a ruiva resmungou e observando a paisagem mudar através da janela, completou sua reclamação, voltando a repetir o início da frase de forma mais clara — Não tem o direito de dizer essas coisas e fazer com que me arrependa em ter deixado de te-lo beijado naquele quarto.

Todas aquelas horas no carro e eles ainda não haviam falado sobre o que tinha acontecido no chalé. Steve até podia aceitar aquele fato, apesar de não concordar, podia entender que se ela desejava deixar de comentar sobre é porque de duas uma, ou se arrependeu da forma como flertaram, ou nunca foi real e era só o vinho falando. Nenhuma das opções agradava ao Rogers, que só queria continuar a ter a chance de conhecer melhor a mulher ao seu lado e, apesar dele não saber disso, nenhuma das alternativas eram verdadeiras.

A confissão dela, o atingiu de um jeito que jamais imaginaria, era o que precisava para saber que não era o único pensando sobre o quase acontecido e ah, ele não fazia ideia de como a imagem dos dois juntos era algo que vinha martelando na cabeça de Romanoff, com uma frequência tao grande que a assustava. 

— Youngstown, finalmente — a voz dela alcança seus ouvidos e ele percebe que perdeu a oportunidade de lhe dizer o quanto também desejava que aquele beijo tivesse acontecido.

Conforme procuravam uma lanchonete ou cafeteria aberta que fosse, observavam a decoração de natal da cidade. Era lindo ver todo o verde, vermelho e dourado, misturado com o branco da neve, Steve adorava aquela época do ano e pelo brilho no olhar de Natasha, suspeitava que ela compartilhasse da mesma opinião. 

Conseguiram encontrar um pequeno restaurante e enquanto Romanoff disse que ia ao banheiro, Rogers acabou ficando responsável por pegar uma mesa para os dois. O lugar estava relativamente movimentado, pelo aviso na porta funcionava vinte e quatro horas, o que explicava alguns bêbados dormindo apoiados no balcão da parte que ficava o bar. Ele também avistou um palco, um grupo de jovens fazia barulho incentivando um menino que cantava alguma música do queen. 

Segundo a garçonete que o atendeu quando ele fez os pedidos, tinham dado sorte e ido no dia do karaokê. Um monte de gente cantando alto e desafinado, Steve quase teve um ataque de risos ao pensar que mal podia esperar para contar essa novidade para Natasha e observar a expressão que se formaria no rosto dela.

 Quando ela voltou, não demorou para a comida chegar também e agora eles tinham arrumado um novo passatempo enquanto comiam: julgar os "cantores" como se fossem jurados de um reality show. Rogers reconhecia a própria hipocrisia, já que ele não era um excelente cantor também, mas os dois só inventavam histórias para as pessoas a sua volta, observando suas companhias, a forma como reagiam ao karaokê ou ao fato de estarem em cima do palco, e Romanoff sentia como se estivesse desenvolvendo algum dos vários personagens de seus livros inacabados.

— Sabe, você deveria subir lá — ele diz de repente.

— É, 'tá certo — rebate, revirando os olhos e contendo um sorriso, mas a atitude só serviu para deixá-lo ainda mais curioso para ouvi-la cantando. 

— Não é justo você julgar os outros se nem ao menos sabemos o nível do seu talento. 

— Por que você é muito talentoso, né Steve Rogers? — nesse momento, ele percebeu que nunca havia gostado tanto de ouvir alguém pronunciando seu nome. A forma como ela apoiava o queixo na mão, com o sorriso debochado nos lábios, era a composição de uma cena que fez o coração dele bater um pouco mais forte. 

— Está fugindo de um desafio, Natasha Romanoff? — ela não sabia como Steve fazia isso, como conseguia mexer com cada terminação nervosa de seu corpo ao soltar uma simples frase, mas droga, aquele cara era uma coisa...

Apesar de todos os sinais, os dois pareciam não entende-los, ou simplesmente resolveram ignorar por enquanto, até que certezas fossem postas em jogo. Entretanto, uma coisa que ficaria óbvia para eles, algum tempo depois, é que estavam vivendo sua própria história clichê de natal.

 Entretanto, uma coisa que ficaria óbvia para eles, algum tempo depois, é que estavam vivendo sua própria história clichê de natal

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Driving Home for ChristmasOnde histórias criam vida. Descubra agora