Iceberg

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JISOO

Minha mente está uma bagunça tão grande nos últimos dias que eu ainda não consegui organizar tudo, ou talvez eu esteja apenas com medo de descobrir a verdade. 

Pego a foto com meus pais e Irene, quando ainda éramos crianças, e fico encarando sem saber exatamente o que deduzir de tudo que vem acontecendo. Meus pais são empresários corruptos que desviaram dinheiro público, não se sabe para quê, e que foi o motivo de ter causado a morte de tantas pessoas? Pelo o que a imprensa está divulgando e investigando, sim, é o que tudo indica. 

Se eles foram capazes disso, quais as chances deles estarem incriminando Jennie? Qual a relação deles com Seungri? 

Fico revirando minha mente em busca de lembranças ou qualquer indício que demonstrava o tipo de caráter que meus pais tem, ou melhor, a falta dele, e como eles são tão sem escrúpulos, mas eles souberam esconder e disfarçar tudo muito bem. 

Exceto pelo fato deles sempre parecerem não se importar com muitas coisas ou de soarem falsos em certos momentos, ainda é meio inacreditável que eles sejam esses monstros sem empatia que não se importam com limites quando se trata de conseguir o que eles quiserem. 

O celular toca e eu vejo o nome de Sehun na tela. 

- Sim? - franzo as sobrancelhas. 

- Jisoo - o tom dele é cuidadoso - Precisamos esvaziar a sala que pertencia a Haein e quero saber se você quer vir buscar as coisas que eram dele. 

- Eu... - respiro fundo - Sim, estou indo. - finalizo a ligação e jogo a foto em cima da mesinha ao lado da cama. 


Fico olhando pela janela do carro enquanto Bobby dirige. O silêncio às vezes é o pior inimigo da nossa mente, porque me faz pensar em coisas que não quero. Parte de mim fica feliz por Sehun ter ligado e ter surgido algo para fazer, quem sabe assim eu consiga me distrair um pouco do caos que minha vida se tornou. 

Bobby resolve ficar no carro e pede para eu avisa-lo caso precise de ajuda para descer com as coisas, apenas aceno com a cabeça e sigo para o elevador, apertando o botão com o andar da sala que pertencia a meu Haein. 

Pisco algumas vezes para dispersar as lágrimas assim que a caixa de metal para no andar solicitado. As portas se abrem e vejo Sehun encostado na parede, com algumas caixas próximas a seus pés. Ele me dá um sorriso triste e se abaixa para pegar as caixas conforme me aproximo. 

O advogado abre a porta e assim que entro na sala, o cheiro de Haein inunda meus sentidos, fazendo meus olhos arderem mais quando vejo o paletó em sua cadeira. Automaticamente, me aproximo da mesa e o pego, vestindo-o em seguida e, por um breve momento, eu sinto aquele conforto e segurança que Haein me transmitia. 

- Jisoo, vou colocar a caixa aqui em cima da cadeira e você vai pegando as coisas da mesa dele, enquanto vou pegando o que estiver nos armários. - Sehun diz de maneira gentil. Pego o porta-retratos com uma foto da última vez que viajamos juntos e meu coração se aperta de saudade. 

Balanço a cabeça para tentar dissipar tantas lembranças e abro as gavetas, colocando as coisas dentro da caixa sem nem prestar atenção no que estou fazendo, até que há uma gaveta com duas trancas e eu não encontrei chave para abri-la. 

- Ei, Sehun, há uma gaveta trancada aqui, mas não encontrei nenhuma chave. - faço beicinho e ele ri enquanto se aproxima, tirando um molho de chaves do bolso. 

- Essas são as cópias de todas as chaves do escritório, uma delas tem de servir. 

- O que Haein precisava guardar que era tão importante? Contratos? - fico observando Sehun tentar abrir a gaveta com várias chaves diferentes. 

- Eu não sei, mas nas últimas semanas antes do acidente, ele estava agindo estranho aqui no escritório. - o advogado dá de ombros. 

- Como assim? Eu não notei nada diferente nele. - encaro Sehun enquanto tento me lembrar de algo diferente no comportamento de Haein. 

- Ele estava agitado, parecia procurar por algo. Eu cheguei a questionar o que estava acontecendo, mas ele só me disse que estava investigando algo e que estava perto de conseguir o que precisava. - o moreno suspira e ouço o "click" do destrancar de uma das travas - Estranho, a outra trava parece que foi quebrada. 

- Mas não tem sinal de arrombamento. - aponto para a gaveta em perfeita condição assim que Sehun a abre, revelando apenas que ela está completamente vazia. 

- Nada disso está fazendo sentido. - Sehun e eu estamos encarando a gaveta aberta. Ele retira a gaveta para analisar melhor e aponta com o dedo para uma leve arranhadura na parte de dentro da gaveta, próxima da outra tranca - Veja, a fechadura foi trocada, quem mexeu aqui conseguiu abrir só uma, quebrou a outra e ainda teve a capacidade de trocar para não deixar suspeitas.

- Todo mundo tem uma vida dupla agora? Isso é ridículo, já não basta meus pais, agora descubro que meu marido também estava todo misterioso enquanto eu não sabia de nada. - digo irritada e nem sei porque estou me sentindo assim. 

- Como assim seus pais? - o advogado se vira para mim, claramente confuso. 

- Você não viu os jornais? Meus pais estão sendo investigados de desviar dinheiro público da manutenção das linhas de metrô, o que causou aquele trágico acidente. - Sehun abre e fecha a boca várias vezes ao me ouvir, mas não diz nada - É, bem-vindo ao meu novo mundo, com pais corruptos e talvez um marido que estava envolvido nesse esquema. 

- Não, Jisoo, você está louca? Haein nunca se envolveria nisso, ele era muito honesto e nós dois sabemos disso. 

- Eu não sei mais, Sehun, eu não sei no que acreditar. - puxo a caixa da cadeira e me sento - Tudo que eu achava que era de um jeito, estou descobrindo ser de outro. 

- Jisoo, quando Haein viajou, ele teria uma reunião com seus pais em um daqueles dias. - o advogado diz depois de alguns minutos. 

- Não, meus pais estavam no Japão, bem distante daqui. - dou de ombros. 

- Eu tenho certeza, estava na agenda de Haein, uma reunião com seu pai no início do dia que ele deveria voltar para cá. - Sehun diz em um tom firme e convicto, me fazendo erguer uma sobrancelha. 

- O que você quer dizer? - semicerro meus olhos para ele. 

- Acho que estamos na ponta de um iceberg. - o advogado me encara. 




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Acidental - JensooOnde histórias criam vida. Descubra agora