Um peão derrubado

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JISOO

Acabamos todos pegando no sono em algum lugar da sala de Sehun. Abro os olhos devagar e pisco algumas vezes, me espreguiçando e sentindo meu pescoço um pouco dolorido.

O advogado está dormindo em sua cadeira e há várias pastas abertas sob sua mesa, Kai está dormindo em uma das poltronas perto de onde estou e pela posição que ele está, acho que vai acordar todo dolorido.

Eu me sinto fora de mim ao repassar tudo que aconteceu ontem. Como se tudo fosse um sonho e eu estivesse assistindo, não participando. Não parece real.

Me assusto quando ouço vários dos telefones do escritório começarem a tocar, um após o outro, com pouca diferença de segundos entre as ligações. Sehun acorda assustado, passando a mão no rosto e pega seu celular. 

O barulho infernal de tantos toques telefônicos faz uma pontada de dor em minha cabeça e estou impressionada que Kai apenas se remexeu, resmungando algo, mas não acordou. 

Olho no relógio e já são 11 da manhã. Acho que perdemos a noção do tempo. Fico observando Sehun se levantar, as sobrancelhas franzidas. Ele pega o controle da TV e se aproxima de mim, ainda falando no telefone, e liga a tela. 

Estou tão chocada com a imagem que vejo que nem me dou conta do momento em que Sehun finalizou a ligação, os barulhos dos telefones continuam, mas estamos ambos encarando a TV. 

Meu pai está saindo algemado da casa que estávamos há poucas horas atrás e há dezenas de pessoas, repórteres e câmeras ao redor dele enquanto ele é levado para o carro da polícia. Minha garganta se fecha e meus olhos ardem. 

- Parece que foi vazado um vídeo de seu pai atirando em Seungri. - a voz do advogado se faz presente - Jennie está livre das acusações, mas agora... 

- Meu pai é o culpado. - digo com dificuldade e pisco algumas vezes, tentando afastar as lágrimas. 

- Sooya... - sinto os braços de Sehun a minha volta e o abraço com força. Fecho os olhos, repassando em minha mente as memórias felizes de quando meu pai levava Irene e eu para brincarmos. Não é possível que aquele homem carinhoso é um assassino a sangue frio. - Olhe, é Soojoo! 

Me afasto de Sehun e olho para a TV novamente. As imagens são de alguma das câmeras de segurança do restaurante de Jennie. Seungri está tentando agarrar Soojoo a força e começo a chorar novamente. Pouco depois, meus pais aparecem, há algum tipo de diálogo curto que parece irritar Seungri, pois ele avança contra eles e meu pai atira em Seungri. 

- Isso é legítima defesa. - Sehun diz pensativo, com os braços ainda em volta de mim e eu volto a olhar para ele. 

- Isso significa que ele não vai ser preso? - suspiro, tentando respirar fundo e acalmar a agitação dentro da minha mente. 

- Ele incriminou outra pessoa, então não tenho certeza sobre isso. - Sehun me encara e apoia as mãos em meus ombros. 

- O que está acontecendo? - Kai diz em um tom sonolento. 

- Meu pai matou Seungri. - minha voz fica embargada novamente e Sehun me abraça de novo, acariciando minhas costas. 

- Tudo vai se ajeitar, Soo, vamos ser otimistas. - ele diz baixinho e eu respiro fundo. 

- Obrigada, eu não sei o qu... - paro de dizer ao ouvir a porta se abrir abruptamente. Jennie e Rosé entram na sala, fazendo eu me afastar de Sehun com o susto e Jennie franze as sobrancelhas.

- JenJen! - Kai se levanta - Como é bom ver você, agora livre de acusações e perseguições. - ele vai até ela e a abraça.

- Jisoo, como você está? - Rosé se aproxima de mim, me abraçando com força e eu retribuo o abraço na mesma intensidade. 

- Eu não sei, feliz por um lado e triste por outro. - digo baixinho, tentando não chorar novamente. 

- Você já falou com sua mãe? - ela se afasta um pouco, apoiando as mãos em meu rosto e enxugando minhas lágrimas. Nego com a cabeça e faço beicinho. - Seria bom mostrar algum apoio, não? 

Pego o celular em meu bolso, discando o número dela e aproximo o telefone do ouvido, a mensagem avisando que o celular dela está desligado. Franzo as sobrancelhas e me lembro de algo que Sehun e eu conversamos antes. A peça mais importante do xadrez é a rainha. 

- Alguém viu minha mãe em uma das imagens do momento em que prenderam meu pai? - olho entre Rosé e Sehun. 

- Não. - eles dizem em sintonia. Pego a pasta que estava lendo antes de cair no sono, folheando rapidamente até encontrar as anotações feitas a mão. É a letra da minha mãe. Engulo em seco e jogo a pasta sob a mesa. 

- Quem poderia ter vazado esse vídeo? - olho para eles e meu olhar para em Jennie que está com um olhar nada amistoso. 

- Eu. - a garota com olhos de gato dá de ombro. 

- Jennie - me aproximo dela e coloco as mãos em seu rosto. Ela franze as sobrancelhas em completa confusão - Há alguma chance de minha mãe desconfiar de você? 

- Não faço ideia, mas nunca se sabe, por que? 

- Porque eu tenho medo do que ela pode fazer. - suspiro e acaricio as bochechas dela. Só agora estou me dando conta do quanto senti a falta dela durante todo esse tempo distante. 

- Seu pai já foi preso, não temos com o que nos preocupar. - Rosé diz e eu respiro fundo, soltando o rosto de Jennie e me virando para Rosé. 

- Nós focamos na pessoa errada, quem manda em tudo nunca foi meu pai, ele é só mais um peão no tabuleiro de jogo. - olho para cada um deles, deixando meu olhar em Jennie - É minha mãe a mandante e responsável por tudo que aconteceu. 

Acidental - JensooOnde histórias criam vida. Descubra agora