setenta e oito.

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Marília POV

[1 semana depois]

A Maraisa saia hoje dos cuidados intensivos e ia voltar para o quarto, finalmente. Eu estava em casa, a preparar as minhas coisas, para passar os dias com ela no hospital.

Na mala, além de roupa, levava alguns livros para ler. Levava também a foto que os nossos filhos me tinham dado no primeiro dia, para pôr na cabeceira dela.

Quando cheguei ao hospital, de manhã cedo, disseram-me o quarto em que ela ia ficar, e para entrar, que a Maraisa não ia demorar muito.

Assim fiz, entrei e sentei-me numa das poltronas.

Cristiano: Bom dia, Marília

Marília: Bom dia, doutor - levantei-me - como é que ela está?

Cristiano: Na mesma - baixou o olhar - Marília, cada dia que ela passa assim, a probabilidade de ela não voltar é maior - eu neguei com a cabeça - eu lamento

Marilia: Não desista dela, por favor - a minha voz soou em súplica

Cristiano: Não desistimos - falou sério - eu não desisto dos meus pacientes, mas eu preciso de ser realista consigo - algumas lágrimas começaram a cair dos meus olhos - Marília, eu não vou desistir da Maraisa - segurou os meus ombros - tenha sempre essa certeza

Marília: Obrigada - sorri entre lágrimas

Eu sabia o que ele me estava a dizer, ele queria que eu me preparasse para não a ter mais, para a hipótese de a Maraisa não acordar e não voltar. Mas eu recusava-me a que isso acontecesse, eu não sabia viver num mundo sem a minha mulher.

Pouco tempo depois, ela chegou na maca, e foi transferida para a cama. O médico estava a supervisionar tudo.

Cristiano: Eu volto mais tarde, para a ver - falou na minha direção

Marília: Obrigada - sorri de canto

Depois de ele sair, aproximei-me da cama, e dei-lhe um beijo na testa.

Marília: Olá, meu amor - falei no ouvido dela e deitei-me ao lado dela na cama - não achas que já dormiste tempo suficiente? Está na hora de reagires, de me dares um sinal, sua dorminhoca - olhei para ela e toquei na cara dela - eu sei que estás numa grande luta aí dentro, mas eu preciso de ti - deitei a minha cabeça ao lado da dela - sinto falta dos teus carinhos, do teu riso, desses olhos grandes e lindos, sinto falta do teu abraço, do teu cheirinho... - nessa hora já chorava muito - sinto tanto a tua falta, meu amor - fiz alguns carinhos na cara dela - eu sei que te disse isto muitas vezes, mas não me canso de te dizer que és o amor da minha vida, a minha princesa morena... Abre os olhos amor, por favor - implorei no choro

Senti-me abraçada, e percebi que era a Maria.

Maria: Oh mãe, custa-me tanto ver-te assim - falou enquanto eu chorava no peito dela depois de me levantar

Marília: Ela tem de reagir, eu não aguento perdê-la. Temos tanta coisa para viver ainda

Maria: Eu sei mãe, eu sei

Ela consolou-me durante vários minutos, até que o meu choro acalmou.

Marília: Como é que entraste?

Maria: Esqueceste-te dos teus documentos no carro, vim entregar-te a carteira e deixaram-me entrar

Marília: Obrigada, filha - sorri de canto

Maria: Estamos juntas - deu-me um beijo na testa com os olhos cheios de lágrimas - custa-me deixar-te assim, mas não posso ficar mais tempo, se não sair, alguém me vai arrastar daqui

Intenção 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora