Introdução

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Eu não consigo me lembrar da onde eu estava quando ouvi sobre a morte de Proof. Eu nunca senti tanta dor em toda a minha vida.É uma dor que carrego comigo até hoje. Uma dor que se tornou parte de quem eu sou. Eu entrei no meu carro as 7 horas da manhã para ver o Proof no hospital e ele estava deitado. Foi o pior dia da minha vida. Eu me lembro de pensar "O Proof não. O Proof não. O Proof não". Proof era meu apoio sabe? A sua morte me deixou de joelhos. Eu tive morte na minha família antes - dois tios meus cometeram suicídio - e levaram parte da minha vida também Todos ja tiveram alguém que se foi e que significava o mundo para eles.

Eu não estava no clube quando Proof foi baleado, mas percebo que o incidente foi um grande mal entendido que saiu do controle. Eu tento ficar longe de lugares assim, mas Proof era um cara muito normal. Ele ainda andava pela vizinhança mesmo depois de seu sucesso, e esse tipo de sucesso no bairro pode trazer problemas com ciumes. Eu queria que a briga tivesse terminado apenas nos punhos. Mas a coisa cresceu, e Proof levou tiro. Proof tinha uma personalidade forte. Ele não se intimidava. Ele era um cara engraçado, não era gangsta todo o tempo. Ele tinha um lado bobo, assim como todos nós do D12. Esse era um cara, que quando eu não tinha dinheiro algum, veio a minha casa e me fez jogar fora uns tênis que minha mãe tinha comprado no brechó pra mim. Nós dois calçávamos 42. Ele veio um dia e falou "Que porra é essa nos seus pés?". Depois ele me deu um par de Nikes, que eram praticamente novos. Foi um daqueles momentos que me deu vontade de chorar.

Assim como todos os amigos, Proof e eu também tínhamos nossos altos e baixos momentos. Na estrada ficávamos juntos 24 horas por dia, e quando voltávamos para Detroit, tirávamos um tempo de folga um do outro. Porque, você sabe, eu posso ser muito enjoado assim como todo mundo. Se ficávamos sem nos ver por um tempo nós pelo menos nos falávamos durante a semana pelo telefone. Nós dois nos tornamos homens de família, e eramos ocupados com nossos filhos.

Depois que ele morreu, demorou um ano até que pude fazer algo normal de novo. Era difícil pra mim sair da cama, tinha dias que eu nem queria andar, quanto mais escrever uma rima. Quando tentava reunir meus pensamentos - bem, eu não fazia sentido quando eu falava, então todos tentavam me manter longe da Tv e da imprensa. Meu cérebro estava disperso, especialmente nos primeiros meses apos sua morte. Só faz dois anos desde que ele partiu, e ainda é algo difícil pra mim. Agora, quando penso em sair de turnê me pergunto, quem vai ficar no palco comigo. Esta é a maior tragedia que imaginei que poderia acontecer comigo, a parte de algo acontecer com minhas filhas.

Proof interpretou um cara baleado em "Like Toy Soldiers". O cara sofre um tiro e vai para o hospital. O que eu queria com aquilo era dizer que são os rappers que se metem em briga, mas outros acabam se machucando com isso. Não muito depois daquilo, infelizmente se tonou real. No ano depois de sua morte, eu ficava olhando pro teto pensando nesse vídeo. Foi o karma quem fez isso acontecer na vida real? Foi eu? Você sempre quer arrumar um culpado quando algo assim acontece com você, sabe? Proof era a chave para o meu jogo. Ele era o motivo que eu parei de ser um fracassado. Eu não vou cobrir o sol com a peneira - ele era o meu passe para fora do gueto. Eu não sei se as pessoas percebiam isso, mas é isso que eu estou dizendo agora.

Ele não tava nem ai de ser chamado de puxa saco de branco só por andar comigo. Ele aguentava as coisas por mim como se fôssemos verdadeiros irmãos de sangue. Antes de eu ser famoso, antes de ter alguma coisa, Kim e eu vivíamos no barracão da mãe dela porque não tínhamos mais para onde ir. Se Proof não tivesse me tirado de lá, se ele não tivesse me arrastado para ir ao Hip-Hop Shop e entrar no jogo do rap, não sei onde eu estaria hoje. Certamente você não teria ouvido falar de mim. Ele era um homem brilhante, que viu coisas em mim que eu mesmo não tinha visto, e eu acho que eu era esperto o suficiente para saber que aquele era o homem que podia salvar a minha vida. Eu estava no fundo do poço por muito tempo. Proof foi um verdadeiro guia no hip-hop, um verdadeiro irmão de uma outra mãe. Ele tinha essa habilidade não só de nutrir meu talento, mas de ver um diamante no carvão enquanto milhões de pessoas olhavam para a mesma coisa e nada viam.

Não é como se Proof não tivesse eu próprio talento para cuidar. Proof era um cara no hip-hop que ninguém mexia. Freestyling, em batalhas.. ninguém mexia com ele. Ele costumava ir comigo as rádios - na sexta a noite onde tinha o microfone aberto em Detroit. Isso quando eu estava no meu primeiro grupo chamado Bassmint Productions. Nós tínhamos uma música com o Proof e cantamos ela ao vivo, e Proof não tinha decorado seu verso ainda. Ele só lembrava das primeiras quatro linhas, e dai ele começou a fazer um freestyle. Você nem percebia que ele tinha errado, porque ele era muito bom naquilo. Esse era o dom de Proof, conseguir fazer um freestyle assim.

Proof controlava toda a cena de hip-hop na Motor City no final dos anos 90. Ele era um cara com dreads que todos em Detroit conheciam. E todo juravam que ele era o primeiro a conseguir ficar famoso em Detroit.

Eu me lembro de ver Treach e Vinnie de Naughty by Nature no funeral dele. Eu agradeci eles por terem comparecido, mas depois pensei, 'wow, porque eu agradeci eles? Eles estavam aqui por ele - não por mim'. Assim como todos estavam. Eu olhava para o cenário e via que aquele era meu melhor amigo, alguns estavam lá para me dar apoio, mas obviamente ele tinha suas próprias relações. As pessoas gostavam dele-amavam ele. Então eu perdi o meu melhor amigo, mas eu garanto a vocês que algumas pessoas diriam: "É, bem Proof era meu melhor amigo também". Mas com Proof e eu o sentimento era mútuo. Por isso que eu digo: "Aquele era meu melhor amigo; e eu era seu melhor amigo".

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