Há alguns meses, você havia embarcado na loucura de dar palestras sobre "mães no business". Porém, sendo dona de uma grife em ascensão e ex-esposa de quem você era, as palestras tomaram uma proporção acima do esperado.
- Eu quero que vocês imaginem um mundo onde os homens fazem o nosso trabalho. - Sua voz ecoou pelo teatro, graças ao microfone colado em sua bochecha. - Eles engravidam, passam pelo trabalho de parto, amamentam durante horas e são eles que ouvem pessoas perguntando onde está o seu bebê, quando você só o deixou com uma pessoa de confiança por dez minutos e foi tomar um café.
Algumas falas desconexas preencheram o ambiente junto a risos nasais. Você sorriu, simpática e encarou seu iPad na mesinha de apoio, para checar o seu próximo tópico.
Vagando o olhar pela plateia, você pôde ver algumas pessoas anotando pontos importantes. Mulheres com feições concentradas, alguns homens compadecidos com a sua última fala, enquanto outros pareciam estar ali apenas por obrigação ou coisa do tipo.
- A verdade é que nós não somos o sexo frágil desta merda. É por nossa causa que o mundo existe. - Seus ombros subiram e desceram brevemente, ouvindo alguns risos fracos e vendo as cabeças acenarem positivamente. - Então, pessoal, é mais do que possível mães terem seus próprios negócios, viverem sem ser a sombra dos seus filhos e serem apenas... donas de suas vidas. - Você soltou um riso nasal, ouvindo os aplausos das pessoas. - Agora é a hora que vocês me fazem perguntas.
Seu anúncio fez um burburinho término início. Na maioria das vezes as perguntas eram sobre como você lidava com situações da maternidade ou como planejava as peças para cada coleção da sua marca, às vezes um ou outro questionava sobre como você era vista nos grandes eventos, divorciada de uma mulher e tendo uma filha pequena, ou se queria ter mais filhos.
Hoje, em específico, você tinha alguns jornalistas lhe assistindo. Então, era praticamente impossível que o nome de Hailee Steinfeld não surgisse, por meio daquelas pessoas curiosas e sedentas por uma fofoca.
- Sem alvoroço, pessoal. - Você pediu gentilmente, assistindo duas moças da produção se posicionarem em cada ponta do palco, na parte inferior. - Essas são Julie e Kelly. - Apresentou as garotas, que acenaram. - Vamos fazer igual na escola. Quem tiver uma pergunta levanta a mão, e uma delas irá levar o microfone até quem eu escolher. Combinado? - Um coro de respostas positivas foi ouvido e você sorriu. - Vamos começar!
Algumas mãos foram erguidas e você analisou suas opções, antes de escolher um rapaz ruivo. Ele sorriu simpaticamente e segurou o microfone que Kelly o entregou.
- Boa noite, senhorita (s/s). - O homem cumprimentou-a educado, recebendo um aceno seu. - Eu gostaria de saber como faz para criar coleções tão icônicas, a cada estação da moda... como funciona seu processo criativo?
- Muito obrigada pelo elogio... - Você esperou que ele lhe dissesse seu nome.
- Julian. - O ruivo sorriu.
- Obrigada pelo seu elogio, Julian. Bom, eu geralmente me sento em um lugar confortável e que me inspire. Normalmente é o meu ateliê ou o meu quarto, ambos têm uma vista incrível. Passo algumas horas por ali, apenas desenhando o que dá na telha.
Após pensar mais um pouco sobre o seu processo criativo, você resolveu concluir.
- É, em teoria é isso. Depois, eu escolho o que combina... com o momento da marca, com a estação, com o que está em alta e arrisco coisas do meu gosto, claro. É assim que surgem as minhas coleções. - Julian assentiu e entregou o microfone para Kelly novamente.
Uma moça morena, vestida com um sobretudo vermelho que lhe chamou a atenção, foi a segunda escolhida.
- Boa noite, me chamo Rosa. - Ela se apresentou, lhe fazendo sorrir brevemente. - Eu tenho dois filhos. Um menino de oito anos e uma menina de cinco.