- Eu acho que essa viagem foi uma ótima ideia. - Sua mãe sorriu e te cutucou com o cotovelo. Vocês haviam acabado de entrar no elevador do resort, desejando chegar em seus quartos.
- O quê? - Você balançou a cabeça e a encarou. A mais velha arqueou uma sobrancelha e você tratou de concordar com o que ela falou, mesmo que não tivesse escutado. - Claro, mãe. - Você sorriu falso e ela suspirou.
- O que você acha de nós descansarmos e mais tarde jantarmos na casa da sua avó? - Ela propôs e você assentiu.
Sua mãe morava em outra cidade, com o seu padrasto, então via a família esporadicamente, mais que você obviamente, mas menos do que ela gostaria. Há quinze dias, a mais velha havia ido te visitar em Miami e acabou te arrastando para o Brasil na volta. Agora, vocês estavam na sua cidade natal, animadas para ver a família toda.
- Por mim, tudo bem. Nós podemos chamar a Sarah? - Seu pedido saiu quase como um choramingo. Você veria sua melhor amiga de qualquer forma, mas uniria o útil ao agradável se ela fosse ao tal jantar.
- Claro, eu falo com ela. - A mais velha declarou com um sorriso fraco. - Descanse, querida. Você anda muito avoada, acho que é o jet lag. - Ela apertou seu ombro e saltou no andar dela, te deixando na caixa de metal.
Você suspirou profundamente, não estava no seu melhor estado mental. Além de ter trabalhado muito no último mês, você carregava um segredo que pesava uma tonelada em suas costas. Um segredo que somente sua melhor amiga, Sarah, sabia.
Seus pais haviam se separado quando você era apenas uma criança. E você se tornou mais uma "filha de mãe solo" no mundo, já que a última coisa que seu pai apreciava era manter contato com você. Mas se sentia sortuda por crescer em uma família que esteve ao seu lado em todos os momentos.
Apesar de amar sua família, que se resumia aos seus avós, sua mãe e suas três tias, você sabia que eles não eram lá as pessoas mais amáveis em relação a pessoas fora do padrão. Ser uma garota pansexual em uma família religiosa era um fardo que você carregava.
Durante muitos anos, aquilo não era um problema, considerando que o seu único relacionamento sério acabou por ser com um garoto. Você não se importava de manter sua sexualidade em segredo. Mas tudo mudou há cerca de um ano, quando uma mulher fisgou seu coração e você passou a se sentir sufocada toda vez que encontrava um membro da família.
Lauren era o tipo de garota que você gostaria de ser. Ela trabalhava com o que amava, vivia a vida sem ligar para as expectativas dos outros e tinha uma família que a apoiava em tudo e a amava acima de suas crenças. Ela era doce, sensível, compreensiva e foi impossível não cair de amores por ela.
Vocês se envolveram por meses, mas há duas semanas brigaram feio, decidiram dar um tempo, e isso estava consumindo os seus pensamentos e mexendo com o seu psicológico. Era uma relação fadada ao fracasso, mas Lauren não queria aceitar... você também não queria aceitar. Mas recusou todas as ligações feitas e as mensagens enviadas por ela, tentando uma reconciliação.
Lauren te amava tanto quanto você a amava, e estava disposta a te amar em segredo e te apoiar, até que o medo de ser rejeitada pela sua família não te aterrorizasse mais. Mas você não achava justo prendê-la a uma relação escondida, quando ela carregava em si toda liberdade do mundo.
Você adentrou o quarto que havia reservado apenas para você, o que foi obviamente questionado pela sua mãe, e você engabelou dizendo que Sarah iria se juntar a vocês, durante alguns dos quinze dias que passariam ali. Não era bem uma mentira, você realmente pretendia convencer sua melhor amiga a ficar por uns dias, mas não poderia dizer que estava de coração partido e queria chorar antes de dormir... não sem precisar contá-la sobre Lauren.