Capítulo 21

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             O que fazer quando tudo está fora de controle?  

             É difícil demais suprir minhas necessidades de pura vingança, aprendi a sentir raiva cedo demais. Faz muitos anos que tudo vem acontecendo e restou eu para botar um fim nisso, uma responsabilidade que não queria carregar.

             Peter mandou fingir normalidade num momento que tudo oque eu queria era guerra.

            Ter que sentar nesse banco de ônibus com cheiro de gasolina era arrepiante. Estava agarrada em minha mochila cheia de roupas, barras de chocolate e o diário de Sofia entre meus dedos. Permanecia aberto com uma folha arrancada, sem ler. Sentia repulsa das primeiras palavras e só queria poder esfaquear todos que a fizeram mal. Mas todos eles são apenas um, Peter.

             Não negar que haja uma chance de perdoá-lo e era nisso que eu estava agarrada todos esses anos. Mas não posso continuar pensando nisso e ler, porque a cada palavra digerida desse caderno eu voltava para a estaca zero: a ira.

            Li três linhas e já sentia-me anestesiada. As folhas que foram arrancadas por ele, meu "pai". Por que é tão difícil compreender?

"Brian disse que confiar em Tyler era mais confiável que nele mesmo. Disse que estava apenas a observando, era apenas o correio verbal de alguém, mas que nunca a machucaria."


— Rose. — Ouvi a voz de Caroline ao meu lado e tirei os fone me virando para ela que havia se sentado confortavelmente. — Trouxe chocolates escondido? Mike disse que te viu comer um mais cedo.

             Olhei calada para ela. Observando seu rabo de cavalo, uma calça com a estampa de exército e uma blusa de manga, branca.

— Te dou um e me deixa sozinha a viajem inteira. — Eu abri um sorriso e ela assentiu dando de ombros.

           Peguei uma barra de chocolate branco no bolso do lado da mochila e ela pegou cautelosamente, como se pegasse uma arma e escondeu por debaixo de sua camiseta branca, no cós da calça.

— Mike disse que vai substituir o lugar de Flynn nas falas da peça, já que ele não apareceu hoje. — Falou e assenti, desajeitada.

             Ela se levantou e se retirou, me deixando sozinha no banco.

             Flynn Miller, "fugiu novamente com alguma menina". Os pais dele não estão preocupados como deveriam estar, não é a primeira vez que o jogador número um da escola foge pra outra cidade por uns dias.

            Não é coincidência, eu o matei. Eu o matei e sei exatamente onde está enterrado. Lembro-me bem do monte de terra vermelha diante de meus pés, do sangue em minhas mãos e pernas. Mas porque eu estava quase nua?

             Não curto pessoas mortas.

             Dominik deveria ter me impedido, era pra isso que ele estava naquela festa comigo. Eu havia confiado minha sanidade numa pessoa que me deixou fugir e me permitiu tirar a vida de alguém. O que tenha acontecido naquela floresta, ficará por lá. Ninguém está o procurando, tenho tempo de pensar oque fazer antes de ir até lá queimar seu corpo.

              Fechei o diário de minha vó e o abracei, voltando a ouvir música. O tempo passou num fiasco de segundo. Nem me lembrava se realmente dormi ou apaguei de vez, talvez o movimento do ônibus me causava sono. Mas essas alavancas que estavam debaixo dos pneus me acordaram, talvez sejam pedras ou buracos.

               Me aconcheguei e abaixei minhas pernas, abrindo os olhos. Dominik dormia do meu lado, talvez tenha sentado aqui enquanto me permanecia apagada. Não havia o visto hoje, nem na escola e nem no veículo. Ele dormia profundamente, com os cabelos caídos por cima do rosto e o blusão ao lado da cabeça como apoio. Estava com os braços cruzados, as pernas abertas com uma calça preta e a camiseta preta com o desenho de uma borboleta branca, pelo menos um pedaço dela.

Últimas Pistas - Livro  3Onde histórias criam vida. Descubra agora