Capítulo 14

129 19 1
                                    


                    A chuva ainda não havia parado, com o céu escuro sombreando as ruas da cidade.

                    Estamos, os três, encostados na parede e em silêncio. Robert não disse mais nada, apenas ficou me encarando como se nunca tivesse me visto na vida. Dominik foi o primeiro a se levantar e passar as mãos na calça molhada, meio desajeitado e indefeso. Talvez até impaciente.

                   Passei as mãos em meu rosto e tirei o cabelo molhado de minha pele, grudados, o jogando para trás. Dominik me olhou com dúvidas, ergueu a cabeça me chamando e fui até ele, caminhando para a beira da rua. Entre as duas paredes e ainda nos protegendo da água caindo sobre o cimento escuro do chão.

                  Ele parecia impaciente e preocupado, olhei para Robert que ainda sorria freneticamente, talvez pela reação assustada de Dominik.

— Vai me explicar oque está acontecendo aqui? — Perguntou baixo, mesmo com o som alto da chuva e senti o cheiro sem nenhuma fragrância dele em minha narina e me vislumbrei com algo em mim que não gostei um pouco. — Como seu tio morto está vivo? Como ele sabe sobre meu pai?

— Eu sei dele faz uns dois anos, o resto pergunte a ele. —  Falei calma. — Não te devo nenhuma explicação.

— Não me parece uma boa pessoa. — Falou sacudindo os ombros como se estivesse sentindo calafrios e o olhei curiosa.

— Eu não sou uma boa pessoa. — Disse. — Melhor ir embora e mantenha a boca fechada.

— Está falando do seu tio ou do beijo? —Perguntou abrindo um sorriso e revirei os olhos impaciente.

             Não havia me tocado no segundo que passou. Peter o mataria se souber que me tocou daquela maneira. Na verdade, eu o mataria e não sei porque ainda não fiz. Deixei Dominik me beijar, deixei ele se aproximar. Eu estava buscando refúgio o lugar errado, sentia isso. Havia alguma coisa nele e eu pretendia descobrir oque era.

               Estava ventando em meio a tempestade, a chuva ainda  nos molhava. Dominik estava com o cabelo encharcado pela água assim como sua roupa, grudando no corpo. Pela segunda vez tive a sensação do beijo e me senti estranha, como se meu estômago estivesse revirando.

              Era um mal sinal? 

              Tudo oque aprendi sobre meninos era como me distanciar deles o mais rápido possível, lembro-me da voz de Peter sobre isso, então porque não me afasto? Me parecia tão simples, dizer "não" e ir embora. Algo tão comum de dizer, mas parecia impossível demais.

— Se quer viver, dos dois. —  Falei rapidamente.

— Não tenho para quem dizer. — Deu de ombros. — Eu vou pra casa, tome cuidado com ele. 

— Ele é meu tio, você que precisa de cuidado daqui pra frente. Peter pode estar te vigiando. —  Eu falei e o mesmo me olhou com o sorriso meia lua.

— Vou correr o risco. — Disse e assentiu se virando e entrando na chuva, correndo e sumindo na tempestade. 

                  Ele não sabia o quão idiota estava sendo. Sem mim, Peter já teria o degolado a muito tempo.

                 Respirei fundo e me virei para Robert, mas ele já estava em frente assim que meu corpo deu a meia volta. Assustada eu o encarei com raiva, mas ele simplesmente sorriu de lado. Sabia que Peter estava o vigiando e mesmo assim aparecia o tempo todo.

                  Eu o protejo a tanto tempo que por um segundo acho que ele nem corre mais perigo. Era a mesma desculpa todos os dias ao vê-lo, chegar em casa e contar a Peter. Nunca contei todos os detalhes, mas sempre dizia a verdade. De alguma maneira meu avô sabia exatamente como tirar ela de mim. E agora, estar o vendo em dias dessa maneira estava causando efeito em nosso plano de descobrir sobre Jhon antes de Peter e saber oque ele esconde, antes de arrancar sua cabeça.

Últimas Pistas - Livro  3Onde histórias criam vida. Descubra agora