Levi e Petra - Antes de você partir

A primeira vez que escolhi você

PASSADO

        Raios tímidos de sol entram pelas frestas da janela do pequeno quarto, anunciando a chegada de um novo dia e mais uma vez Levi seria o primeiro a testemunhar, pois como de costume, não conseguira pegar no sono pela madrugada. Aquele, entretanto, não seria um dia qualquer, era seu primeiro dia exercendo sua nova patente, pois em apenas um ano na tropa de exploração, havia se tornado o mais novo capitão da história, com apenas 24 anos. Com a promoção, veio a responsabilidade de escolher seu próprio time de subordinados, que viria a se tornar o esquadrão de elite do Reconhecimento.

        Como em toda manhã, ele se levantou, arrumou metodicamente sua cama, varreu o quarto já limpo e tirou os finos resquícios de pó da sua pequena mesa, que se acumularam ali desde a última faxina, realizada na noite anterior. Após se sentir satisfeito com a sua arrumação, fez sua higiene matinal e colocou seu uniforme perfeitamente passado para aí sim, começar a lidar com as obrigações do dia.

Às seis horas em ponto, o mais novo capitão já estava diante da porta de Erwin, para receber as ordens do comandante.

- Entre, Levi. Pontual como sempre! - exclamou o comandante já arrumado, com um sorriso. Desde aquele dia, em que Levi decidiu que o seguiria pelo resto da vida, eles haviam se transformado em grandes amigos, dentro dos limites que o mais baixo conseguia se relacionar com outras pessoas. - Ansioso para escolher seu time? Os candidatos já estão lá fora se preparando para o teste – disse Erwin pegando uns papéis sobre a mesa e se dirigindo para a porta.

- Vamos ver se houve algum maluco que escolheu se candidatar para essa tarefa – disse ele, desacreditando que teriam mais do que dois candidatos dispostos a ingressar para o seu time. Na concepção de Levi, o restante da tropa, tirando Erwin e a doida por titãs da capitã Hange, não simpatizava com ele, apenas o temia. Mas isso não o incomodava, pois após sofrer tantas perdas em sua ainda tão breve vida, ele não tinha mais a mínima pretensão de ser querido e muito menos de criar laços.

- Você vai ficar surpreso de ver com quantos malucos se faz o Reconhecimento – disse Erwin com um sorriso ao chegar no pátio e ver que praticamente todos os novatos da tropa haviam se candidatado, e até mesmo alguns veteranos. - O que foi que você disse antes mesmo? - cutucou o ombro do baixinho surpreso, com ar de quem sabe mais.

        Levi jamais imaginara que todas aquelas pessoas gostariam de estar em seu time, pois apesar dos olhares impressionados que recebia toda vez que estava em combate, os outros membros tinham medo até mesmo de chegar perto dele. Mas não deu um segundo para que ele tirasse a surpresa do rosto e assumisse sua expressão usual de quem nunca está impressionado com nada.

- Atenção pessoal, como vocês sabem, o nosso mais novo capitão, Levi, irá escolher quatro de vocês para o seu time. Iremos começar agora os testes! Dediquem seus corações, soldados!

       E assim, Erwin deu a largada para que começassem o combate simulado, em que, divididos em grupos de quatro pessoas, os candidatos deviam encontrar os titãs de madeira dispostos pela floresta e tentar ser a primeira equipe a cortar as nucas.

        Levi se posicionou em um bom ponto para assistir toda a disputa juntamente com Erwin, Hange, Mike e os demais capitães da tropa. De início, como esperado, os times formados por veteranos estavam em extrema vantagem sobre os novatos, mas a avaliação do capitão levava em consideração todos esses fatores. A primeira pessoa que se destacou aos seus olhos foi Eld Jinn, rapidamente o rapaz, que ingressara na tropa um ano antes que Levi, demonstrou ser um perfeito líder para sua equipe, realizando o primeiro abate. Em seguida, mais um veterano, um bobão na percepção do moreno até então, mas com muita habilidade com as lâminas, também atraiu a sua atenção. Oluo Bozado, anotou ele mentalmente, sem acreditar que estava considerando chamar alguém que mal consegue falar sem morder a própria língua.

       Por fim, quando ele já estava praticamente com a lista pronta em sua cabeça, uma cena lhe chamou a atenção. Um grupo de recrutas vinha em combate contra um grupo de veteranos para matar o último titã, quando um dos mais velhos, em um golpe sujo, cortou o DMT de um dos mais novos que estava se destacando muito, fazendo com que ele se chocasse contra um galho e ficasse pendurado, por um fio, a uma altura de 15 metros do chão. Levi se preparou para intervir, pois aquela queda poderia ser fatal, quando uma das novatas, de cabelos curtos e dourados, que já estava quase cortando a nuca do titã, recuou, para sua surpresa, e foi ao socorro do rapaz, não permitindo que ele caísse. A equipe de veteranos finalizou o combate com orgulho e todos se reuniram em volta do comandante e do capitão para saber o resultado.

- Então, Levi... Qual a sua escolha? - Perguntou Erwin curioso.

- Eld Jinn – disse ele primeiro, não surpreendendo ninguém - Oluo Bozado – continuou anunciando, agora gerando um murmurinho maior. - Gunther Schultz – o rapaz que quase caíra - e Petra Hal – anunciou por fim, chocando a todos. Por todos os lados se ouvia reclamações sobre a convocação dos dois novatos, que nem mesmo chegaram a cortar a nuca do titã.

      Levi indiferente, chamou os escolhidos para outro lugar e deixou para trás os eliminados indignados. Quando finalmente ficou a sós com eles, percebeu o quanto estavam alegres e animados, principalmente os dois novatos que pareciam não acreditar que aquilo estava acontecendo. Ele deu as instruções iniciais e levou os homens até o novo dormitório em que ficariam e depois partiu com Petra afim de direcioná-la ao dormitório feminino.

        No curto caminho ela não parava de agradecer pela oportunidade com os olhos brilhando, com uma animação tão intensa que o deixava até mesmo irritado. Porém, aquilo que ela fez, a escolha de deixar a competição de lado para ajudar um companheiro, o intrigou. Ela havia apresentado muita habilidade com o DMT para um recruta e estava a um passo de conseguir vencer a competição, sua hesitação não foi por não ser capaz de ganhar. Ela foi movida por outra coisa. Com isso em mente, ele parou na porta do dormitório, e antes que ela pudesse entrar, perguntou:

- Por que você fez aquilo? Deixou de vencer para ajudar alguém que mal conhece? - disse sem a fitar diretamente, apenas a observando pelo canto dos olhos.

- Porque ele é um companheiro, entre vencer uma disputa matando um titã de mentira e salvar a vida de um companheiro, acho que a escolha deveria ser óbvia, não? Não é esse o significado de entregar seu coração à humanidade? - respondeu assumindo uma expressão séria, mostrando que estava sendo completamente sincera. Apesar de não deixar transparecer, ele ficou impressionado com a resposta, a qual só confirmara aquilo que ele já imaginava no momento em que a escolheu.

- Esse vai ser o seu quarto. Apresente-se amanhã às seis em ponto. Não tolero atrasos – disse ele com o tom ríspido de costume.

- Pode deixar, capitão! Não decepcionarei o senhor! - disse ela firmemente, batendo continência. Ao entrar e fechar a porta, seu coração mal se aguentava de felicidade, foi logo escrever uma carta para contar a boa nova a sua família, ainda incrédula que seus esforços foram notados justamente por aquele que a inspirou a entrar na tropa de exploração.