A Voz que Ecoa no Vazio

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Demorou para que minha mente dispersa assimilasse o cenário como um fragmento de um devaneio difuso — um paralelo de luzes que se lançavam em diferentes direções

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Demorou para que minha mente dispersa assimilasse o cenário como um fragmento de um devaneio difuso — um paralelo de luzes que se lançavam em diferentes direções. Não sabia bem como funcionava os sonhos lúcidos e até onde seria capaz de controlá-lo com minha nula experiência nesse tipo de ocorrência onírica, porém contava com um pouco de sorte por ter lido vagamente sobre o assunto enquanto estudava com Eryna há um tempo, um conhecimento bastante útil que iria proporcionar uma vantagem para estabilizar minha consciência. A metade do que necessitava para que o efeito se acionasse, executei com bastante facilidade dada as condições menos propícias: estar alerta de que aquilo não era real e sim um produto do meu subconsciente que armazenava vagas lembranças e eventos captados durante o dia para criar o mais perto que conheceria de uma alucinação saudável. No entanto, tinha que me manter estável para prolongar esse domínio e não ser engolida pela influência da letargia em meu organismo.

Ao abrir meus olhos, reconheci o ambiente quase imediatamente, no mesmo segundo que uma melodia agitada, uma mistura de Indie rock com um pop rock bem anos 2000, se reproduziu e as pessoas ao meu redor gritavam extasiados pela emoção da música que escutavam com tanta devoção. Os corpos de chocavam uns contra os outros em agitação, acompanhando o som e cantando com todo fervor apaixonado junto do cantor. Esbarrando entre os entusiastas, reparei no aspecto físico do cantor no qual me parecia vagamente familiar: ele tinha o cabelo estilo moicano com a raiz preta e uma espécie de franja que cobria a metade direita de sua face e que fora tingida, no caso descolorida, em um branco tão perfeito que seria impossível ter uma mecha tão bem cuidada sem um extensivo tratamento.

Ele performava como qualquer artista na área e o seu timbre... Aquela sensação de se perder em um transe relaxante e reconfortante, simplesmente encontrava na voz dele. Seu talento era inegável, entretanto, quanto mais observavá-o, mais inquieta me sentia. Seus olhos prateados, seja por alguma lente ou efeitos de palco, emitiram um fulgor estranho — não tão assustador — que seguiam meus curtos passos pela multidão. De de repente, para meu alarde, ele cantou uma música estranhamente nostálgica e todas as pessoas ali reunidas para vê-lo seria mais um fonte, um disfarce.

Ele abriu um sorriso encantador que fez a plateia ir a loucura, principalmente o lado feminino que gritava eufórico. Seu enigmático olhar viajou para todos ali presentes, como se buscasse avidamente algo, até, por fim, repousarem em mim. Tive a impressão de estar sendo despida, que ele enxergava minha alma, tal qual descobrisse minhas debilidades.

— Eu vou te mostrar a verdade, espere por mim.

Arregalei os olhos quando, todos que supus ser um público humano, se transformou em uma hedionda horda de demônios.

Gritei a plenos pulmões com o susto fresco do sonho — um sobressalto tão abrupto que uma figura se irrompeu pelo quarto, sacando sua arma assinatura. Nero continuou firme com Blue Rose em mão e verificou o cômodo todo para garantir não ter um suposto invasor. Provavelmente o berro que exalei pela adrenalina do despertar, deve tê-lo colocado em modo de caçador. Tendo certeza que não havia nenhuma presença inimiga, Nero guardou a pistola no coldre e se voltou a mim e quase imediatamente virou o rosto constrangido.

A Canção do Pássaro de Asas PrateadasOnde histórias criam vida. Descubra agora