5: Retomada

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Já estava na hora de tirar a poeira da minha belezinha. Retiro o manto de cima da minha Ducati Superleggera V4. Passo a mão pelo seu tanque e o banco de couro. Desde o acidente, na última competição, eu a tampei e deixe guardada para quando tivesse coragem de usar novamente.

— Vamos colocar você para funcionar, minha bebê magnífica.

Coloquei gasolina e peguei o meu capacete. O arranhado do tombo ainda está aqui, para me lembra que a vida é uma só e o final pode ser apavorante às vezes. Escuto a porta do galpão ser aberta e quando me viro os olhos azuis me observam.

— Um dos seus funcionários me disse que estaria aqui.

— Estou pensando em aproveitar o meu momento de coragem.

— Parece que foi sério. Deve ter sido terrível.

— Não foi uma das piores coisa que já passei nessa vida, mas tenho que ter coragem.

— Estava pensado em sair? — Ela pegou dois dos meus outros capacetes.

— Não sei se consigo levar você na minha garupa.

— Eu sei que consegue, pelo menos aquele homem do iate conseguiria. — Deixei o capacete de lado e peguei um dos que estavam nas mãos de Emma. — Tenho uma roupa feminina, deve te caber.

— Já estou de roupas. — Ela deslizou a mão pelo corpo, de forma sensual.

— Não, sua bobinha. Essa belezinha pode chegar a 331 km/h. Mesmo eu sabendo que não vou passar dos noventa por hora.

— Noventa por hora? Não é uma velocidade muito alta.

— Também não é muito baixa.

— Podemos ir? — Ela colocou a capacete em cima do banco traseiro da moto e foi para fora do galpão. — Te espero em frente à casa.

Meus olhos a seguiram, até que ela virasse para entrar na mansão. Pego a minha roupa e coloco. Usar novamente aquela roupa é uma emoção desconcertante, além de me trazer lembranças que gostaria de ter esquecido, mas com elas vou me tornar mais forte.

— É bebê, parece que vamos nos unir novamente.

Visto a minha roupa e coloco as minhas luvas. Solto um suspiro antes de fechar a viseira do meu capacete. Ao ligar o motor, senti um frio percorrer pela minha barriga, o ronco da moto ecoou por todo o galpão. Apertei o botão no controle fixado na moto e os grandes portões se abriram, me dando liberdade para tentar mais uma vez.

Retiro os meus pés do chão e acelero até a entrada da casa. Emma estava encostada no corrimão, vestindo uma calça jeans colada, uma jaqueta de couro e botas de salto alto. Entreguei o capacete para ela e olhei para frente, evitando reparar em como Emma está tão bela. Quanto ela subiu na moto, abri viseira e olhei para trás.

— Segure-se em mim. Preciso ter certeza de que vai estar segura enquanto andamos.

— Tudo bem, senhor mandão.

Suas mãos entraram por baixo da minha blusa se cruzando em volta da minha cintura. Quando a senti totalmente segura, abaixei a viseira e acelerei para fora das minhas propriedades, entrando na avenida principal algumas pessoas que eu conhecia da minha época de motoqueiro saíram para fora de casa.

— Podemos passar em um lugar? — Espero que os microfones e as altos falantes estejam funcionando.

— Claro. Você é o meu guia.

— Só iremos até pista de corrida. É um passeio de bate e volta, se quiser posso te deixar no centro. Tem alguns comércios de artesanato e outras coisas locais.

— Para de inventar desculpa. Se não quiser me levar é só falar.

— Só não se assuste com o linguajar dos motoqueiros. Eles podem ser meio agressivos quando estão competindo.

— Você vai competir? — Quando a moto dá uma derrapada na pista, eu aperto o guidom com força e Emma aperta a minha cintura.

— Desculpe. Me esqueci como se pilota. Respondendo a sua pergunta, não vou participar. Pelo menos agora, mas estou pensando em competir na véspera do domingo de Páscoa.

— Acredita que estará pronto em sete dias?

— Acho que com um pouco de prática posso voltar a competir. Você estaria lá para me ver competir?

— Não sei, as coisas podem mudar muito até lá.

Ficamos em silêncio ouvindo apenas as respirações um do outro. Estaciono a moto na pista de corrida, junto com as outras. Eu conhecia os donos de cada uma das motos e sabia que nenhum deles eram páreo para ganhar de mim nas corridas.

— Parece que tem muita gente que gosta de uma competição nessa cidade. — Emma tirou o capacete e o colocou pendurado no retrovisor, junto com a jaqueta.

Quando me virei, encarei a bela mulher atrás de mim. Por baixo da jaqueta estava uma blusa regata de seda, seus mamilos não pareciam reagir ao tecido fino.

— Protetores. São ótimos para tarados como você.

— Não sou tarado. Eu olho, mas não toco.

— Quem toca é assediador. Quem olha com malícia é tarado.

— Então eu vou te prevenir dos olhares tarados dos meus amigos, mas vai ter que confiar em mim.

— Eu não acredito, que eu, uma mulher feminista, que defende a liberdade da mulheres no meus livros, vou ter que confiar em um cafajeste como você.

— É melhor ter apenas o meu olhar malicioso em cima de você do que o de vinte homens.

— Odeio homens, deveria ter ficar na cidade fazendo compras.

Caminhamos até as arquibancadas. Alguns dos meus antigos amigos conversam e bebem algumas cervejas. Alguns deles começaram a namorar no período que eu estava fora e recluso dentro da minha casa.

— Olha quem apareceu. — Mike se levantou e veio até mim, me dando um abraço apertado.

— O Pedro nos ligou falando que a Superleggera estava correndo novamente pelas ruas. É uma pena que ele tenha que cuidar dos filhos enquanto a mulher está viajando a trabalho. — Theo colocou o braço em torno do ombro da namorada.

— É uma sorte ela ter conseguido sair dessa ilha — disse a garota nos braços de Marck.

— Pessoal! — Puxo Emma para perto de mim. — Essa é a minha namorada, Emma.

— Nunca a vi por aqui — Marck falou, olhando discretamente Emma.

— Nos conhecemos pela internet. A Emma é de uma cidade do sudeste do país e veio passar alguns dias comigo.

Os olhares que antes estavam em Emma se desviaram para qualquer lugar que não fosse o corpo da mulher ao meu lado. Emma limpou a garganta e eu sabia que algo estava para acontecer.

— Qual de vocês é o melhor piloto? — Ela olhou para mim com um olhar amoroso. — Além do meu namorado, tive a chance de ver alguns vídeos dele competindo e ganhando de todos vocês.

— Eu sou o segundo melhor, depois do Luther — disse Matt se colocando de pé.

— Será que é melhor que eu? — Emma diz e a olho, espantado.

— Uma garota do sudeste quer competir contra mim? — Matt se aproximou de nós dois.

— Está com medo de perder? — ela diz confiante e eu empurro Matt pelo peito, para deixá-lo longe da Emma.

— Vamos para a pista.

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