Já estava na hora de tirar a poeira da minha belezinha. Retiro o manto de cima da minha Ducati Superleggera V4. Passo a mão pelo seu tanque e o banco de couro. Desde o acidente, na última competição, eu a tampei e deixe guardada para quando tivesse coragem de usar novamente.
— Vamos colocar você para funcionar, minha bebê magnífica.
Coloquei gasolina e peguei o meu capacete. O arranhado do tombo ainda está aqui, para me lembra que a vida é uma só e o final pode ser apavorante às vezes. Escuto a porta do galpão ser aberta e quando me viro os olhos azuis me observam.
— Um dos seus funcionários me disse que estaria aqui.
— Estou pensando em aproveitar o meu momento de coragem.
— Parece que foi sério. Deve ter sido terrível.
— Não foi uma das piores coisa que já passei nessa vida, mas tenho que ter coragem.
— Estava pensado em sair? — Ela pegou dois dos meus outros capacetes.
— Não sei se consigo levar você na minha garupa.
— Eu sei que consegue, pelo menos aquele homem do iate conseguiria. — Deixei o capacete de lado e peguei um dos que estavam nas mãos de Emma. — Tenho uma roupa feminina, deve te caber.
— Já estou de roupas. — Ela deslizou a mão pelo corpo, de forma sensual.
— Não, sua bobinha. Essa belezinha pode chegar a 331 km/h. Mesmo eu sabendo que não vou passar dos noventa por hora.
— Noventa por hora? Não é uma velocidade muito alta.
— Também não é muito baixa.
— Podemos ir? — Ela colocou a capacete em cima do banco traseiro da moto e foi para fora do galpão. — Te espero em frente à casa.
Meus olhos a seguiram, até que ela virasse para entrar na mansão. Pego a minha roupa e coloco. Usar novamente aquela roupa é uma emoção desconcertante, além de me trazer lembranças que gostaria de ter esquecido, mas com elas vou me tornar mais forte.
— É bebê, parece que vamos nos unir novamente.
Visto a minha roupa e coloco as minhas luvas. Solto um suspiro antes de fechar a viseira do meu capacete. Ao ligar o motor, senti um frio percorrer pela minha barriga, o ronco da moto ecoou por todo o galpão. Apertei o botão no controle fixado na moto e os grandes portões se abriram, me dando liberdade para tentar mais uma vez.
Retiro os meus pés do chão e acelero até a entrada da casa. Emma estava encostada no corrimão, vestindo uma calça jeans colada, uma jaqueta de couro e botas de salto alto. Entreguei o capacete para ela e olhei para frente, evitando reparar em como Emma está tão bela. Quanto ela subiu na moto, abri viseira e olhei para trás.
— Segure-se em mim. Preciso ter certeza de que vai estar segura enquanto andamos.
— Tudo bem, senhor mandão.
Suas mãos entraram por baixo da minha blusa se cruzando em volta da minha cintura. Quando a senti totalmente segura, abaixei a viseira e acelerei para fora das minhas propriedades, entrando na avenida principal algumas pessoas que eu conhecia da minha época de motoqueiro saíram para fora de casa.
— Podemos passar em um lugar? — Espero que os microfones e as altos falantes estejam funcionando.
— Claro. Você é o meu guia.
— Só iremos até pista de corrida. É um passeio de bate e volta, se quiser posso te deixar no centro. Tem alguns comércios de artesanato e outras coisas locais.
— Para de inventar desculpa. Se não quiser me levar é só falar.
— Só não se assuste com o linguajar dos motoqueiros. Eles podem ser meio agressivos quando estão competindo.
— Você vai competir? — Quando a moto dá uma derrapada na pista, eu aperto o guidom com força e Emma aperta a minha cintura.
— Desculpe. Me esqueci como se pilota. Respondendo a sua pergunta, não vou participar. Pelo menos agora, mas estou pensando em competir na véspera do domingo de Páscoa.
— Acredita que estará pronto em sete dias?
— Acho que com um pouco de prática posso voltar a competir. Você estaria lá para me ver competir?
— Não sei, as coisas podem mudar muito até lá.
Ficamos em silêncio ouvindo apenas as respirações um do outro. Estaciono a moto na pista de corrida, junto com as outras. Eu conhecia os donos de cada uma das motos e sabia que nenhum deles eram páreo para ganhar de mim nas corridas.
— Parece que tem muita gente que gosta de uma competição nessa cidade. — Emma tirou o capacete e o colocou pendurado no retrovisor, junto com a jaqueta.
Quando me virei, encarei a bela mulher atrás de mim. Por baixo da jaqueta estava uma blusa regata de seda, seus mamilos não pareciam reagir ao tecido fino.
— Protetores. São ótimos para tarados como você.
— Não sou tarado. Eu olho, mas não toco.
— Quem toca é assediador. Quem olha com malícia é tarado.
— Então eu vou te prevenir dos olhares tarados dos meus amigos, mas vai ter que confiar em mim.
— Eu não acredito, que eu, uma mulher feminista, que defende a liberdade da mulheres no meus livros, vou ter que confiar em um cafajeste como você.
— É melhor ter apenas o meu olhar malicioso em cima de você do que o de vinte homens.
— Odeio homens, deveria ter ficar na cidade fazendo compras.
Caminhamos até as arquibancadas. Alguns dos meus antigos amigos conversam e bebem algumas cervejas. Alguns deles começaram a namorar no período que eu estava fora e recluso dentro da minha casa.
— Olha quem apareceu. — Mike se levantou e veio até mim, me dando um abraço apertado.
— O Pedro nos ligou falando que a Superleggera estava correndo novamente pelas ruas. É uma pena que ele tenha que cuidar dos filhos enquanto a mulher está viajando a trabalho. — Theo colocou o braço em torno do ombro da namorada.
— É uma sorte ela ter conseguido sair dessa ilha — disse a garota nos braços de Marck.
— Pessoal! — Puxo Emma para perto de mim. — Essa é a minha namorada, Emma.
— Nunca a vi por aqui — Marck falou, olhando discretamente Emma.
— Nos conhecemos pela internet. A Emma é de uma cidade do sudeste do país e veio passar alguns dias comigo.
Os olhares que antes estavam em Emma se desviaram para qualquer lugar que não fosse o corpo da mulher ao meu lado. Emma limpou a garganta e eu sabia que algo estava para acontecer.
— Qual de vocês é o melhor piloto? — Ela olhou para mim com um olhar amoroso. — Além do meu namorado, tive a chance de ver alguns vídeos dele competindo e ganhando de todos vocês.
— Eu sou o segundo melhor, depois do Luther — disse Matt se colocando de pé.
— Será que é melhor que eu? — Emma diz e a olho, espantado.
— Uma garota do sudeste quer competir contra mim? — Matt se aproximou de nós dois.
— Está com medo de perder? — ela diz confiante e eu empurro Matt pelo peito, para deixá-lo longe da Emma.
— Vamos para a pista.
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Um Amor Além Do Verão
RomanceApós o último romance que Emma lançou, decidiu tirar umas férias em uma ela tranquila. Ao posar na ilha foi recepçionada por Luther, um homem de beleza invejável e com um olhar misterioso. Com a Páscoa chegando, os habitantes estavam preparando a ca...