Segundo Ato

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Um lar e uma prisão, aquela mansão fria poderia ser comparada a ambas, em uma fina linha tênue.

Suas mãos tremiam, e seu coração batia rápido o suficiente para que o próprio pudesse ouvir. Enquanto escutava o som sinuoso dos pés da senhora de amarelo, baterem freneticamente contra o chão.

— Você vai mesmo embora?

Uma semana já havia se passado desde o acontecimento que o levou a estar de volta aquela casa. Após tirar um tempo para colocar as coisas no lugar, o homem percebeu que não havia só uma fechadura para destrancar, muitas delas envolviam seu corpo, e ele deveria começar por algum lugar se quisesse se livrar do pingente que carregava em seu pescoço.

— Não era o que você queria? - Questionou, enquanto colocava as roupas que tinha dentro da mala aberta sobre a cama.

— Eu falei no calor do momento. Você é quem leva as coisas muito a sério. - O tom frio e rude tomou conta do ambiente, o tornando insuportavelmente gelado.

Ele estava cansado daquela voz;

Ele estava cansado daquele rosto;

Ele estava cansado dela.

— Você está sempre no calor do momento. As marcas do meu corpo dizem por si só.

— Eu estou doente. O que vai fazer? Eu não te criei por 28 anos para ver você me abandonar.

— Engraçado. — Jumpol fechou a mala após se certificar de não ter deixado nada para trás, e a arrastou para fora do quarto. — Você sempre disse que eu me pareço mais com o meu pai.

A mulher correu até seu filho antes que ele virasse a maçaneta, gritando seu nome e o fazendo parar.

— Se você sair por essa porta, eu nunca mais quero ver a sua cara de novo. Me ouviu bem? - O ódio transbordava por sua voz, mas nela também estava o medo: o medo de viver pela segunda vez o pesadelo de perder a única pessoa que tinha ao seu lado. O ciclo vicioso que a perseguia como uma sombra. Ali estava a senhora Adullkttiporn, novamente vendo suas ações levarem embora a única pessoa que verdadeiramente a amou.

Amou tanto, que odiou a si mesmo; tendo que esconder quem era e oprimir a própria alma, para nunca chatear a rainha que imperava sob suas cabeças.

"Off Jumpol entendia seu pai"

— Tudo bem, mandarei Tay vir buscar o que falta. — E ali estava ela, a luz da saída, um caminho sem volta. Mas antes de finalmente colocar os pés para fora de uma prisão que o torturou durante anos, Off lentamente se virou, e encarou a mulher estática na sala, que o observava em silêncio. — Mãe... — Chamou, respirando fundo antes de dizer pela última vez, uma verdade na qual a mulher precisava ouvir: — Eu te amo.

Foi o suficiente, Jumpol pode ouvir claramente o som de algo se partindo, era seu subconsciente lhe dizendo para sair o mais rápido possível, e não se obrigar a assistir sua progenitora chorar, como nunca antes chorou. - Ele a amava, a amava tanto, que esqueceu de amar a si mesmo.

Quando a porta se fechou atrás de si, Jumpol sorriu e olhou para o céu, sentindo a brisa acariciar seu rosto. A sensação de liberdade era algo prazeroso, mas mesmo assim ali estava ela, a lágrima que não o abandonava pincelando seu rosto bronzeado.

Naquele instante, o homem estava deixando para trás alguém no qual sempre se obrigou a acreditar que era a única em sua vida. Ali estava uma parte dele sendo deixada para trás. Algum dia ele voltaria a ver o rosto dela de novo, talvez não amanhã, e nem daqui a um ano. Em vida ou dentro de um caixão, isso não importava. No momento, Jumpol não desejava ter maturidade para pensar nisso.

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