Meu paraíso infernal

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Você já temeu o paraíso? – para uns essa pergunta teria uma resposta óbvia, mas para Jumpol, a história tomaria um rumo completamente diferente.
Off permanecia em silêncio no caminho de volta para casa, afogado em seus próprios pensamentos nebulosos enquanto escutava Gun cantarolar para o pequeno filhote de maltês em seu colo; mas o som reconfortante da voz do mais novo cessou segundos depois, seguido de um chamado no qual Off demoraria para se acostumar.

— Papi.

— Hnm?

— Obrigado. – Agradeceu, encarando o rosto do homem bem trajado ao seu lado, que após parar no sinal, o encarou de volta, olhando fixamente para os traços de Gun Atthaphan, se questionando se era natural um homem achar outro tão atraente, mesmo tendo a certeza de sua própria sexualidade.

— Você pode me agradecer de um jeito diferente.

O mais novo arqueou a sobrancelha, e logo em seguida sorriu para Jumpol:
— O que quer que eu faça?

Gun esperava uma resposta diferente, mas a que ganhou apenas lhe provou que Off era realmente um homem ilegível:
— Me deixe ser o seu tutor de novo.

— O quê? – Ele ficou confuso, mas após poucos segundos em silêncio, o mais baixo sorriu de modo singelo, apoiando sua cabeça no banco do conversível – Por que quer ser meu tutor novamente?

— Porque quero mostrar para você o meu verdadeiro trabalho. Sem julgamentos pessoais, sem deixar a emoção guiar a razão. Quero provar que Oab estava errado.

— Você é mesmo orgulhoso. - Riu - Está fazendo isso porque o seu colega feriu o seu ego?

— Estou fazendo isso por você. – Off franziu o cenho, descendo o olhar até o colo de Gun, acariciando levemente a pelagem de Bibi. – Gun... eu não quero ter uma rixa com você. Eu fui imaturo, fui infantil.

— Então quer usar o estudo como desculpa para se aproximar de mim. – Resumiu, fazendo Off dar um peteleco na testa de Gun, que colocou a mão sobre a região agredida, soltando ar pelos dentes e encarando seu veterano em completa indignação.

— Não me entenda mal, eu não quero ser o seu amigo, mas também não quero ser o seu inimigo.

— Quer ser meu amante?

Jumpol sentiu o gosto de ferrugem subir por sua garganta, e todo o seu corpo gelar como se estivesse vagando pela era glacial. A saliva invadiu sua boca o fazendo engasgar imediatamente, apertando com força o volante. Sua reação foi tão exagerada que o filhote começou a latir e pular no colo de seu novo dono. Atthaphan, pelo contrário, não pareceu se preocupar, apenas soltou uma risada alta e descontrolada, dando leves tapinhas nas costas de Jumpol.

— Eu estou só brincando, não precisa me levar tão a sério.

— Gun! – Off chamou a atenção do outro, se recompondo para estar apto voltar a dirigir. Quando enfim conseguiu se reestabelecer psicologicamente, ele respirou fundo e encarou o garoto ao seu lado, sentindo então seu rosto pálido completamente quente, provavelmente tão vermelho quando a cor de sua camisa havaiana. – Olha, eu só quero que você saiba que naquela noite...– Ele tentava encontrar as palavras certas, mas elas pareciam longínquas e inalcançáveis. – Eu não gosto de homens. - Foi direto ao ponto, suspirando.

— Claro, eu percebi o quão hétero você é. – Ele tentou não demonstrar a ironia que completava até o topo daquela frase, mas era quase impossível esconder, principalmente quando foi seguida de um riso frouxo vindo do mais novo, reação na qual fez Jumpol revirar os olhos. – Eu estou falando sério. Naquela noite eu tinha acabado de terminar recentemente com a minha ex, eu estava abalado e acabei cometendo um erro, talvez por conta do trauma eu tenha...

— Papi, não termina essa frase. – Pediu da forma mais compreensiva possível, antes de voltar a olhar para frente, e após minutos em silêncio, começar a falar algo que Jumpol buscava saber a muito tempo: – Eu me lembro de quando New me convidou para aquela festa, ele disse que levaria um amigo que estava passando por uma fase difícil, pôs término. – O homem suspirou em seu próprio devaneio, e apoiou sua bochecha em seu punho fechado. – Eu disse que tudo bem, que estava ansioso para conhece-lo, sempre fui alguém sociável.



Tenha paciência com ele, você sabe como é, um coração partido em uma festa tende a deixar o clima tenso. – Comentou o amigo, enquanto dirigia seu carro em direção a balada.

— Ei! Comigo estando lá, pode aparecer a mais depressiva alma, o clima não vai ficar tenso. – O espírito da festa disse orgulhoso.

Assim que chegaram no estabelecimento, repleto pela luz neon azul e as batidas altas da música eletrônica, a primeira coisa que New fez foi guiar Gun até a mesa onde o grupo deveria estar, mas estranhamente apenas Tay estava sentado, bebendo um drink de frutas.

— Onde o Jumpol se meteu? – Thitiphoom perguntou confuso.

Tawan olhou para os dois e sorriu, apontando para a pista de dança; e lá estava ele, um homem alto, extremamente bem vestido, com o cabelo rebelde e os olhos pequenos e bem desenhados, dançando como um louco junto de um outro grupo desconhecido.

O interesse foi instantâneo, os olhos de Gun foram diretamente guiados até o homem, analisando cada pedaço do mais velho, desde sua feição tão bem esculpida, até seu corpo perfeitamente modelado; - Off Jumpol era a personificação da luxúria, qualquer um que o encarasse por muito tempo cairia nos encantos de sua beleza inerte. Ele fazia exatamente o tipo de Atthaphan – “E como fazia...” – Pensou, e um sorriso travesso surgiu de imediato em seu rosto.

— Eu vou me apresentar. Vejo vocês mais tarde. – Avisou o pequeno, que em seguida emergiu na multidão, dançando na intenção se aproximar aos poucos de Off.

O mais velho não parecia prestar atenção em nada a sua volta, mas se tem algo que Gun sabia fazer muito bem, era chamar a atenção de quem queria sem precisar reproduzir qualquer som sequer, apenas seu olhar era o suficiente para fazer qualquer um questionar-se sobre sua própria sexualidade, caindo na rede como um peixe nas mãos de um pescador.

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