consequência | kuranaru

solução? | cap. 01

O céu, carregado de nuvens densas e opacas, parecia um espelho do espírito da vila, um lugar desprovido de brilho e vida desde que Naruto foi banido. Dez anos haviam passado, mas o peso daquela decisão permanecia como uma cicatriz aberta no coração da comunidade. A atmosfera era pesada e deprimente; mesmo os dias ensolarados não conseguiam escapar da tonalidade acinzentada que impregnava tudo. Não havia calor, não havia luz verdadeira. Apenas um vazio persistente.

A paisagem havia sido devastada, não por guerra ou desastre natural, mas por algo mais profundo: a ausência de vitalidade. As árvores, outrora robustas e majestosas, agora eram sombras de si mesmas, frágeis e sem cor. Seus troncos, que antes pareciam guardiões do tempo, estavam rachados, desgastados, quase implorando por um descanso eterno. A grama, que antes se estendia como um tapete verde e macio, agora crescia de forma irregular, áspera ao toque, tingida de um tom doentio de cinza. Em algumas áreas, ela sequer ousava brotar, e onde conseguia, trazia consigo um veneno silencioso, como se a terra estivesse se rebelando contra aqueles que a habitavam.

A Floresta da Morte, um local que já fora um santuário de criaturas selvagens e exóticas, havia se transformado em um deserto vazio. Não se ouvia mais o som de asas batendo, nem o chamado distante de aves que antes cortavam o céu. Os pequenos animais que povoavam o chão desapareceram como se tivessem sido apagados da existência. O silêncio era ensurdecedor, um lembrete constante do abandono que pairava sobre aquele território.

Dentro da vila, a decadência não era menos brutal. Os animais domésticos, que outrora eram símbolos de companheirismo e utilidade, estavam reduzidos a sombras famintas de si mesmos. Cachorros com olhos fundos e pelagem opaca vagavam sem rumo; gatos, magros como esqueletos, se escondiam em cantos escuros. Nas fazendas, a situação era ainda mais desoladora. As galinhas mal conseguiam bicar o chão, seus corpos frágeis incapazes de sustentar algo além de um movimento hesitante. Os bois, que antes eram pilares da agricultura e sustento, estavam tão magros que suas costelas pareciam perfurar a pele fina. Mesmo o leite das vacas, outrora símbolo de nutrição, havia se tornado amargo e amarelado, um reflexo cruel da corrupção que envenenava a terra.

A ausência do Uzumaki não havia apenas retirado a chama da vila. Havia arrancado sua alma. Sua presença, carregada de esperança, determinação e luz, era o que mantinha a harmonia, o equilíbrio entre o céu, a terra e as pessoas. Com sua partida, não foi apenas um homem que se foi, mas o símbolo de um futuro que, agora, parecia inalcançável.

A vila, em sua patética monotonia, era um lembrete constante do que haviam perdido — e talvez nunca mais fossem capazes de recuperar.

— Haruno, sua presença é exigida na sala da Godaime-sama.

A voz fria e direta do Anbu, cuja máscara de cordeiro escondia qualquer traço de expressão, quebrou o silêncio do ambiente. Haruno, de cabelos rosados vibrantes e olhos esmeraldinos, ergueu o olhar de forma altiva, como se o chamado fosse uma interrupção indesejada. Ela colocou as mãos na cintura, uma postura que exalava confiança e, talvez, uma pitada de provocação. O gesto era tão característico quanto o tom levemente impaciente de sua resposta.

— O que Tsunade-sama quer? — questionou, erguendo o queixo de maneira desafiadora.

O Anbu não se abalou. Sua voz manteve-se firme e quase apática, carregando a formalidade de quem está acostumado a ser um mensageiro neutro.

— Informações confidenciais.

As palavras foram arrastadas pelo vento que brincava com as folhas ao redor. No entanto, para quem prestasse atenção, havia uma nuance quase imperceptível em sua entonação: uma ponta de aborrecimento, como se ele esperasse menos resistência ou questionamentos.