Naruto estava sentado casualmente sobre sua mesa, um copo de Cosmopolitan em mãos, enquanto olhava fixamente pela janela. Seus pensamentos, antes centrados nas lutas que enfrentaria, tornaram-se turvos ao sentir duas presenças familiares. Os chakras que ele reconheceria em qualquer lugar pararam à porta de sua sala. Um desconforto crescente tomou conta de seu corpo, e ele se viu segurando o tecido caro de suas vestes com força, enquanto uma onda de pânico se instalava. A porta começou a se abrir lentamente, e a visão de Shikaku Nara e Iruka Umino o fez prender a respiração.
— Naruto... — a voz de Iruka quebrou o silêncio, carregada de hesitação e pesar.
Naruto permaneceu imóvel, recusando-se a olhar para os dois homens que, em algum momento, ocuparam papéis importantes em sua vida. Por que seus guardas os haviam permitido entrar, sabendo do conflito interno que o loiro carregava em relação a ambos? Sua voz saiu fria, quase cortante.
— Nara-san. Umino-san. — As palavras formais carregadas de indiferença acertaram os dois homens como lâminas. Ambos sentiram a dor de serem tratados como estranhos.
Iruka, com um sorriso amargo, foi direto. — Naruto, você ainda me odeia?
A resposta veio tão rápida quanto dura.
— Acredito que já saiba a resposta. Na verdade, acredito que os dois saibam a resposta. — Naruto mantinha sua postura firme, mas seu corpo tremia levemente. Por dentro, um turbilhão de emoções ameaçava transbordar.
Shikaku, com a serenidade que sempre o caracterizou, tentou se aproximar.
— Você vai nos ouvir, Naruto? Vai dar uma chance a quem você já chamou de pai?
Naruto congelou. As palavras atingiram um ponto sensível. Ele entrelaçou as mãos para conter o tremor, virou-se lentamente, e quando finalmente olhou para os dois, seus olhos refletiam dor e traição. Sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de desespero.
— O que vocês querem de mim? Querem me quebrar novamente? Querem arrancar meu coração? Vamos! Digam-me!
Shikaku tentou responder, mas foi interrompido por Iruka, que esboçou um sorriso triste.
— Você ainda é tão fácil de irritar, Naruto. Continua o mesmo de sempre.
A risada de Naruto ecoou pela sala, mas não era de alegria. Era uma risada nervosa, desesperada.
— Não! Não sou mais o menininho tolo que vocês conseguiram iludir! Não sou mais aquele pirralho carente, sedento por atenção! Não! Não mais!
Shikaku deu um passo à frente, sua expressão cheia de tristeza.
— Naruto... você nunca foi um tolo, Pequeno Cervo. Eu sei que você ainda é aquele loiro teimoso e adorável de coração puro. Eu, nós... eu e Iruka, sempre pudemos ver através daquela máscara que você colocou. Sempre soubemos que era uma barreira para se proteger.
O coração de Naruto apertou. Impossível, pensou, atordoado. Aquela máscara era perfeita. Todos acreditavam! Mas as palavras de Shikaku o confrontavam com uma verdade que ele não queria aceitar.
Iruka prosseguiu, sua voz baixa, mas cheia de emoção. — Não demorou muito para percebermos que éramos os únicos que conseguiam ver através daquela fachada. Então não, Naruto. Você nunca foi um tolo. Você era uma criança machucada, não um idiota em busca de atenção. Você só queria ser aceito. Ter um lar.
Naruto virou de costas. Não conseguia olhar para os rostos dos dois homens. Cada palavra que ouviu o despedaçava, porque sabia, no fundo, que era verdade.
— Sempre soube que você estava sofrendo — continuou Shikaku. — Sempre soube. Tentei te adotar, mas o Conselho negou. O Sandaime não podia fazer nada. Não pude ter contato com você sem parecer suspeito, até que você ficou amigo de Shikamaru e começou a frequentar minha casa.
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consequência | kuranaru
FanficAcusado injustamente de tentar assassinar Sasuke Uchiha, o último membro da prestigiada família Uchiha, Naruto Uzumaki foi banido de Konohagakure e da Capital do Fogo. Sem direito a defesa ou julgamento justo, ele foi expulso, abandonado por aqueles...