Cronos e o Castramento de Urano

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Gaia contemplou, inebriada, as constantes alterações que sofria em seu organismo físico. A matéria primeira explodira em milhares de glóbulos que se espalharam pelo universo, aglomerando-se em torno de centros ígneos, onde Hélios se projetava, incansável. Alguns desses glóbulos eram tão tórridos que nem mesmo Oceano conseguia umedecê-los. Outros, porém, mais amenos, aceitavam a dádiva líquida que se espalhava pela terra.

O universo, antes vazio, acolhia agora em suas dobras as células físicas de Gaia, A Mãe, A Mulher. E ela, perdida em profunda contemplação, meditava ante toda aquela vastidão:

- Sei que sou jovem, mas sinto-me tão velha... Ante esta imensidão sou pequena, no entanto sou enorme e existo em todos os recantos do universo. Sou mãe dos céus e das águas, do fogo e da memória, mas tenho também um organismo físico que ainda não foi fecundado. Sou mãe e sou virgem, sou mulher e sou criança e vago pelo espaço, pelas células de meu corpo, sem saber, contudo, para onde vou e nem de onde vim. Quem sou?... Sou Gaia, sou mãe, sou virgem, sou mulher, sou criança... Sou Terra!

Sobressaltou-se ao pressentir a chegada de Urano. Sua presença sempre a perturbava. Tinha algo que a oprimia e prejudicava sua livre expansão. Não compreendia seus anseios de mulher, nem aceitava seus cuidados de mãe.

- Então, Gaia - chamou, com sua voz alta e sonora. - Novamente contemplando sua criação? Não fique tão orgulhosa de seu organismo físico, nem das prendas de seus filhos etéreos. Antes disto, deveria estar prostrada em eterna adoração a mim, seu esposo, que ocupa os mais sutis espaços do universo.

Gaia sorriu com tristeza.

- Meu senhor, sou sua esposa e o amo. Mas também sou mãe. Tenho filhos nossos a zelar e sinto que meu organismo físico anseia por gerar. Sinto que ainda terei uma imensa prole para cuidar e amar.

Urano explodiu em descargas de energia.

- Nunca! Que filhos pensa ter em tão rígida forma, em tão grosseira matéria? Povoar o mundo físico com o quê? Jamais!... Somente os espaços podem ter vida e somente a vida sutil deve ocupar a imensidão. Veja os filhos que já tivemos! São luzes, são calor e frio, têm seu lugar em todo o universo e não somente num pobre e ínfimo organismo físico. Olhe para o alto, mulher, olhe para o alto e para mim, e não se perca contemplando a inutilidade que é o organismo com que preenche o mundo físico.

Gaia entristeceu-se. Como falar da necessidade que tinham suas entranhas de gerar a vida naqueles mundos que se afastavam cada vez mais em redor de seus sóis, rumo a um futuro que ainda não havia nem começado a acontecer? Coisas de mulher... Tristezas que o homem não conhecia, nem mesmo o seu homem, o firmamento sem fim que envolvia todo o seu ser. Urano aproximou-se mais.

- Vamos, minha querida, não se entristeça. Não deixe que preocupações inúteis escureçam seu rosto. Venha...

Envolveu-a em seus braços etéreos e amou-a. Gaia entregou-se, passiva, toda mergulhada em sua tristeza. E novamente concebeu.

Desta união nasceram os Ciclopes, que eram três gigantes com grande habilidade manual. Criaturas grotescas,que pousavam sobre o mundo em sua volta um olhar penetrante, emanado de um único olho, no meio da testa.

 Criaturas grotescas,que pousavam sobre o mundo em sua volta um olhar penetrante, emanado de um único olho, no meio da testa

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Olimpo: A Saga dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora