Japetos olhava com ternura sua doce Climene adormecida.
Ela era filha do casamento de Oceano e Tétis, era uma das Oceanides dotada de uma suave beleza e uma doçura cativante.
Ao contrário dos outros Titãs, que desposaram suas irmãs, as Titânidas, Japeto logo preferiu a bela sobrinha, que mais se aproximava de sua natureza cósmica.
Climene já lhe dera quatro filhos, os titãs da segunda geração Atlas, Menécio, Prometeu e Epitemeu.
Atlas, o mais velho deles, tornou-se violento. Logo afastou-se dos pais e preferiu habitar o mundo físico de Gaia, entre os rochedos e as grandes árvores. Menécio, bruto e orgulhoso, mal olhava para os Deuses, e apenas se preocupava em manter sua altivez.
Japetos entristeceu-se com esses filhos que engendrara. Mas logo vieram Prometeu e Epitemeu. O primeiro, previdente, sábio, passava todos os seus momentos pensando, concentrado em si mesmo, como se estivesse sempre procurando a solução de algum problema. Mas não falava a ninguém sobre o que lhe ia na mente.
Uma vez Japeto surpreendeu-o contemplando o mundo material, onde já se podia notar algumas espécies vegetais. Ao chegar mais perto do filho, Japeto escutou-o suspirar e dizer baixinho:
- Que belo mundo, cheio de verde e de vida física. Mas sinto que falta um ser especial para dirigi-lo.
Quando percebeu a presença do pai, Prometeu estremeceu e disfarçou.
- Pai, também veio apreciar o mundo de Gaia?
Japeto ainda tentou fazê-lo falar.
- Filho, você dizia alguma coisa, quando cheguei. O que era?
Prometeu desviou o olhar.
- Nada, pai, apenas apreciava a beleza do verde e dos animais.
Epimeteu, o caçula dos filhos de Japetos e Climene, era extremamente crédulo. Jamais percebia quando os primos tentavam enganá-lo nas brincadeiras inocentes dos jovens filhos dos Titãs. E, quando, por fim, compreendia que fora alvo de tolices sem conseqüências, corria para perto da mãe, que o abrigava em seu seio cálido...
Climene moveu-se lentamente em seu leito macio, abriu os olhos e sorriu para Japetos, que continuava a olhá-la com carinho. Sentou-se e estendeu-lhe os braços.
- Japeto, querido! Chegue-se mais perto de mim. Está preocupado, amor?
Japeto sorriu.
- Apenas contemplava seu sono. Está cada vez mais linda!
Climene afastou-se para o lado, permitindo que o esposo se sentasse em seu leito.
- Sabe, Japeto, - Disse ela, apoiando a cabeça em seu ombro - Algo realmente me preocupa.
Japetos procurou-a com um olhar interrogativo.
- Vou lhe dizer o que é - Continuou ela. - Trata-se de Cronos, seu irmão menor.
Japetos ergueu as sobrancelhas.
- Ora essa... E por quê?
Climene acariciou-lhe as mãos, procurando um meio de lhe expor os motivos que a afligiam.
- Veja bem, amor. Cronos agora é nosso rei. Depois que destruiu Urano, tirando-lhe a virilidade, assumiu seu lugar e reina sobre todos nós. Não que eu esteja de acordo com o que ele fez, mas não cabe a mim julgá-lo. Deve ter tido sérios motivos que justifiquem aquele ato brutal contra o pai. Mas agora, veja o que faz. Rejeita totalmente a ideia de casar-se, de gerar um filho que futuramente irá substituí-lo. Num universo que mal começa a se formar e a se expandir, todos tem que gerar filhos, que chegarão com suas idéias próprias e tarefas importantes, para que nenhum ramo da Criação fique estagnado ou carente de atenção.
- Você tem razão - Concordou Japetos - Mas não acredito que de muito lhe sirva preocupar-se por Cronos. Ele é estranho, bruto, decidido, e quando resolve alguma coisa, não adianta demovê-lo da ideia. Se não quer se casar, o problema é dele. Só acho curioso que ele ainda não tenha percebido que, num universo onde tudo se modifica a cada instante, evidentemente será substituído um dia, seja por um filho dele ou não. Quem sabe até mesmo um dos nossos? Prometeu, talvez...
- Bem - Disse Climene, sem se importar com o comentário do esposo - Seja lá que motivo tenha, acho que ele precisa gerar o novo rei, aquele que o sucederá. Melhor que seja seu próprio filho, não acha?
Japeto suspirou.
- Mas ele não quer assim. Sinto que tem verdadeiro pavor só em imaginar que um dia será destronado por um filho. Coisas de rei, não é mesmo, amor?
Abraçou-a e quedou-se, pensativo. Quem seria o sucessor de Cronos? E será que ele teria mesmo um sucessor ou iria reinar eternamente, sempre forte e atuante, sem permitir que o cansaço de tão grande encargo lhe pesasse nos ombros?...
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Olimpo: A Saga dos Deuses
Ficção GeralAtenção: os capítulos estão passando por edições.