Prometeu sempre teve um pendor para as artes plásticas.
Seu pai era o velho Japetos, um dos Titãs, cuja origem se perde na noite dos tempos.
Era tão velho que emparelhava em idade com Cronos, o pai de Zeus, e ninguém sabia precisar direito como e de onde surgira. O fato é que o velho sempre nutrira uma admiração secreta por seu habilidoso filho.
- Este Prometeu promete! - dizia, repetindo pela milésima vez esse cansativo trocadilho.
Climene, esposa de Japeto, escutava pacientemente os prognósticos do marido, mas não podia deixar de concordar com o seu otimismo. Não raras vezes flagraram o menino metido no barro, modelando com habilidade seres das mais diversas formas. Com o tempo Prometeu cresceu, até atingir a fase adulta. Agora, já com seu ateliê montado, era respeitado em toda a corte celestial como notável artífice.
Os deuses se perguntavam porque Prometeu vivia escondido naquela gruta e, quando raramente aparecia, vinha sempre pensativo e distraído, como que procurando a solução para algum difícil problema.
Um dia, Zeus não suportou mais a curiosidade e seguiu-o. Ficou algum tempo do lado de fora da gruta, procurando perceber os movimentos de Prometeu. Nada, silêncio total. Resolveu entrar. Viu que Prometeu no fundo da gruta misturava materiais, viu quando o mesmo tomou um pouco de terra e, misturando-a com água, fez uma perfeita figura masculina à imagem e semelhança dos deuses. Deu-lhe o porte ereto, de maneira que, enquanto os outros animais têm o resto voltado para baixo, olhando a terra, aquele ser podia levantar a cabeça para o céu e olha as estrelas.
Ajoelhado a seu lado, Prometeu contemplava a figura, embevecido. Tão distraído estava que nem percebeu a chegada de Zeus. Só o viu quando o supremo senhor do Olimpo chegou a seu lado. Estremeceu e voltou de sua abstração. Levantou-se, confuso.
- Zeus!... O que o traz aqui?
Zeus não despregava os olhos do boneco de argila.
- Quis saber em que ocupa todos os seus dias. O que é isto?
E apontou para a figura.
- Zeus, não sei se aprovará meus atos ou não. Mas preciso tentar. Desde criança, sempre tive um sonho, que pretendo realizar. Gostaria de criar um ser material, capaz de assumir o comando do mundo físico. Consegui dar forma a este ser. Provi-o de todo um equipamento, bastante perfeito, capaz de captar todas as informações do mundo material, e também capaz de fazê-lo agir, de acordo com a informação recebida. Mas não consigo dar-lhe vida. E aí jaz um ser material perfeito, completamente inerte e inútil.
Zeus olhou-o fixamente.
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Olimpo: A Saga dos Deuses
General FictionAtenção: os capítulos estão passando por edições.