Perdão

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P.O.V. Leon.

Quando de repente a Nat perdoou a Ludmilla e as duas voltaram a ser amigas assim tão depressa eu imediatamente suspeitei, mas o que me deu a confirmação de que algo estava ou está rolando, está errado foi minha namorada.

Apesar do visual rock, punk, Solara é amorosa, carinhosa, tolerante, fala pelos cotovelos, é uma pessoa alegre e expressiva. Entretanto, de uns tempos para cá ela tem estado mais calada, mais distante, mais sombria até. Verdadeiramente sombria. Como se estivesse planejando alguma coisa. Passa muito tempo, quase todo o seu tempo livre desenhando no caderno. Mas, isso não é prova de nada. Ainda assim... ai tem coisa.

-Ei, Condessa Vampira o que é que há?- Perguntei.

Ela não me respondeu.

-Sol... fala alguma coisa.- Insisti preocupado dela estar em choque ou coisa parecida.

Então a morena olhou para mim, com os olhos azuis cheios de lágrimas, mas não eram lágrimas de tristeza, felicidade, aquilo era ódio. Os olhos dela estavam faiscando de ódio, um ódio que eu nunca tinha visto antes era quase palpável. Me deixou assustado.

-Eu nunca pensei que pudesse detestar, desprezar tanto alguém. Nunca pensei que pudesse sentir tanta fúria, tanta mágoa, tanto ódio que parece que está queimando a minha alma! Sempre me considerei uma pessoa racional, alguém moderada, calma, capaz de ver as coisas claramente e não condenar os outros. Eu sempre tento compreender porque alguém faz, o que faz, especialmente quando faz coisas ruins. Será que apesar dos meus esforços estou fadada a ser uma pessoa odiosa, uma vilã? Anos e anos de terapia me ensinaram que ser temida e ser forte são duas coisas completamente diferentes e não necessariamente estão interligadas. Eu nunca quis ser temida, só queria ser amada, ter paz. Mas, acho que no fundo, no fundo eu mesma nunca acreditei que merecesse tais coisas.- Disse Solara. O jeito como ela soava parecia que estava... que está realmente pirando, perdendo a cabeça. Como se afundasse mais e mais numa espiral de loucura e tristeza.

-Isso é por causa da Ludmila? A pessoa que você odeia é a Ludmila?- Questionei.

-Sim, mas é mais complicado do que isso.- Respondeu minha namorada.

Então, Solara começou a chorar de tristeza, de desespero, as lágrimas escorriam desesperadamente pelos seus olhos, ela se engasgava nelas.

-Eu não sei porque ela me odeia tanto, mas talvez eu saiba, porque agora eu me odeio também.- Admitiu soando desconsolada.

O que?!

-Não. Não se odeie.- Discordei. Tentei consolá-la.

-Ela primeiro tentou me assassinar e depois me incriminar.- Falou Solara.

Eu a abracei, consolando-a enquanto a coitada chorava desesperadamente.

P.O.V. Solara.

Isso foi muito bom, até eu fiquei impressionada com a minha performance, mas para ser justa tudo o que eu disse era verdade, exceto pela parte de eu me odiar. Já passei desta fase. Leon me confortou, me consolou. Eu neste momento, realmente não mereço alguém tão bom quanto ele. E quanto a Natália? Ela tem sido minha espiã á meses e hoje vou fazer uma coisa nada honrosa.

Preparei uma surpresinha para senhorita Rainha do Formigueiro que coloquei no seu lado do quarto enquanto ela dormia. Estou bolando este plano a meses, coletei informações, aprendi tudo o que podia sobre a loira, seu comportamento, o tipo de pegadinha que ela gosta de fazer e com quem, os seus motivos. Com a ajuda de Nat eu pude conhecer minha inimiga intimamente.

Amanhã, a bomba vai explodir e a merda vai voar.

Na manhã seguinte...

P.O.V. Leon.

Ai Meu Deus! Assim que saímos no corredor ficamos todos horrorizados, por todas as paredes, nas paredes inteiras, espalhados pelo chão de todos os corredores, por tudo quanto era lugar havia cartazes, cartazes com uma fotografia da Solara completamente nua, no chuveiro e claramente a foto foi tirada sem ela saber. E para piorar ainda mais a situação fizeram uma montagem colocando uma auréola ao redor da cabeça dela e uma inscrição que dizia:

-Santa Solara, padroeira das vadias ladras de namorado.

Olhei para ela e coitada estava horrorizada, em choque. E conforme o povo começou a rir ela começou a chorar. Então peguei um dos cartazes no chão e vi uma foto minha usando pijama e com um frasco de ritalina na mão. No cartaz me chamavam de viciado. E pouco a pouco, o pessoal foi descobrindo que os cartazes no chão eram diferentes dos colados nas paredes. Estavam cheios de fotos constrangedoras ou fora de contexto de todo mundo de todos os alunos e até professores do Studio.

Chamando a professora Angie de maconheira, o Gregório de viado, o Pablo de enrustido, o Beto de maluco que fugiu do manicômio. E como resultado, o caos se instaurou. O povo começou a sair no braço! E por sair no braço quero dizer as meninas se xingando de vadias, de vagabundas, puxando os cabelos umas das outras, se arranhando, rolando no chão enquanto os meninos se socavam, chutavam chamando uns aos outros de traíra, de cretino, de filho da puta. E é lógico que o Pablo imediatamente suspeitou da Ludmila, mais que isso ele a acusou. Acho que dessa vez ela passou dos limites. DE TODOS os Limites.

P.O.V. Ludmila.

Eu não fiz isso. Não fiz isso! Tentei a todo e qualquer custo explicar para o Pablo que a pessoa responsável por aquilo tudo não era eu. Que eu era inocente, mas ele não acreditou em mim, me desafiou a deixá-lo revistar minhas coisas atrás de provas e é claro que eu deixei. Eu não fiz isso. Então, imagine a minha cara quando ele acha um Livro Do Arraso cor de rosa com um compilado de todos os cartazes no meio das minhas coisas.

-Isso não é meu. Eu nunca tive isso.- Falei.

-Ludmila, por favor.- Disse Pablo.

-Não fui eu.- Repeti.

-Já chega! Está suspensa. E se fizer mais uma, uma pegadinha que seja será expulsa.- Pablo me repreendeu.

Então olhei para a minha colega de quarto e ela me deu um sorriso sacana, maldoso.

-Você. Você fez isso!- Acusei.

-Isso é verdade Solara?- Perguntou Pablo suspeitando dela. 

E a sua resposta foi...

-Está falando sério? Ela me jogou no lago e quase me matou duas vezes! Armou pra mim me humilhando publicamente duas vezes! E desconfia de mim? Eu tive o meu corpo e a minha cara estampadas em cartazes humilhantes pela escola inteira, ela fez de mim uma pária, fez a minha tia parecer uma maconheira louca e você ainda vem me dizer que acha que fui eu?! Sabe, achei que você era melhor do que isso Pablo, mas acaba que você é tão puxa saco da Ludmila quanto o Gregório. E olha onde isso o levou. Ele tanto passou a mão na cabeça dela que foi impiedosamente zoado e chamado de viado que por acaso é homofobia. É crime.- Respondeu Solara.

P.O.V. Solara.

Nossa, isso foi muita maldade. Eu fui longe demais, passei de todos os limites possíveis e me sinto tão mal. Mas, quando estava planejando e executando eu estava tomada de uma fúria tão grande que eu estava cega. Fiquei completa e totalmente cega. E mesmo que eu tenha perfeita e plena consciência de que o que fiz e ainda estou fazendo é moralmente errado, eu simplesmente não consigo parar. É como... como vomitar. Uma vez que começa a sair não para até acabar. Sei  que é uma comparação nojenta, mas é a única coisa na qual consegui pensar para definir o que estou sentindo ao fazer isso. Agora que a fúria começou a ser liberada, não consigo parar. Foi como abrir a Caixa De Pandora.

E foi bom me livrar, me vingar da Ludmila. Entretanto, tenho plena consciência de isso vai se voltar contra mim em algum momento, isso se já não aconteceu porque sinto tanta culpa, tanto arrependimento que parece que vou explodir. É, acho que preciso voltar para a terapia.


Rebeldes- Versão DisneyOnde histórias criam vida. Descubra agora