Termo de não ressuscitação

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Três semanas haviam se passado desde o acidente e Paula ainda não havia acordado ou dado sinais de melhora, Carmem não saiu do lado dela nem por um dia, as vezes revezava com Tuninha apenas para comer ou ir na Terrare-Wollinger resolver algo urgente. O médico adentrou o quarto como fazia todos os dias, mas dessa vez tinha uma pasta de papéis em mãos e um semblante sério.

— Bom dia, senhora Wollinger. Precisamos conversar, alguns exames foram refeitos e acabaram de me entregar o resultado.

Carmem se levantou imediatamente e cruzou os braços aflita esperando o doutor falar, era como se fosse com ela, como se ela estivesse doente.

— Bom, a paciente já está em coma a três semanas, é provável que demore meses para acordar, até mesmo um ano. Houve cinco paradas cardiorrespiratórias desde que ela deu entrada no hospital, eu temo que seja a hora da família assinar o termo de não ressuscitação.

— O que? Não! Ela vai acordar!- Carmem sentiu o coração falhar, ela não podia perder Paula.— Ninguém vai assinar termo nenhum!

— Bom, nesse caso não há muito o que fazer, a paciente não está reagindo aos estímulos e os novos medicamentos não fizeram efeito.

— Ela consegue me escutar!- Carmem disse num momento de desespero.— Eu vi o monitor marcar o coração acelerado quando conversei com ela.- Disse ao lembrar daqueles primeiros dias.

— Isso é comum, o coração as vezes faz isso, mas não quer dizer necessariamente que ela nos escuta.- O médico explicou calmamente.

— Escuta! Ela escuta! Ela vai melhorar e eu não vou deixar vocês impedirem a recuperação dela.- Disse em um tom de desespero.

— Minha senhora, por favor entenda, não faremos nada contra ela, estou apenas informando-a o estado da paciente.

— Já informou, agora pode ir, me deixe sozinha com ela!- O médico suspirou vencido e saiu do quarto deixando apenas as duas.

Carmem se virou para olhar para Paula, o medo a invadiu, o desespero estampado em seu rosto, ela não queria perder a Terrare, não podia perdê-la. A loira sentou-se na beira da cama e começou a chorar, um choro contido enquanto ela segurava a mão de Paula, as lágrimas contidas se transformaram em uma cascata que saltava dos olhos castanhos e soluços altos saiam de seus lábios, ela beijou a mão da morena várias e várias vezes, não podia acreditar que aquilo estava acontecendo.

— Eu não posso te perder, Paula.- Balançava a cabeça em negação ao falar aquela frase inúmeras vezes.— Meu coração está doendo, eu preciso de você... Como ousa me deixar? Sua idiota! Como pode dirigir tão imprudentemente, como pode se jogar nos braços da morte assim? Você é tão inconsequente, como não pensou nas pessoas ao seu redor? Como pode ser tão egoísta?- Carmem se mantinha de olhos fechados chorando e segurando a mão da Terrare.

— E mesmo assim você me ama...- Uma voz rouca invadiu os ouvidos de Carmem, ela arregalou os olhos e encarou Paula, ela ainda mantinha os olhos fechados mas com um sorrisinho nos lábios.

— Paula?

— O que há de melhor ponto com.- Falou arrastado.

— PAULA!- Carmem abriu um enorme sorriso e abraçou a morena, um abraço apertado que fez a outra gemer de dor.— Me desculpe, eu te machuquei? Você está bem?

Paula abriu os olhos com dificuldade quando Carmem se afastou, a morena suspirou e piscou algumas vezes, a claridade parecia incomodar.

— Onde é que eu estou?

— No hospital, você bateu o carro... Paula, você está bem?- Tocou o rosto alheio e olhou o mais profundo nos olhos dela que conseguiu.

— Sinto meu corpo todo doer... E a garganta seca.

Carmem apertou um botão e deixou a cama mais reta para que ela ficasse sentada, foi pegar um copo de água para a morena, voltou e entregou para a outra.

— Eu vou chamar um médico.- Se afastou da cama e apertou um botão para que o médico voltasse.

— O que você faz aqui? Faz muito tempo que estou aqui?.- Paula engoliu a água com dificuldade, quase derrubando o líquido do copo por causa da mão trêmula. Estava fraca por ter ficado muito tempo deitada, sem se mover adequadamente.

— Eu...- Engoliu em seco e suspirou.— Bom, eu fiquei com você todos os dias aqui, faz quase um mês.- Carmem se aproximou e segurou a mão dela para ajudá-la a beber a água sem derramar, colocou a mão livre nas costas alheias e acariciou carinhosamente.

A Terrare estranhou o gesto mas não reclamou, bebeu toda a água e voltou a recostar as costas na cama. Paula nada respondeu, apenas observou a Wollinger ali cuidando dela. Carme se afastou e deixou o copo em uma mesinha de canto.

— Neném veio me ver?- Paula perguntou com esperança.— E minha filha? Como ela está?

— Não.- Respondeu rapidamente, seca e cortante dessa vez.— Ele estava com a Rose no dia do acidente, veio apenas no outro dia mas eu o expulsei e desde então não veio mais aqui.- Cruzou os braços irritada por falar no jogador.— Sua filha vem quase todos os dias te visitar junto com aquela senhora.

Paula apenas balançou a cabeça em concordância e suspirou, não demorou para o médico chegar, este ficou surpreso ao ver a paciente acordada,  ele se aproximou e foi imediatamente checar como Paula estava, nada parecia explicar a volta repentina da Terrare, ele passou alguns medicamentos que as enfermeiras viriam aplicar e determinou uma dieta hospitalar para Paula, ela ainda ficaria alguns dias em recuperação. Mas nada disso importava, os remédios, os dias que ainda ficaria ali, Paula estava feliz por não ter morrido.

Meu querido amor - Carrare Onde histórias criam vida. Descubra agora