Café e lagrimas

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Carmem se pegou dobrando algumas roupas de Paula enquanto a morena dormia na cama de hospital, não estava bagunçado mas a platinada queria sentir o cheiro da Terrare, ela levava até perto do rosto e sentia aquele perfume doce e sorria boba, então dobrava e guardava. Depois que Paula acordou do coma, o médico determinou mais uma semana internada para que então fosse liberada. Ingrid, Flávia e Tuninha foram visitar a morena várias vezes ao decorrer dos dias dessa semana, elas já se encontravam na quinta feira, Paula estava perto de receber sua alta.

— O que você tá fazendo aí, Sururu?- Paula perguntou com a voz arrastada mas ácida como sempre.

Carmem fez um muxoxo e se virou para a Terrare, ela estava cansada de ser tratada como sempre, mesmo depois de tantos dias ao lado de Paula, mas não poderia culpá-la, para a morena só haviam se passado cinco dias desde que ela acordou.

— Estou arrumando suas coisas, está perto de receber alta, ou quer deixar tudo aqui?

— Hm.- Murmurou e desviou o olhar, estava entediada de ficar deitada naquela cama.— Você tem certeza que o Neném não veio me ver?

— De novo essa de Neném? Vocês não tinham terminado?- Carmem revirou os olhos e largou as roupas de Paula.

— Oh, escuta aqui.- Estralou os dedos e gesticulou com as mãos, mas dessa vez não haviam pulseiras para fazerem barulho, ela continuava com a mesma bata de hospital.— Não é da sua conta, ouviu? Será que pode me deixar só?

— E você quer que eu vá para onde exatamente?- Colocou as mãos na cintura indignada.

— Pro raio que o parta! Some!

— Mal agradecida! Quero ver se virar sozinha.- Carmem pegou sua bolsa e saiu do quarto, ela não iria embora, mas ficaria um bom tempo longe da morena.

A Wollinger foi até o segundo andar onde ficava a lanchonete, pediu um café e ficou sentada em uma mesa sozinha, seus olhinhos estavam perdidos e tristes, ela suspirou várias vezes sem saber o que fazer para que Paula parasse de tratá-la com tanta indiferença.

— Carmem?- Uma voz chamou a atenção da platinada, ela levantou o olhar mas continuava com uma das mãos apoiando o rosto enquanto apoiava o cotovelo na mesa.— O que está fazendo aqui? Achei que estivesse no quarto com a Paula

— Ex-bastardinha, oi.- A mão livre da Wollinger mexia sem ânimo o café com uma colherzinha.— Ela me expulsou.

— Eu vim aqui comprar um lanche, vim morta de fome, sabe como é né... Comendo por dois.- Abriu um sorriso ao falar da filha.— Eu já estava subindo para ver ela.

— Boa sorte, ela está soltando os cachorros hoje.

— Posso te perguntar uma coisa?- Se sentou na cadeira vaga na frente da platinada.

— Já esta perguntando.- Deu de ombros sem ânimo, estava frustrada.

— Por que todo esse esforço para cuidar dela? Eu achei que se odiassem... Bom, era o que parecia.

— Eu não odeio a Paula!- Se apressou em dizer.— Ela me odeia, é diferente. Mas sabe, nem eu sei porquê estou aqui, já é a terceira vez que ela me expulsa do quarto, eu deveria mesmo ir embora.

— Ela precisa de você.- Flávia disse estendendo a mão e tocando a da mais velha.— Talvez eu esteja errada, talvez vocês duas nunca se odiaram, vocês parecem que não vivem uma sem a outra, sem estarem constantemente entrelaçando os caminhos uma da outra.

— É melhor você conversar com ela.- Tentou mudar de assunto, não sabia muito bem como lidar com aquilo.— O estresse não faz bem para a condição médica que ela se encontra, pode fazer isso por mim?

— Claro, eu já estava indo mesmo. Até mais, Carmem.- A mais nova se levantou e foi em direção ao elevador para seguir até o quarto da Terrare.

Flávia chegou no andar destinado e entrou no quarto de Paula, a mais velha sorriu ao ver a dançarina.

— Não sabia que viria hoje.- Paula abriu os braços para que a mais nova fosse até ela e a abraçasse. Flávia caminhou até a Terrare e a abraçou por alguns segundos, a soltando logo depois.

— Vim fazer alguns exames de rotina, aproveitei e vim ver como você está. Se sente melhor?

— Com a cobra vinte e quatro horas no meu pé? Impossível estar bem.- Paula falou revirando os olhos.

— Ela parece querer cuidar de você... Talvez devesse ser um pouco menos dura com ela.- Sentou-se na beira da camas encarou a Terrare.

— É tudo interesse! Aquela Sururu quer a minha empresa e acha que eu vou dar mole quando voltarmos, é ruim ein!- Gesticulou com o indicador levantado.

— Eu falei com ela na lanchonete agora pouco e ela parecia bem triste.- A expressão de Paula suavizou e seu coração errou as batidas. Triste? Será que havia pegado pesado demais?

— Vamos esquecer isso. Como está sua filha?.- A morena trocou de assunto e levou uma das mãos até a barriga de Flávia e sorriu.

— Ela está ótima! Está crescendo tão rápido.- A mais nova comentou com um sorriso bobo no rosto. O celular de Flávia começou a tocar, era Guilherme, a moça atendeu e conversou por dois minutos com ele.— Eu tenho que ir, Paula.- Disse ao desligar o aparelho.— Guilherme quer me encontrar, disse que tem algo para me falar.- Se aproximou e abraçou a mais velha outra vez.— Até, vejo você na sua casa quando tiver alta.

— Tchau, garota.- Paula a viu sair.

Horas se passaram e Carmem ainda não havia voltado, a Terrare estava começando a ficar inquieta sem saber se ela voltaria dessa vez, apesar das brigas, Paula não se via longe da platinada. Quando anoiteceu, Carmem finalmente voltou para o quarto sem dizer uma só palavra, ela estava com o rosto abatido e parecia ter chorado.

— Achei que não fosse mais voltar.- Paula tentou chamar a atenção dela mas Carmem nem sequer a olhou.— Não vai me responder?- A Wollinger continuou em total silêncio, deixou a bolsa em cima da mesa e se sentou na poltrona de visitas.— Vem cá, qual é a sua?

A mais alta finalmente encarou a morena, várias coisas passavam por sua cabeça mas a pior era "ela nunca vai me amar como eu a amo." Esse pensamento a fez querer chorar outra vez mas segurou as lágrimas com todas as forças que tinha.

— Quer que eu vá embora, Paula? Me diga e eu vou, deixo você aqui aos cuidados de alguma enfermeira.

A Terrare franziu a testa e encarou a platinada por vários segundos em absoluto silêncio, não queria que ela fosse mas também não queria pedir que ela ficasse, decidiu então dar o silêncio como resposta, voltou a recostar as costas na cama e se virou de lado para não olhar para Carmem.

— Vou entender isso como um sim.- Se levantou e pegou sua bolsa outra vez, juntou as poucas coisas que Marcelo havia levado para ela dentro da mala e a fechou, pegou e caminhou em direção a porta para ir embora.

Paula se desesperou ao perceber que ela realmente ia, não era isso que queria, a queria por perto. Se sentou na cama de hospital, abriu e fechou a boca várias vezes para falar mas não conseguia formular uma frase.

— Espera!- A morena chamou, Carmem parou com a mão na maçaneta sem se virar.— Fica...- Engoliu em seco, era como se tivesse engolido todo seu orgulho.— Por favor.

A Wollinger se virou e a encarou sem saber ao certo o que fazer, mas por fim, largou a mala no canto da mesa e a bolsa em cima dela.

— Vem aqui.- Paula estendeu a mão para a mais alta que ponderou se era mesmo a escolha certa ir até ela, mas cedeu e caminhou até a cama, ficando de pé ao lado dela.— Vem.- Se afastou e bateu ao lado da cama para que ela se deitasse ao seu lado. Carmem a olhou desconfiada.— Não vou pedir de novo.

Depois de pensar alguns segundos, o que pareceu horas para Paula, a empresária finalmente se deitou ao lado da outra, a Terrare se aconchegou nela desajeitadamente por causa da vergonha. Passaram vários minutos em silêncio, as duas sem conseguir mover um músculo ou falar qualquer coisa. Carmem sentiu a respiração da menor suavizar e seu rosto se esconder no pescoço alvo, ela havia dormido nos seus braços. Paula Terrare havia dormido no calor dos seus braços.

Meu querido amor - Carrare Onde histórias criam vida. Descubra agora