No outro dia de manhã, Carmem acordou com um sorriso no rosto, tinha Paula em seus braços dormindo calmamente, as duas exprimidas na cama média do hospital, mas em uma posição tão confortável para ambas que nenhuma ousou se mover. A Wollinger decidiu que era hora de levantar para começar o dia de cuidados de Paula, afinal, faltava pouco para elas irem embora dali. Quando a platina se mexeu para sair da cama, os braços de Paula a prenderam, ela ainda dormia, parecia uma criança se agarranda a um ursinho de pelúcia.
— Fica...- A voz de Paula saiu em um murmúrio manhoso.
— Schatz...- Carmem ousou acariciar os cabelos da morena e beijar sua testa com cuidado.
Paula abriu os olhos e levantou um pouco a cabeça para conseguir olhar para Carmem. A platinada se derreteu em um sorriso quando encontrou os olhos da mulher que amava.
— Dá pra ficar quieta? Eu quero dormir!- A Terrare disse no seu tom de sempre e a mais alta riu, ela não estava sendo rude, estava sendo Paula Terrare.
— Eu tenho que tomar banho e você também, logo logo o médico chega para fazer sua avaliação.- Elas ainda estavam abraçadas, os braços de Carmem ao redor da menor e Paula debruçada sobre ela.
— Só deixo você ir com uma condição.- Fez biquinho.— Um selinho.
Carmem sentiu o coração disparar ao ouvir aquilo sair da boca da mais nova, não esperava esse pedido, seu corpo travou e a única reação que teve foi de balançar a cabeça em concordância. Paula se aproximou outra vez e colou os lábios com os da outra mulher, o beijo demorou alguns longos segundos até que Carmem ouviu uma voz bem afastando a chamando.
— Senhorita Wollinger? Senhorita Wollinger??- Era a voz do médico.— Senhorita, acorde.
Carmem abriu os olhos e viu que tudo havia sido um lindo sonho e a realidade estava prestes a desabar na cabeça dela. Percebeu que estava sim abraçada com Paula, mas esta ainda dormia.
— Perdão?- A platinada olhou confusa para o médico que estava em pé na beira da cama.
— Você não pode deitar com os pacientes.- Advertiu.
Carmem olhou do médico para Paula em seus braços e depois para o médico novamente. Beijou a testa da morena cuidadosamente para não acorda-lá e levantou da cama, deixando a outra sozinha.
— Ela pediu que eu deitasse ao lado dela, não estava conseguindo dormir.- Carmem mentiu, estava com vergonha, vergonha do sonho, de ter sido pega no flagra.
Ela e o médico não conversaram mais depois disso, ele acordou a paciente e a examinou, Paula estava progredindo cada dia mais. Carmem usou esse tempo para tomar banho e vestir uma roupa limpa, quando voltou, a Terrare já estava sozinha no quarto. As duas se entreolharam e então desviaram o olhar, ficaram caladas uma parte do dia, pareciam estar em um acordo mútuo de não falar sobre a noite em que dormiram abraçadas.
— Vamos, está na hora do seu banho.- Carmem disse após arrumar a toalha e o material que Paula precisaria para tomar banho, era a primeira vez que Carmem a ajudaria, ela estava sendo limpa com panos molhados, como acontece com pessoas em coma.
— Você vai me dar banho?- Paula perguntou com um olhar desafiador.— Nem pensar.
— Quer que uma desconhecida a ajude? ou prefere tentar sozinha? A vontade.- A platinada cruzou os braços e deu de ombros, não correria mais atrás de Paula, se ela queria ser rude, ia ganhar indiferença como resposta.
— Cobra!- Paula esbravejou e bufou.— Certo, vamos logo com isso.
Carmem se aproximou e a ajudou a sair da cama, passou um braço em volta da cintura alheia a apoiando. Paula já havia andado um pouco antes com a ajuda de enfermeiros, mas era a primeira vez que a Wollinger a segurava daquele jeito. As duas caminharam para o banheiro, Carmem a despiu com cuidado para não esbarrar nos machucados, ligou o chuveiro e a colocou de baixo, a platinada estava se molhando um pouco mas não se importou com isso, apenas se concentrou em ajudar Paula. Tentava de todas as formas não olhar para o corpo da menor, sabia que não podia tirar proveito daquele momento.
— Não vai pegar na minha bunda, ein.- Paula falou em seu tom costumeiro.
— Como se eu quisesse.- Carmem queria, mas tentava ao máximo neutralizar suas expressões, não era fácil aquela tarefa.
Paula levantou uma das sobrancelhas, estava irritada com os olhos de Carmem vidrados em qualquer outro lugar que não fosse ela. Se perguntava se era tão horrível assim olhar para seu corpo.
— Preciso lavar a perna.- Disse depois de tirar parte do sabonete do corpo.
Carmem a olhou nos olhos e suspirou, se ajoelhou no chão do banheiro e Paula apoiou um dos pés na coxa da mais alta para que ela passasse o sabonete. Carmem engoliu em seco e passou o produto em uma e depois na outra perna de Paula, ela estava de joelhos e se olhasse para frente, ficaria cara a cara com a intimidade da Terrare. Foi o pior momento para a platinada, aguentar aquele banho foi uma tortura. Quando Paula finalmente saiu do chuveiro, a Wollinger pegou a toalha para enxugá-la, passou lentamente o tecido pelo corpo de Paula, o que fez a morena se arrepiar, as duas se olhavam nos olhos, para Carmem era uma forma de não desviar o olhar.
Paula imaginou como seria ter as mãos de Carmem deslizando por seu corpo sem nada entre elas, engoliu em seco com esse pensamento e então desviou o olhar para o espelho do banheiro. Ela se sentiu diferente ao ver seu reflexo, seu cabelo estava sem vida e seu corpo mais magro que o normal, arranhões e roxos por sua pele a fizeram querer se esconder com a toalha, puxou o tecido para onde estava marcado e olhou com vergonha para a outra mulher.
— O que...- Carmem franziu o cenho sem entender. Quando percebeu o que a mais baixa estava fazendo, ela abriu um sorriso doce e amigável.— Você continua linda, Paulinha. Sei que é a primeira vez que se vê no espelho depois de tanto tempo... Mas acredite, você nunca esteve tão linda sem toda aquela maquiagem, você é tão mais bonita assim.
Paula a olhava sem saber o que responder, ninguém nunca havia falado aquilo para ela, achou a vida toda que deveria seguir padrões se quisesse ser bonita.
— Está falando isso para que eu não me sinta mais horrível ainda.- Disse baixo, nunca havia falado aquilo de si mesma, não depois que virou Paula Terrare.
— Por que eu faria isso? Eu não te suporto.- Carmem disse sorrindo.
— Cascavel! Sou eu quem não te suporta.- A expressão de Paula mudou e ela foi andando igual uma senhora para o quarto, curvada e gemendo baixinho de dor.
A Wollinger revirou os olhos e bufou seguindo a mulher teimosa, mesmo com Paula reclamando, Carmem a ajudou a se vestir e deitar outra vez.
— Agora se me der licença, preciso tomar outro banho, quinze minutos sem ouvir você reclamando vão ser um bom descanso para os meus ouvidos.
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Meu querido amor - Carrare
FanfictionA morte realmente não estava para brincadeiras, ela iria infernizar a vida dos quatro até que o dia da morte de um deles chegasse. Após a destroca de corpos e com Carmem prestes a viajar para a Europa, Paula sofreu um grave acidente de carro. O que...