Uma doce melodia cobria o quarto.
A voz suave e limpa no meio da noite murmurava uma língua sem nome, as estrelas dominavam os céus e a lua brilhava no topo da escuridão. E quando as constelações começavam a se alinhar Talitha deixava que as palavras saíssem de sua boca e dominasse seus pensamentos até elas vivessem somente para aquele momento.
As moças ficavam sentadas na frente da cama de Talitha escutando os tons mágicos da moça que penteava os cabelos em sua frente ainda no roupão de banho e saindo um pouco de fumaça.
Era a única coisa que conseguia acalmar o coração de Talitha no momento, a melodia que a acompanhava dês do dia do nascimento. A única pergunta da qual ela não sabia a resposta. Talitha tinha decorado a letra e melodia não muito depois de que começou a conseguir falar fluidamente, Blyana teve que contratar um professor de canto por não conseguir mais suportar sua cantoria desafinada.
Logo Talitha começava a aprender como controlar sua voz e poder finalmente parar de torturar a mulher, agora em alguns momentos seu pai pedia para que cantasse essa mesma canção toda vez.
Seu pai dizia que música era uma das milhares de formas de contar histórias, marcar momentos com sensações e melodias para conseguir conquistar o coração do público. Era uma forma de mostrar seu próprio ser.
Algumas batidas na porta foram escutadas e logo a música parou e uma das empregadas caminhou rapidamente para abri-la, apenas uma pessoa aparecia essa hora. O pente foi colocado na penteadeira e Talitha se virou ainda na cadeira para encarar o pai com as roupas simples e escuras e o rosto mais sério que as outras noites que ele tinha visitado.
Se levantando Talitha apresentou uma leve reverência quase mal feita, havia muita coisa para fazer.
E pelo que parecia o tempo estava acabando.
--- Boa noite, meu pai
--- Levante-se
Lentamente ela encarou seu rosto com a serenidade da brisa que acariciava levemente sua pele. O frio nos dias era mais tranquilo entretanto quando a noite caia ele parecia aumentar, a neve ficaria mais grossa com o passar dos dias e Talitha estava preocupada se teria como sair.
No último ano a neve tinha batido seu recorde e ela tinha acabado presa no meio do caminho porque não conseguia levantar as pernas.
Talitha sempre lembrava como humilhante.
Mas Killian não parecia estar afetado.
--- Porque está tão perdida nos pensamentos?
--- não estou perdida, meu pai.--- Talitha tentou responder querendo sair daquela situação de alguma forma.
Porque toda a paz tinha que ter acabado assim?
Talitha nunca se sentira totalmente confortável quando seu pai estava por perto, tudo se tornava tão rigoroso ao ponto de afeta-la. Em algumas partes ela já estava acostumada com a rigidez e frieza que seu pai transbordava com os outros contudo ele tinha respeito pelas pessoas, mas a crueldade que ele passava para seus empregados fazia seu estômago revirar.
--- Não minta para mim Talitha, o que passa em sua cabeça nesses dias --- Ele acenou para a cadeira que batia em suas pernas pedindo que se sentasse --- percebi que estava saindo bastante, até que foi para a arena no dia do apresentação.
--- Como soube que eu estava fora? --- Quando passava perto de seu quarto ele sempre estava silencioso. Quando ela tentava começar alguma interação ele sempre fugia, sempre uma desculpa.
--- Porque me preocupo com minha filha --- Ele respondeu andando lentamente em sua direção --- Isso é realmente difícil de acreditar?
Talitha se manteve silenciosa por um tempo encarando o reflexo do pai no espelho, o olhar sério não batia com o meio sorriso.
--- As vezes parece um pouco diferente --- ela admitiu mexendo levemente nas mexas que caiam em sua frente --- Toda a frieza que mostra as vezes me faz ficar desconfortável --- Talitha encarou o olhar de sangue do pai, em como processava suas palavras --- Não precisa agir como se estivesse em uma reunião importante do trabalho, podemos ficar juntos calmamente como quando eu era uma criança e você contava histórias para mim.
Killian se manteve calado por um tempo andando até a estante onde os livros que ela tinha pego da biblioteca ficavam, olhando os títulos e folheando as páginas ele acabou deixando um sorriso escapar.
--- Não sabia que continuava lendo essa escritora em particular.
--- Suas histórias são bem construídas e o romance é ótimo--- Ela respondeu girando na cadeira --- Devia tentar ler algo mais fantasioso além de seus volumes educativos.
--- Mesmo sabendo que terá alguns capítulos vulgares?
Talitha ficou quieta por um momento o encarnado, seus dedos se apertaram na borda do assento se surpreendendo com a resposta que foi dada.
--- Como sabe que tem esse tipo de coisa em um livro que nem mesmo encostou?
Era a vez de Killian se calar.
--- Pedi para uma das empregadas que convive com você me contar um pouco sobre ele já que vivia falando horrores sobre a autora --- Ele fechou o livro em uma batida rápida ecoando no quarto silencioso.
Talitha conteve o sorriso para não jogar aquele peso no quarto novamente, ela não poderia deixar que todo seu esforço para mudar de assunto fosse embora.
--- Como a auxiliar da casa Lilura é?
Não dá para fazer nada com ele assim.
--- Eles escolheram bem nesse caso, o competidor assim não é lá, mas muita coisa se souber usar as cartas certas eu terei um leve contratempo --- Killian se sentou na beira da cama ainda com o livro no colo mexendo um pouco nas marcações nas páginas --- O nome dela é Dália Lilura, é inteligente e consegue compreender a situação rapidamente, tem um certo desejo por controle, mas continua sendo atada a alguma coisa.
--- Que coisa?
-- A família tradicional que ela está represando no momento, provavelmente ela será quem cuidará da casa e do reino --- Se eles vencerem. Talitha pensou sorrindo um pouco quando continuava --- Dália parece ter um desejo grande por liberdade ou controle, mas eu já tomei conta dela pessoalmente.
--- O chá dessa manhã? --- Ele perguntou --- aquele que você persuadiu moças só para poder brincar com espadas?
--- Elas precisavam de um pouco de diversão na vida, vão viver um vida forçada e recatada de qualquer forma --- Talitha tentou se justificar encarando o céu estrelado --- Devem pelo menos aproveitar a juventude antes que fiquem presas dentro de casa com uma criança nos braços.
Seu pai suspirou deixando o livro de lado.
--- E como está tomando conta da auxiliar?
--- Com ameaças.
Ele parou por um momento analisando a filha sentada em sua frente que continuava olhando para o outro lado da varanda, em como o céu estrelado era melhor visto das Terras Neutras do que em Parastin. As luzes da cidade grande fazia todas as estrelas serem apagadas, mas com essa parte Talitha podia admirar uma vista que seria um marco em sua mente.
--- ameaças?
--- E ainda estou esperando no minha resposta --- Ela repentinamente mudou de humor começando a suspeitar que seu plano não tinha dado certo --- Eu não quero ir para medidas extremas com ela, mas se continuar assim não terei muita escolha.
--- E o que seriam suas medidas estremas Talitha?
--- Caso ela não fazer o que eu disse não só você, mas todos desse palácio e do império irão saber --- Talitha respondeu --- então não se preocupe, meu pai.
Talitha encarou as empregadas.
--- Que horas são?
--- Onze e meia, senhorita.
Ela não me testaria, não é?
Talitha conseguia lembrar muito bem do rosto da moça quando a ameaçou, como sua pele negra tinha perdido o calor e toda sua chance de poder honrar sua casa ser colocada contra a parede.
--- vamos esperar então. --- Killian disse --- Não tenho pressa para ir falar com seu irmão, parece ter mais problemas aqui.
--- Come está indo a competição para Liam?
--- Mais devagar.
Talitha sorriu levemente.
Os dois esperaram a meia hora restante passar conversando sobre a competição e outras estratégias, ela usaria todo o conhecimento possível de seu pai para poder ter uma abertura melhor para a vitória. Talitha ainda não sabia qual seria a primeira prova e estava incerta sobre qual seria o começo, não poderia começar com algo tão impactante como uma batalha até a morte ou algo parecido.
O tempo correu com mais rapidez que esperava e exatamente a meia noite batidas na porta foram dadas e uma empregada de uniforme azul e branco apareceu com uma bandeja prateada que carregava uma única carta.
Talitha sorriu.
--- Minha senhorita tem uma carta para a princesa Talitha Miykal --- Ela disse baixinho contanto os dois puderam escutar pelo silêncio, ela pensou que sua casa teria mais força como Dália teve com ela entretanto a única coisa que ela viu foram presas assustadas.
Isso é patético.
--- Obrigada --- A moça que a escutava cantar pegou a carta fechando a porta logo depois.
Entregando para Talitha ela analisou o envelope sorrindo a perceber a diferença de apresentação, o papel era mais escuro e a cera usada para o selo era quase negra. E sem a lavanda que ela tinha gostado.
--- ela realmente não gostou da ameaça.
Com um estalo o envelope se abriu e Talitha tirou sua resposta, olhando para o pai por um momento ela pode perceber que ele também queria saber o desfecho de sua proposta.
“ A casa Lilura aceita a proposta de apoiar parcialmente a casa Miykal para a competição imperial, todos os acordos serão fechados na próxima tarde como a princesa Talitha Miykal desejar.
Ass. Dália Lilura.”
--- Então sua coragem vai até certo ponto.
Talitha deixou o envelope de lado apoiando as costas na penteadeira quando olhava para o pai em silêncio.
--- Há alguma coisa que precise, meu pai?
--- Logo a primeira competição vai chegar, está preparada para o começo do jogo?
--- O jogo começou no momento em que recebi aquele tapa de Liam --- Ela respondeu conseguindo um sorriso do pai --- Pelo menos para mim foi assim, para Liam deve estar tudo mais fácil.
--- Preocupe-se com você e não com seu irmão --- Killian se levantou lentamente encarando a vista dos montes --- Não sabia que ainda lembrava dessa música, pensei que agora mais velha esqueceria por conta dos afazeres.
--- Não posso esquecer de algo que me marcou tanto.
O pai sorriu quando pediu a filha:
--- Então cante sua belíssima melodia mais uma vez, minha filha.
E por horas a canção rodou todo o palácio.
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A Vilã Da Ópera
Fantasy!Postagens de Segunda e Sexta! A magia sempre fez parte do império de Arden. Uma prova desafiadora é quem seleciona o destino de uma nação, quando uma princesa chega às paredes do palácio. Depois de anos sendo presa a uma vida que não lhe pertence...