A Vilã Da Ópera

6

Talitha encarava a maior rocha de seu caminho de baixo, os dois rostos completamente iguais e o rapaz completamente a parte. Pelas roupas deveria ser alguém importante , seu olhar parecia perfura-la enquanto segurava a mão de seu pai com mais força. Queixo marcado e olhos afiados.

Uma raiva honesta.

--- Lembre que é uma festa --- Seu pai disse a puxando de volta para a terra e os saltos desconfortáveis --- Não um campo de batalha.

Ele não estava completamente errado, havia bebidas borbulhantes e comida para batalhões. Mas aquela era a entrada para milhares de criaturas perigosas, pessoas sedentas por poder colocadas juntas em um palácio de cretinos impiedosos para acertar uns aos outros.

--- Claro --- Mas ela não poderia dizer algo que ele já sabia.

Talitha achou Liam em uma roda de pessoas rápido o suficiente para começar a preparar seu terreno, era para isso que o encontro se tratava. Não só iniciar a apresentação dos participantes mas também a formação de grupos, é o momento perfeito para se aliar mesmo que depois essas alianças caiam em ruínas.
Quando olhou para cima novamente as duas pessoas que tinham pregado sua atenção haviam desaparecido existindo apenas o olhar gentil e fiscal do Imperador que foi respondido com uma breve e longa reverência de cabeça, Talitha se sentiu um pouco intrigada pela princesa que se sentava ao seu lado.

Seus cabelos loiros eram diferentes de qualquer tipo que ela tinha visto, cabelos que pareciam ser feitos com fios de ouro, uma forma bem direta de chamar atenção. Entretanto seus olhares eram completamente diferentes, a garota irritada não tinha a mesma gentileza que seu pai enquanto encarava. Pensando mais o único que tinha esse mesmo olhar era o rapaz ao seu lado.

Será mesmo que ele é o príncipe herdeiro? Nunca ouvi um comentário sobre o príncipe da família imperial ser moreno.
Sua mão foi apertada com mais força quando notou que estava parada no meio do salão com as duas pessoas que passavam por sua análise, o vestido azul Royal destacava seus cabelos presos em cachos claramente moldados para o momento e o leque aberto cintilava como cristal.
Um pavão enorme. Foi como Talitha descreveu em sua mente.

Ao seu lado o moreno caminhava alguns passos para trás analisando cada passo contado da princesa dourada, seu rosto sério fazia seu olhar ser ainda pior. Ele parecia querer mata-la quando os dois pararam com o resto das pessoas em uma roda encarando a conversa tão intrigante.
Um silêncio repentino, o desgosto da princesa só parecia aumentar e Talitha só queria sair daquela situação e tomar um pouco daquela bebida borbulhante que a chamava segundo por segundo.

--- Precisa de alguma coisa?

--- Então é realmente a filha de Killian? --- A menina perguntou abanando o leque no rosto.

--- Se tivesse prestado mais atenção ao seu redor teria escutado minha chamada, mas respondendo sua pergunta, sim sou Talitha Miykal. --- Seu olhar analisou a princesa mais uma vez, fazendo a imagem da ave ser cada vez mais aparente --- E você?

A princesa desatou a rir junto com o coro de meninas que se juntavam cada vez mais perto.

--- Está falando sério? --- Ela fechou o leque em um movimento preciso, seus dedos mal se embolavam quando o deitou na leve elevação na saia --- Sou Elise Eniteo.

Elise de perto não parecia tão ameaçadora assim, sendo simplesmente uma princesa fechada igual ela só que de uma forma mais gentil e delicada. Como uma jóia que é sempre mantida segura guardada nos mais preparados esconderijos, mas aquele olhar de antes a perturbava como uma peça mal encaixada.

Talitha precisava ter certeza do que estava fazendo antes de dar um passo em falso, precisava saber onde ela poderia e não poderia pisar. Seu olhar correu pelo salão, pelos olhares e os sussurros tão familiares para seus ouvidos até chegar no grupo de meninas anterior, as que riram junto com ela.

--- São suas amigas? --- Elise encarou o grupo por cima do ombro sorrindo novamente quando se virou para responder:

--- As conheço dês de pequena, são como irmãs para mim.

As meninas se surpreenderam com a resposta voltando a atenção para Talitha e acenando de volta, uma barreira em sua mente subiu imediatamente quando elas responderam como se não tomasse cuidado alguém poderia roubar seus pensamentos de si.

Algo estava errado o suficiente para se sentir na pele, agora ela começara a perceber o efeito que sua falta de magia poderia trazer.

--- Se quiser poderia ficar conosco na festa do chá da próxima semana, ainda faltará algumas semanas para a primeira competição e companhia nunca é demais --- Parecia um acordo que valeria a pena ser cumprido, mas Talitha já tinha puxado o gatilho e estava pronta para cumprir suas ideias iniciais.

--- Uma pergunta, é uma auxiliar ou uma competidora?

Silêncio pairou pela pergunta direta.

--- Sou uma Auxiliar de meu irmão --- ela respondeu --- e isso tem alguma importância?

--- Sim --- Talitha respondeu rapidamente --- Porque eu não pretendo ficar convivendo com uma sombra enquanto eu tenho mais trabalho para fazer sendo uma competidora.

Choque correu pelo salão como o som de uma bala, o azul no olhar dela se escureceu quando a informação passou por sua cabeça. Talitha conseguia escutar o leque sendo apertado entre os dedos enluvados.

--- Nenhuma criança secundária foi feita competidora, nós servimos para ajudar os primogênitos.

--- O imperador não parece ter os mesmos ideias --- Todos os olhares subiram rapidamente para o homem apoiado no muro de seu trono sorrindo enquanto apenas encarava, o senhor parecia se divertir com o encontro intenso. --- Nossa família teve a aprovação do imperador para eu participar da seleção como uma competidora oficial. --- O olhar de Talitha se suavizou para dizer --- E a família Miykal agradece pela oportunidade.

O imperador se manteve em silêncio enquanto toda a informação era ingerida, o giro no salão fez a mão de Killian se suavizar agradando sua visão. Elise se manteve em silêncio enquanto Talitha a analisava mais uma vez fitando cada pedaço de seu corpo para encontrar o que tanto queria, o olhar escuro e vivido, a magia e a força sendo contidas. Sua verdadeira natureza presa.

Como todos que estavam presos a aquele lugar.

--- Agradecidamente eu recuso sua oferta majestade, mas se precisar de alguma coisa estarei na mesa de aperitivos --- Talitha segurou a ponta do vestido precisando de um pouco de esforço para levanta-lo indo em direção a mesa.

O rapaz continuava encarando em silêncio o tempo todo, Talitha decidiu ser um servo direto da princesa. Um servo que estava furioso por ela ter insultado sua mestra com uma simples notícia que logo se espalharia.

Talitha não pode segurar o sorriso em seu rosto.

Seu pai continuou perto da escada acenando para o imperador e indo em direção ao grupo de pessoas mais velhas, provavelmente antigos amigos e agora aliados, era uma oportunidade para todos de qualquer forma.

O rosto da princesa ainda rodava os pensamentos de Talitha que se segurava com muito esforço para não rir, era como ver um pavão raivoso. As penas abertas e eufóricas quase acabaram com sua compostura, ela precisava manter essa aparência por muito mais tempo para poder conseguir continuar em seu plano.
Não faltaria muito tempo, não quando um rosto tão familiar havia tomado sua atenção.

--- Se não se importar você está na frente das bebidas e esse vestido é grande demais para eu dar a volta. --- Talitha se virou rapidamente encarando o rapaz em sua frente.

Cabelos ruivos eram amarrados em um rabo de cavalo baixo e suas roupas eram em tons de marrom e dourado, as sardas faziam sua aparência ser um pouco mais leve porém não tirava o fato de que seus olhos dourados a analisavam de uma forma estranha.

--- Mikael?

Toda a rigidez pareceu desaparecer quando Talitha pareceu o reconhecer, mas para sua surpresa ele não parecia tão feliz com a dedução.

--- A não, esse é meu primo eu sou o auxiliar dele --- Um sorriso se formou rapidamente enquanto ele abanava a vergonha com as mãos na nuca --- Ele ainda é conhecido por causar problema?

--- Bastante.

--- Foi ele quem fez o acordo ser quebrado não é? ---- Talitha acenou em confirmação e o peso caiu sobre seus ombros --- Eles não deveriam ter deixado que ele tomasse as rédeas assim.

--- Jovem, você não se apresentou.

O rapaz pareceu se aprontar rapidamente estendendo a mão para um aperto, nesse ângulo ele não parecia tão amedrontador. Era até divertido.

--- Me chamo James Aideen. --- As mãos do rapaz foram aconchegadas pelas luvas negras vendo como ele girava lentamente sua palma para baixo indo beijar as costas de sua mão, Talitha não recusou nenhum dos movimentos ---  É um prazer conhecê-la.

Os Aideen eram muito bem conhecidos por serem a família com menos influência de todos os participantes, foram os últimos no placar e tiveram as piores pontuações de três gerações. Mas eles tinham grandes influências em terras e eram incríveis mercadores então conseguiram se estabelecer e não foram atingidos pela ruína, mas se Mikael fosse de verdade um competidor essa família teria sérios problemas.

Talvez influenciasse os outros competidores.

Influenciasse ela.

--- Estou quase deduzindo que todos de sua família são galanteadores.

--- Porque?

--- Mikael disse e fez as mesmas coisas que o senhor agora
.
--- Não me chame de senhor por favor --- ele disse --- eu não sou tão velho ainda.

--- Tudo bem, jovem.

O ruivo esticou o braço para pegar uma taça com espumante encarando todas as pessoas conversando e dançando, o frio já teria tomado conta dos exteriores a esse ponto e ainda assim o salão continuava sufocante. O calor parecia aumentar cada vez mais e Talitha começava a pensar que um pouco de frio realmente não era tão ruim.

--- Foi curioso o que disse para a princesa Elise --- Um gole na bebida deu uma pausa breve em sua fala --- Ela realmente pareceu furiosa quando disse que ela era uma sombra.

--- E qual é o problema?

--- Na língua dela isso é chama-la de inútil --- descartável.

--- Aquele pavão nem vai se importar --- Talitha havia falado sem pensar.

O ruivo foi cortado pelo riso surpreso e logo um engasgo, enquanto ria em altos pulmões, a bebida quase derramando no chão e um rapaz com um ataque de tosse a fez entender que jamais deveria fazer uma piada dessas com pessoas ao redor.

Ela quase pensou em rir junto, mas um passo apressado a acordou.

Seu olhar caiu rapidamente no moreno que ia em sua direção, por um momento Talitha pensou que fosse para ajudar o rapaz quase roxo porém quando ela percebeu que seu olhar recaia somente sobre ela algo em sua peito se agitou.

Ela precisava sair do centro de atenção.
Agora.

Rapidamente ela entregou um lenço de seu bolso para James que agora parecia ter conseguido acalmar o pouco da euforia.

--- Sinto muito --- ela disse e começou a correr indo até às portas de vidro zarpando pelos jardins.

Para sua falta de sorte o moreno a seguiu por cada virada.

As pessoas os encaravam com atenção enquanto o moreno fechava as portas de vidro em suas costas sentindo a ventania fria e encarando o ponto vermelho e dançante que corria em direção ao labirinto de gramado, ela ainda estava em seu campo de vista então sem esperar mais um minuto ele continuou a correr.

Talitha xingava entre os dentes amaldiçoando a pessoa que fez aqueles sapatos horríveis, Com o caminho feito de pedrinhas teve a certeza que em algum momento de sua fuga cairia. Os saltos eram finos demais para aquelas terras, eles tinham sido feitos para pisos polidos não terra e pedra.

Encarando a entrada de um labirinto uma única saída apareceu, ela só precisava fazer o rapaz se perder dela. Talitha realmente não queria ter que brigar em um vestido daquele tamanho, seus dedos se apertaram nas camadas vermelhas como se tivessem em alguns dos treinamentos de seu pai. Em como procurar por mais velocidade e saber exatamente deduzir o caminho para uma saída.

Formas de fuga tão bem decoradas.

--- Pare agora mesmo!

Talitha sorriu, ali ela não teria ninguém analisando seus passos ou julgando cada palavra. Naquele momento uma liberdade selvagem inundou seu peito e tomou conta de suas ações, toda adrenalina corria em seu corpo quando tomava seu caminho pelo labirinto sempre escutando o rapaz perto de seu encontro.

Mais um pouco, só mais um pouco.
Com um movimento rápido ela correu para um dos banquinhos que tinha passado antes pulando na borda e tendo a pouca visão do topo do labirinto. Cinco segundos de visão milagrosos. Talitha olhou para trás e ainda conseguia ter ver o rapaz.

--- O que você quer?

--- Como ousa falar com a princesa daquela forma! --- ele gritou --- não tem amor por sua própria vida?

Pelo amor dos deuses, alguém precisava prender o pobre menino nas vigas.

--- Se você tem amor por sua vida seu palerma, vai embora --- ela respondeu no mesmo grito --- Está me estressando.
Talitha começava a se cansar a esse ponto, se tivesse escolhido usar um terno ou qualquer vestido mais simples teria sido mais agradável entretanto nenhum dos deuses havia informado que ela teria que correr de um lunático.

--- Volte aqui!

Com um movimento ágil ela parou de correr, virou a mão e depositou um tapa em seu rosto. A marca de seus dedos tinha sido desenhada sobre ele, mas não tinha a mesma força que deveria ter porém o impacto continuou o mesmo.

Um encontro de olhares a fez correr mais rápido.

--- Me deixa em paz lunático!
Ela tinha deixado o rapaz para traz, ele deveria ter parado de perseguir depois daquele tapa. Talitha tinha agido pela emoção e agora todo plano poderia ter sido arruinado por causa de um babaca lunático, ela precisava de pessoas para formar seu terreno e agora o rapaz poderia ter destruído tudo.

Essa não era minha melhor ideia de passar a noite.

Andando com calma Talitha acabou encontrando o centro do labirinto, uma grande área de cascalho e banquinhos pelos quatro pontos do círculo onde uma grande fonte se residia. Nenhuma flor ou planta informando mais uma vez o inverno, a água ainda corria, mas claramente estava pronta para congelar alguém.

Ela se sentou na borda da fonte passando os dedos pela água e sentindo a frieza em seu toque, Talitha fez uma concha com as mãos passando a água fria pelo pescoço e nuca congelando o suor e acalmando seu sangue. Ela certamente precisaria de um longo banho quando chegasse no quarto.
Tinha acabado. Ela havia o deixado para trás.

Quem era ele afinal?

Nenhum servo ficaria tão fissurado em seu mestre a esse ponto, ela perderia a cabeça a esse ponto.

Suas mãos levantaram levemente a saia passando a água nas pernas e pegando a lâmina que se guardava em seu calcanhar apontando diretamente para a garganta do rosto furioso que a encarava pelas costas.
Ele estava mais perto do que esperava.

O rapaz se encontrava colado com a borda tampando a luz da Lua, suas roupas amarrotadas e a mão marcada em seu rosto eram claramente o sinal de sua honesta raiva. A lâmina encrustada por pedrinhas cortava o meio de sua garganta a lâmina sendo refletida no olhar do rapaz que também a examinava.

--- Quem é você e porque está aqui?

--- A princesa...

--- Pare de mentir para mim --- Ela interrompeu colocando surpresa em seu olhar --- sei muito bem que estava mentindo para mim então cuspa a verdade antes que eu o obrigue.

Ele se silenciou e seus olhos pareceram faiscar.

Mesmo com as sombras o azul era vivido em seus olhos como uma faísca lutando para viver. Era um diferente que atraiu a curiosidade de Talitha mais do que os segredos de Elise.

--- Porque está levando uma adaga para um Baile?

--- Porque talvez algum lunático comece a correr atrás de mim e eu tenha que fugir para um labirinto para poder certificar minha segurança --- ela disse sendo outro tapa em seu rosto --- E que mesmo não entendo os milhares de avisos anteriores ele ainda continuou seguindo.

--- Quando alguém ofende a honra do império acaba tendo essas consequências --- Ele se inclinou, próximo demais --- Eu vou quebrar seu pescoço.

--- Mas não irá se mover.

Seus dedos se apertaram na bainha sentindo o respirar quente acariciar seu rosto, era abafado demais. Ela conseguia imaginar o vermelho escuro tingindo a lâmina, não tinha usado vermelho atoa.

--- Como pode a princesa ter escolhido alguém tão selvagem para servi-la? Pensei que moças como ela gostavam de pessoas educadas.

--- Está me insultando.

--- Você me insultou muitas vezes essa noite meu senhor então tomei a liberdade de entregar na mesma moeda.

Silêncio mais uma vez.

--- Quem é você? --- Ela perguntou suavizando um pouco a mão da adaga, mas não o suficiente --- E o que quer?

Seu olhar continuava em seu rosto enquanto o silêncio os rodeava, tudo parecia ter perdido a adrenalina quando Talitha parou para respirar. O som da água caindo ao lado era a única corda que prendia sua cabeça no lugar, os dedos se apertavam nas laterais pontudas das joias na bainha esperando a resposta do moreno.

--- Ethan.

--- Não tem sobrenome? --- Ethan respondeu com um aceno negativo demorado.

--- Você deve ser mesmo um servo dela então --- Talitha passou a mão pelo peito do rapaz procurando o broche, mas nada se mostrava no casaco branco --- Você é mais espertinho que o outro.

--- Outro?

--- Ele foi burro o suficiente para usar o broche imperial sem ao menos esconder --- Ela disse sorrindo --- ele achou que eu não fosse reparar.

Talitha viu um pequeno sorriso sarcástico aparecer no rosto de Ethan, ele parecia ter se agradado com o comentário.

--- Você não respondeu a pergunta Ethan --- Talitha puxou novamente a linha que desconcentrava Ethan, um olhar mais calmo residindo seu rosto --- Porque me seguiu até aqui?

--- Porque é uma ameaça.

--- Entenda uma coisa Ethan, que será uma grande lição futura --- ela começou --- todos esses nobres são ameaça, principalmente para você, caso um perigo aparecer quem você acha que eles jogarão no inimigo primeiro? Se for para salvar a própria posição essas pessoas jogarão inocentes como você no inferno sem remorso.
Ele se calou mais uma vez.

--- Ninguém aqui é santo, todos somos pecadores de alguma forma.

--- E porque você é uma pecadora?
Fora a vez dela de se manter calada.

--- Talvez por enfiar essa adaga no seu pescoço.

--- não vai --- ele respondeu --- sua mão está tremendo pelo cansaço e depois de chamar tanta atenção não vai querer causar uma cena ainda pior, além de que não tem lugar nenhum para esconder um corpo em um labirinto como esse.

Talitha odiou ele estar certo.

Seus dedos tamborilaram a adaga pensando várias vezes antes de abaixa-la, rapidamente ela percebeu que tinha deixado outra marca em seu corpo. Uma linha vermelha em seu pescoço.

--- Jogue um pouco de água antes que faça uma marca, uma hora teremos que voltar.

--- toda vez que fala me dá mais vontade de te jogar de jogar nessa fonte. --- Talitha percebia que Ethan era folgado o suficiente para pensar que só porque ela tirou uma arma de seu pescoço ele estava bem.

--- se me jogar te afogarei nela e te deixar ser petrificado pelo inverno --- ela respondeu --- acho que os corvos adoram um picolé de vez em quando.

Ethan riu.

Talitha se levantou segurando o rapaz pela gola e jogando suas costas na fonte, guardando sua adaga na coxa ela encarou o rapaz encharcado.

--- Gostei da nossa conversa, mas venha falar comigo quando quiser dizer a verdade --- Ela se virou deixando o rapaz sozinho com seu choque, o vestido vermelho tinha se tornado um rastro notável na noite e Ethan podia sentir que talvez parte do vermelho de seu vestido fosse dele.

Talitha se destacava no escuro e isso era um fato.

Ela se virou mais uma vez encarando o rapaz jogado na água e parou na saída por um momento ainda com a memória do caminho fresca em seus pensamentos:

---- Até nossa próxima conversa lunático mentiroso.

O rastro vermelho foi seu único vestígio.

Ethan estava em choque.

Completo choque.

Tinha sido jogado em uma fonte congelante e agora se encontrava de frente para as portas de vidro com Nicolas esperando em sua frente se assustando com o que encontrara.

--- Ethan pelos deuses você é burro? Correr desse jeito foi uma loucura.

--- Eu descobri Nicolas.

--- Você precisa de uma toalha agora antes que congele.

--- Ela é terrível.

O moreno parou encarando o príncipe encharcado.

--- O que você fez?

--- Cai na fonte.

Nicolas abriu uma brecha da porta chamando um dos empregados para pegar um toalha, mas mesmo com toda comoção e o frio se prendendo a seus ossos Ethan só conseguia pensar em uma coisa. O jeito que Talitha o encarou quando deu uma última olhada, a coisa que rodava em seu olhar não era de uma pessoa comum.

Esse mesmo olhar tinha intrigado cada passo que dava ao jardim e também a atenção de seu pai dês de que chegara, Ethan agora sabia o que tinha chamado a atenção de seu pai e agora descobriria o que era aquela coisa.

--- Ela é mais esperta que eu pensava.

--- Nada de artimanhas agora Ethan, eu vou te levar para seus aposentos --- Nicolas o enrolou em uma das toalhas já conseguindo sentir o calor acolhedor que o esperava --- Não faça uma comoção igual da última vez.

Ethan se manteve em silêncio enquanto olhava para os lados procurando o vestido vermelho, mas era óbvio que ela não estaria lá. Não quando toda a atenção tinha se virado de uma forma contra ela, todo um trabalho jogado no lixo por causa dele.

--- Ela acha que eu sou um servo.

Nicolas parou no corredor o encarando pedindo uma explicação.

---- Ela deduziu que era um servo de Elise por conta do desespero, mas isso não vai durar muito.

Ele teria que se aproveitar desse momentos.

--- Você é um idiota muito sortudo.

--- Preciso que amanhã quando o Sol nascer pegue alguns documentos para mim.

O azul de seu olhar se escureceu e o moreno entendeu o que isso significava. Procure qualquer vestígio da família Miykal e traga para mim. As portas de seu quarto se abriram e Ethan deixou que a luz do luar cobrisse seu corpo, ele tinha conseguido o que precisava e agora poderia finalmente descansar.

Descansar com o olhar sanguinário perfurando sua nuca.

Até nossa próxima conversa lunático mentiroso.

E enquanto dormia encarando a lua uma voz começou a preencher seu quarto, leve e doce como uma forma de sua mente o lembrar de um momento mais antigo que o tempo.

Ethan fora reconfortado por essa canção.