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“Eu vou ficar fora por um longo tempo dessa vez, tome conta das coisas para mim. E antes que eu esqueça e tenha que mandar outra carta eu tinha uma reunião com o chefe então cuida disso para mim, ele vai entender.
Ass. Sua amiga querida”

--- que desgraçada.

A mulher vestida de couro ficava sentada na cadeira apoiada na parede enquanto apertava o papel entre os dedos, ela usava um uniforme de couro e cintos que a faria desaparecer no escritório se não fosse a pouca luz da Lua. As unhas longas perfuraram o papel e ela suspirou como se pudesse a tirar da situação tão repentina.

--- Ela some mais uma vez e quem tem que tomar conta de toda a bagunça que ela deixou? Eu --- As mãos bateram na mesa em sua frente deixando que os matérias caíssem no chão.

Todos os mapas se desenrolaram e o chão antes limpo coberto por um grande tapete vinho foi coberto por áreas rabiscadas e tinta criando uma mancha na ponta do tecido. Pela janela ela espiou os becos e as pessoas que andavam por lá, uniformizadas e armadas até os dentes, conseguia ver de longe lâminas em algumas costas e calibres pendurados nos cintos escondidos pelas capas longas e escuras. Eram como criaturas das sombras.

Ótimos espiões.

Pessoas que ajudavam a fazer o trabalho sujo quando o preço era bom, o mundo dos banidos e negados.

E agora ela devia tomar as rédeas de tudo, mais uma vez.

Talvez ela pedisse um aumento, não, definitivamente pediria um aumento.

--- Eu não sou paga o suficiente para isso.
A mulher deixou o escritório de lado e começou a andar em direção a porta não se importando com a bagunça que deixa para trás. Ela não se preocupou em usar o capuz ou a capa, sabia que pelas ruas que passaria não haveria nada além de ratos e provavelmente algumas pessoas que ela não deveria chegar perto.

A única coisa que pegou foi um broche colocado no cinto, dois ossos cruzando na bainha de uma adaga. A prata reluzia quando ela apareceu na luz e pode perceber que as pessoas ao redor entendiam a troca de lugares. Tinha se tornado algo muito habitual e eles começariam a suspeitar se isso ficasse mais frequente.

Poderia ser o caos.

Sua pele negra se fundia com o couro do casaco e todo o conjunto escuro que ela tinha ganhado da amiga, todos os cintos presos nas costas e na cintura a faziam pensar que poderia acabar com um batalhão inteiro. Quando passava por um dos espelhos no final da escada que levava a entrada da loja ela encarou a frase que as duas tinham pintado como parte do presente que ganhara.

Aí vem problema.

Ela não dizia, mas tinha gostado da frase.
Conseguia descrever a mulher em três palavras fáceis.

Ela encarou o espelho por mais tempo ajeitando seu cabelo volumoso enquanto tentava de alguma forma esconder todas as joias que adorava usar em seus cachos, havia ladrõezinhos demais nas ruas nesse horário e desse vez ela não poderia pegar o atalho pelo teto das casas para não chamar atenção.

--- E eu nem sei o rosto do chefe --- Tirando um papel do bolso ela abriu o pedaço amassado de papel com o endereço que sua amiga tinha usado para encontra-lo, não teria como mudar na vez dela --- pelo menos poderia dizer o endereço, na próxima vez eu vou joga-la em um dos telhados.

As pessoas encaravam suas pequenas tatuagens no rosto, uma linha branca passando por suas bochechas e cartilagem superior cruzando com as três cicatrizes juntas em seu olho direito. A ferida tinha sarado a anos, mas de vez em quando o vento passava e ela podia sentir a ardência voltar, graças a amiga ela não tinha perdido a visão.

Era uma das primeiras missões que participará e sua amiga parecia ter muito mais experiência mesmo sendo muito jovem, as duas eram jovens demais para estar em uma missão como aquela. Elas tinham que acabar com um animal que estava dando problema para a passagem dos lotes de exportação, não parecia ser algo tão impossível até ela ver o que o animal era. Um lobo do tamanho de um cavalo, relembrar fazia seu olho voltar a doer.

Quando chegaram a onde todos os produtos paravam elas tinham encontrado aquele animal acordado provavelmente procurando alguns dos outros veículos para destruir, mas o que ele encontrou foram duas meninas que mal sabiam segurar uma arma. Corrigindo, uma não sabia usar uma arma porque sua amiga tinha olhado nos olhos do animal e conseguido atirar no ombro da fera.

Por conta de sua covardia ela tinha quase perdido a visão e sua amiga tinha ganhado uma cicatriz junto com ela, depois de muita luta e muitos gritos sua amiga tinha conseguido desacordar o lobo e amarrar seu corpo com força até que os reforços chegarem. Tinha muita coisa que ela se surpreendera naquele dia, entretanto existia duas coisas que se destacavam.
Em como ela não tinha morrido e o que era aquela coisa em seu olhar, em como sua amiga tinha uma energia letal naquela idade.

Ela nunca contara essa parte da história.
Mas não era de relembrar o passado quando estava prestes a encontrar a pessoa com que sua amiga ficava dias discutindo, escutava que era uma pessoa totalmente ignorante e incapaz de entender que não vive a mesma forma que ela viveu. Já tinha conseguido pegar muitos rancores dessa pessoa por sua descrição.

Se fosse mais um nobre mesquinho ela provavelmente iria jogar a disciplina pela janela e deixaria uma cópia de sua cicatriz no rosto daquela pessoa com o broche.
Saindo das partes escuras da cidade ela começava a passar pelo centro iluminando, pelos prédios de vidro e as milhares de lojas que cativava a elite com apenas uma brisa. O reino além de ter as melhores forças armadas comportava as melhores da elite, o que fosse que o rei estava fazendo funcionava.

Mas uma coisa que não mudava era os olhares.

Ela confirmou mais uma vez o endereço se irritando cada vez mais ao saber que seu chefe era um nobre, como uma pessoa como essa controlaria todo o submundo do reino e as pessoas que lá viviam era uma pergunta que ela adoraria fazer quando o encontrasse.

As ruas começavam a ficar cada vez mais claras e padronizadas sendo mansões ao lado de mansões, na próxima vez que sua amiga pedisse algo assim negaria no primeiro segundo que ela abrisse a boca.
Parando em um grande portão ela encarou o número da pequena torre junto com os guardas que cuidavam da entrada, não era um nobre qualquer.

--- Nome?

--- Eris --- Ela respondeu alto o suficiente para que o guarda da torre escutasse --- estou no lugar de minha superior para encontrar com a pessoa dessa residência.
Como ela odiava ter que ser formal, de onde ela vinha as coisas eram muito mais fáceis.

--- A senhora desta residência não espera ninguém que se chame Eris.

Então é uma mulher.

--- O seu jumento não escutou que eu estou substituindo minha superior? --- Arrancando o broche da cintura ela jogou ele em sua direção acertando o peito do uniforme, ouve silêncio por um longo tempo --- Pode abrir o portão agora?
Os dois homens se entreolharam antes de ir para um dos controles e abrir o grande portão, Eris passou orgulhosa quando se virou para o rapaz da torre gritando novamente antes de começar o caminho do jardim de entrada
.
--- Da pra devolver o broche?

Sem esperar muito o broche foi devolvido em um movimento.

--- Muito obrigada!

Ela podia notar que era um outro nível de elite, alguém que conseguisse com facilidade tomar controle de uma parte do reino. E somente as pessoas que eram ligadas ao rei tinham esses recursos e capacidade para enfrentar um bando de Mercenários e assassinos de aluguel, seria divertido poder se entreter com a raiva súbita da senhora que morava ali.
Deveria ter me arrumado mais.

Eris pode notar que até às flores pareciam ordenadas, todas as coisas nessa lugar pareciam ter sido estrategicamente para fazer seu próprio papel. Somente ela estava fora de lugar.

Parando na porta da mansão ela deu pequenos toques na porta antes de uma moça não muito mais velha que ela abri-la, uniformizada ela deu espaço para que pudesse passar encarando a entrada. Era o paraíso dos ladrões.

Uma grande escadaria que ligava para o segundo andar e duas portas laterais que levavam para os cômodos do primeiro andar, mesmo com as artes nas paredes e a riqueza nas decorações ela ainda sentia que a mansão era vazia demais. Vazia de vida, todas as cores claras a faziam pensar que a mansão fosse um tipo de gaiola.

--- então ela mandou uma substituta.

As portas de cima se abriram e a de suas costas se fecharam quando uma senhora usando um vestido vinho e belas pérolas no pescoço apareceu, seus cabelos negros estavam presos em um penteado simples que compunha pequenas presilhas para segurar as mechas. Os lábios eram pintados com batom vermelho que realçava seus olhos azuis cinzentos também vazios.
Eris resmungou em seu interior pela pessoa que tinha tanto rancor ser bonita.

Parecia ser uma viúva por sua aparência.

E sem filhos pelo que parecia.

--- Vim para a reunião senhora.

--- Pelo menos é educada, diferente de sua superior. --- Descendo os degraus ela parou a alguns passos de distância analisando suas roupas como ela tinha a analisado a alguns segundos --- Nunca ouvi falar de alguma chamada Eris.

--- Ela não gosta de falar muito sobre suas amizades, senhora.

--- quais os tópicos da reunião de hoje?
Eris parou por um momento tentando lembrar dos documentos que sua amiga pedira para ler.

--- As seguranças do submundo, os produtos exportados para longe das fronteiras e o controle depois da missão que ela passará por esses meses.

--- Que tipo de missão?

----  mandou uma missão de meses para minha superior e ela passou o cargo a mim enquanto estava fora, então todos os tópicos que forem discutidos e o controle da população do submundo será discutido comigo --- A senhora apertou um pouco as unhas contra a palma da mão, talvez sua amiga desse mais trabalho para aquela senhora do que ela pensava.

--- Então vamos rápido para meu escritório, não deve ter todo o dia pela frente e não pode simplesmente voltar para sua casa no meio da noite.

Eris sorriu levemente.

--- Senhora sem querer ser um pouco ignorante, mas essa é a última de suas preocupações --- Seu sorriso se alargou quando ela pareceu não entender --- As partes sombrias me conhecem, não foi atoa que ela escolheu a mim para substituir.

--- Entendo. --- ela respondeu --- siga-me.
Ela voltou a subir e Eris seguia cada passo mesmo que aquele vazio ainda fizesse seu peito se fechar em receio, mas mesmo lutando contra a limpa chance Eris não pode evitar de tentar.

--- Senhora --- Ela chamou a fazendo se virar --- Como se chama?

--- Perdoe meus modos, há muitas coisas em minha cabeça ultimamente --- A senhora estendeu a mão sorrindo calmamente quando falava --- Me chamo Blyana, bem vinda a meu lar.

Quando Eris segurou sua mão pode finalmente sentir a agonia e o veneno controlado que corria por seu corpo, a magia fluindo calmamente entre seus dedos quando apertou firmemente sua mão descoberta.

Ela descobrira que Blyana era capaz de criar ilusões.

E agora Eris também.

A Vilã Da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora