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Mesmo ainda sentindo o rosto queimar pelo tapa repleto do calor da magia Talitha se estendeu encarando as damas com as toalhas frias e seus olhares preocupados.
Algo nelas fez seu temperamento esfriar também.

--- Precisamos acabar com as malas para podermos ir embora--- Talitha disse muito brevemente, ela não esperava que seu irmão reagisse dessa forma. Nunca fora de sua personalidade.

--- Mas senhorita...

--- Uma de vocês pode ajudar a cobrir a marca, as outras duas terminem as malas --- Disse em uma pausa --- por favor.

Elas só precisaram se olhar por poucos segundos para entender o que deveriam fazer, uma foi correndo para a penteadeira ornamentada pegando base e pó para cobrir a vermelhidão. As outras rápidas o suficiente para conseguirem tropeçar em alguma coisa se aprontaram para colocar as últimas peças nas malas e fecha-las.
Talitha se sentou na cadeira sentindo a base fria estalar contra o calor o que fez seu corpo estremecer, ela só tinha conseguido esse tipo de marcas em treinamentos, mas sempre soube que não era intencional. Ela sabia que Liam nunca faria isso propositalmente, até agora.

Ainda em choque encarando o espelho ela viu a prova de que Liam poderia ser igual a todos os outros, que poderia ser até pior se suspeitasse. Pensar que a pessoa que se auto denominava irmão tinha feito uma coisa dessas fez uma ardência chegar a seus olhos.

--- Senhorita, sempre tem permissão para chorar. --- A empregada tentou acolher a princesa, mas nada foi útil. Mesmo que algo dentro dela ardesse mais que qualquer brasa ela não poderia deixar que aquilo a consumisse.

Não agora.

Porque ela sabia que se deixasse uma lágrima escorrer, não poderia parar.

Com os dedos apertando a saia justa em seu quadril e seus babados laterais ela suspirou controlando os próprios sentimentos para poder sair do quarto. Vendo os últimos retoques serem feitos Talitha imaginou o rosto de Blyana encarando onde estaria a marca.

Era óbvio que ele contaria a mãe, Liam nunca parecia capaz de lidar com os próprios problemas.

Mas ela sabia.

--- Está na hora. --- Ótimo.

Se levantando em um salto as moças pararam em suas costas com a empregada que ajudou a cobrir a vermelhidão abrindo a porta indo sem pressa.

Talitha encarava o andar que vivera por toda sua vida e reparava que era o único que tinham quadros das esposas, menos o da mulher que nunca teve oportunidade de conhecer. Uma alfinetada já muito esquecida, mas que ainda sim conseguia atingir uma parte profunda de seu peito.
Você não pertence aqui. Era o que dizia em cada sorriso pintado nas paredes.

Continuando a andar, Talitha encarou o jardim que ficava não muito longe do prédio e toda a cidade que sempre ficava mais bonita a noite.

Ela deixava sua casa para um bem maior, um ninho cheio de bestas mentirosas e salafrárias.

Mas com certeza era muito melhor que isso.

--- Vamos nos atrasar senhorita.

Em um passo apertado a princesa correu para o elevador esperando calmamente chegar ao penúltimo andar onde ela desceria até o térreo pela escada ornamentada. Talitha respirava fundo várias vezes sabendo o que encontraria quando passasse das portas.

Todos estariam lá, ou pelo menos todos que realmente importavam.

As portas metálicas se abriram e Talitha sentiu o receio que não sentia dês de sua infância. Era estranho poder sentir alguma coisa depois de tanto tempo.

A Vilã Da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora