30 - Essa festa virou um enterro

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SUNOO


As vezes quando olho para o lado e encaro todas aquelas folhas espalhadas e todo aquele vento, me sinto como uma folha, que não importa o quanto eu esteja me segurando, alguma coisa vai me fazer soltar daquilo e me levar para bem longe, igual o vento faz com as folhas na troca de estação.

Um mês tinha se passado, e eu ainda me sentia como nos primeiros dias, me segurando em algo que não parecia real, como a volta de sorriso. Minha mente tenta entender, mas não consigo achar uma boa desculpa para tudo isso.

Isa sumiu da minha vida por completo assim como as fofocas que acabaram depois da segunda semana e todo mundo parecia focar em outra coisa mais interessante do que a descoberta de outro aluno gay no mar de tantos outros da comunidade lgtbqia+.

Sunghoon também se manteu afastado, conversamos pouco apenas para entregar os trabalhos que fizemos, sinto que voltamos à quando não nos conhecíamos, quando ele era apenas um aluno calado. Me sinto mal por isso, a sensação de cansaço em meu corpo me deixa pior, queria apenas sentir os braços de Sunghoon ao meu redor outra vez, com seu perfume sendo deixado em minha roupa.

A conversa paralela me chama atenção, alguma coisa sobre uma festa à noite, com todos do terceiro e segundo ano da escola, parecia ser organizada por Jake e Heeseung. Fazia um tempo que eu não via ou falava com eles, no começo depois do meu surto no refeitório, eles grudaram em mim não me deixando sozinho, mas ao longo das semanas não me senti bem estando em um ambiente que não é meu então me afastei.

- Bom alunos, é só isso por hoje - O professor saí da sala, alguns alunos levantam e eu volto a me focar na árvore e no seu ciclo de tirar as folhas e mandá-la para longe. Não é a melhor coisa a se fazer, mas não tenho com quem conversar já que Riki e Yuna não são da mesma sala.

Não tenho me focado em outra coisa à não ser passar despercebido por todos, como não sou mais alvo de fofocas, me sinto aliviado de poder sair da sala sem ficarem me olhando. Minha companhia tem sido ficar nas últimas salas do segundo andar escrevendo músicas melancólicas torcendo para que de alguma forma toda a dor da saudade de sorriso seja transformada em música.

A banda deu um tempo, para focarem em outras coisas e conseguirem pensar, Jay e Jungwon não brigam mais quando nos juntamos de vez em quando para avaliar alguma música, eles parecem ainda mais distantes, e não consegui conversar com Jungwon para saber como ele se sente.

Uma conversa com minha mãe volta a minha mente quando entro no banheiro, o gelado do local arrepia minha pele mas me deixa feliz, o sol lá fora não me faz tão bem quanto antes. Lembro que contei um pouco sobre o estava sentindo para ela e ela com suas frases de mãe me disse para "Deixar o tempo tomar conta de tudo".

Não sei o que ela quer dizer com isso, mas estou deixando o tempo levar aquilo que tanto dói e machuca. A saudade que tenho de sorriso é sempre a pior parte do meu dia, não tenho entrado muito na biblioteca, deixei o diário lá para que ele tenha algo para quando voltar, algo que diga que ainda estou aqui, esperando por ele.

O banheiro começa a se fechar diante do meu corpo, me deixando tonto, minha mão treme, tem dias que são piores do que o outros e posso até estar exagerando, mas agora que me permito sentir tudo o que ficou guardado por anos dentro de mim, tenho tido esses momentos em que nada parece fazer sentido e eu quero apenas o colo da minha mãe e ser abraçado forte pelos meus amigos.

Heeseung aparece como um anjo na minha frente, me lembro da outra vez que ele também apareceu assim, como se ele soubesse o que estou sentindo.

- Sunoo - Heeseung me vira para ele, meus olhos não conseguem focar em seu rosto - Ei, tá tudo bem? - Nada saí da minha boca e me sinto cair, afundar, Heeseung hyung me segura não deixando que eu me machuque e não enxergo mais nada.

Enchanté - EnhypenOnde histórias criam vida. Descubra agora