Parte 4 - A primeira primavera de Benedict

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E assim como caem as folhas no outono frio, como se apaga o fogo quando a chuva cai, como as flores secam, murcham, no final de tudo, de todo esse esforço, ela não voltou para seus braços. E depois de tanto esperar, ele mesmo chegou á uma conclusão:

— Deve ter me esquecido. Ela deve ter outro amor agora, deve ter se esquecido de nossos verões. De mim. De ti. De Madelaine. Desse lugar.

Esqueceu dele, era isso o que pensava, nada iria justificar a indisponibilidade de Leslie durante todos aqueles dez longos anos sem ela e após mesmo dez anos, ele á esperava, e esperava. E isso também não seria justificado, não com palavras. Mas se olhar para o passado, ele á amava ainda depois desse tempo.

Se ela havia esquecido da cerejeira, isso era algo que ele também pensava, afinal de contas, foi a cerejeira que os uniu e a cerejeira que era o maior símbolo do amor deles dois, estava murchando como as flores dos jardins. Até mesmo a fita vermelha havia caído, aquela que se apagou assim como a chama dele.

Se ela havia esquecido da velha Madelaine, isso era o que ele pensava, afinal. Madelaine era quem contava-lhes histórias, quem alegrava-os com seu passado e seus contos, suas lendas. E assim como Leslie havia sumido, Madelaine havia morrido.

Se ela havia se esquecido desse lugar, era o que ele pensava, afinal. Haviam se conhecido ali, naquele vilarejo. Debaixo da sombra da cerejeira. E se ela não mais se lembrava dele, nem desse lugar, era como se tudo isso, toda essa luta de anos e anos e anos, fosse em vão. Completa besteira, como se não fosse nada.

E mesmo assim, Benedict ainda pensava que a culpa era toda dele. Que foi ele o responsável por ela não mais aparecer, ele o responsável por ela ter sumido, por ela esquecer, por ela desaparecer daquela forma, ele não era bom o suficiente. O amor dele não era o suficiente para a perfeita Leslie, aos seus olhos, ela era perfeita e ele o irresponsável, o defeituoso. A dama e o vagabundo.

A bela e a fera, a luz e as sombras, o sol e a lua, as flores e as ervas daninhas, para ele, era assim o relacionamento dos dois. Claro que ela o havia esquecido. Todos o esqueciam, e esse trauma de ser rejeitado mais de uma vez cresceu dentro de seu peito durante aqueles anos sem ela, e sozinho, com apenas a cerejeira o acompanhando, se sentia como um barco sem capitão no meio do mar da vida. As correntezas que o puxavam e levavam, sem poder fazer nada.

E Leslie, o havia esquecido? Esquecido a cerejeira? Madelaine? Aquele lugar? Seu amor por ele? Dos verões deles?

Não, com certeza não, a resposta é clara quando se ama. E mesmo que queira esquecer, nunca se esquece quando se ama verdadeiramente. E as lembranças daquela pessoa podem até ser opacas, bagunçadas na mente, porém sempre vem uma hora ou outra. E ele sabia que, embora ela não aparecesse durante os verões, ela se lembraria dele. Isso até sua chama se apagar por completo.

Depois que essa chama se apagou, ele não sabia mais, não sabia se ainda á amava como antes, sendo que esse peito apaixonado agora estava sofrendo tanto, que algumas vezes até desejava se esquecer dela por completo, nunca tê-la conhecido. Só queria não sofrer, não ter conhecido Leslie. Mas era impossível agora, ele era apaixonado por aquela garota que á esse ponto deve ser uma mulher.

E quando menos pensou, ele ainda ia naquele lugar com a única desculpa de cuidar de sua cerejeira. As vezes chegava á conversar com a árvore e nessas conversas refletia. E foi, foi durante uma dessas reflexões ao lado da árvore que disse para si mesmo como se estivesse conversando com ela:

— Como me sinto agora... sem ela?

A árvore claramente não o perguntou isso, mas o coitado estava tão solitário que falava sozinho. Ou imaginava falar sozinho, aquela cerejeira o escutava muito bem, bem melhor que ele se escutava e escutava seu coração também. E a cerejeira sabia bem que ele não se esqueceria da ruiva. Ele tinha vinte e quatro anos e mesmo assim conversava com a árvore como uma criança. E o mesmo se respondeu.

Nossa Promessa | Benedict E Leslie [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora