Parte 3 - Os verões sem ela

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O oitavo verão chegou.

Sentado naquela sombra daquela cerejeira, lá estava Benedict, solitário, esperando sua amada. Esperava pois ela estava atrasada, estava atrasada para seus encontros diários de verão. E foi aí, que ele percebeu:

"Ela está atrasada..."

Atrasada para a única coisa que o deixava feliz ali, e percebeu também que ele nunca ia até ela, era sempre Leslie que vinha até ele e dependia dela vir até ele, pois ele nunca sabia onde ela estava, somente Leslie sabia onde encontrar sempre o loiro, e pego em mais uma reflexão, percebeu também que já estava ficando tarde. Pensou consigo sobre aquilo, os cisnes ainda estavam no lago, os ninhos ainda estavam ali, a água ainda estava cintilante, o sol descia no horizonte, as flores ainda estavam ali, seu aroma ainda estava ali, a cerejeira ainda estava ali, a fita vermelha do cabelo de Leslie ainda estava ali naquele mesmo galho, com o mesmo vento á balançando. Só Leslie não estava ali.

Se levantou depois de esperar por mais de quatro horas pela menina, descobriu as antes cobertas marcas roxas de seu braço, até elas estavam ali, por quê Leslie não estava ali? Por que  ela não estava ali?

Subiu o morro do Vilerejo Leidenchaft, a luz do sol brilhava no horizonte laranja, em lilás, em vermelho, em roxo. Todas essas cores o faziam lembrar dela, todas essas cores remetiam Leslie, e mesmo que não quisesse, se lembrava dele em tudo. O vaso de flor branca em água na sua pequena e humilde casa lhe lembravam ela, lembrava-lhe do crisântemo que havia anos atrás posto no cabelo dela. A cortina cor verde oliva lembrava o vestido dela, e a grama lembrava das suas brincadeiras com ela, aquela casa era tão vazia, e os sentimentos dele tão calados, que mesmo que pudesse gritar sua solidão, ou chorar desesperado, não o fazia.

Não falava sozinho, mesmo durante as noites cálidas e frias, mesmo durante o dia de chuva que se seguiu. Correu naquela mesma chuva para cobrir sua cerejeira, quando chegou á viu toda molhada. Tadinha da minha árvore. Suspirou. Á cobriu com as mantas de couro, que mesmo estando refriado, sempre fazia isso.

Chegou em casa molhado pela água toda que despencava do céu, as nuvens choravam, elas choravam como ele queria chorar. Mas não chorou, não chorou pois nem mesmo durante os espancamentos de seu pai ele chorava, e muito menos choraria agora que esse mesmo pai estava morto.

Se deitou na cama e cobriu até a cabeça com o cobertor, não adormeceu como adormecia, nem sonhou, ficou acordado pensando sobre Leslie. Ele estava morrendo de saudade e mesmo assim, soava misterioso como não demonstrava isso á nenhum momento, como não chorava, nem falava, nem gritava, nem nada que pudesse demonstrar. Nada.

Era como se fosse um robô.

A lua deu espaço no céu para o sol e assim se fez o dia, um dia como todos os outros. E ele fez o que sempre fazia, comeu algo na maior pressa ao levantar e tomou banho, se vestiu e partiu ao trabalho. Durante todo o ano Benedict trabalhava durante a tarde, mas durante os verões era diferente, ele trabalhava de manhã. Das seis da manhã ás uma da tarde, quando nas duas se encontrava com Leslie, mas naquele verão, durante todos os dias que se sucederam. Ela não apareceu.

Benedict mesmo assim, estava sempre sentado, sentado na sombra da cerejeira que ele sempre cuidou, que ele tanto amava. O loiro durante o tempo de sua infância até os oito anos, nunca foi á escola, foi só quando seus pais morreram que ele finalmente pôde ler um livro, desenhar uma árvore, escrever e ir á escola. E desenhava bem, mas na leitura... não era tanto assim, porém, ao precisar trabalhar e deixar de comer as sobras dos lixos das pessoas em seus doze anos, teve de largar a escola.

Agora lá estava ele, com um de seus poucos livros, que ele já lera umas centenas de vezes, debaixo da sombra da cerejeira. Esperando Leslie. Se tornou seu caminho obrigatório desde que conhecera a ruiva. Ir até lá e esperar por ela, se estendeu por mais uma, duas, três e no final, se passou o mês inteiro. As férias de verão acabaram e ela não apareceu.

Nossa Promessa | Benedict E Leslie [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora