Experience

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- Eu não acredito nisso! - Marília esbravejou, arremessando seu celular para longe.

Faltavam apenas alguns pares de horas para que o trio de cantoras caíssem na estrada para propagarem as músicas apresentadas na live de 30 dias atrás. Com suas roupas organizadas em uma grande mala, Marília resolveu aproveitar os últimos momentos na calmaria e conforto de sua casa antes de viajar ao Nordeste com suas amigas.

Deitada em sua cama, resolveu atualizar-se sobre as últimas notícias no twitter, porém, o que viu após uma leve rolada na linha do tempo lhe desagradou assustadoramente.

"Maiara, da dupla Maiara & Maraísa aproveita a sexta à noite com novo affair, Fernando Zor"

Ao ler o título da notícia, Marília sentiu seu corpo inteiro sofrer com uma descarga elétrica, lhe causando uma reação adversa e fazendo com que a loira arremessasse seu celular para longe de si, encontrando a parede de seu quarto e, logo em seguida, o piso, rachando a tela do aparelho. Arrependendo-se no mesmo momento que o fizera, levantou-se para apanhar o objeto recém quebrado no chão de seu quarto, tentando organizar seus pensamentos e controlá-los.

- Marília? - Ruth, sua mãe chamou dando leves batidas na porta de madeira escura, - Está tudo bem?

Marília sentiu seu corpo tremer assim que escutou a voz suave de sua mãe, e com a sua própria, respondeu trêmula - Está sim, mãe.

- Por que você arremessou o celular, Marília? O que houve? - Perguntou a mais velha, adentrando no cômodo de cores claras.

Droga.

A conexão entre Marília e Ruth se dava desde seu nascimento, então a loira sabia que era muito difícil esconder algo da matriarca da família Dias. Contudo, a situação que estava vivendo no momento era delicadamente assustadora, e o receio misturado ao medo de seus próprios sentimentos impediam Marília de verbalizar o que sentia no momento.

Para Marília, verbalizar abertamente sobre o que estava sentindo, tornava o sentimento real, e talvez não estivesse preparada para tornar tudo aquilo real.

Na realidade, Marília recusava-se a pensar que talvez houvesse algum sentimento por Maiara, e talvez realmente não houvesse o amor romântico ainda, mas seu jeito possessivo e ciumento de ser haviam sido feridos ao ler a manchete há minutos atrás. Em questão de segundos, pensou que talvez aquilo entre ela e Maiara fosse apenas uma brincadeira ou algo normal para a ruiva, e que talvez não dava a mesma importância dos ocorridos entre elas como Marília dava. Pensou também que talvez ela fosse apenas um passatempo para Maiara, assim como foi para Yuri, e isso lhe feriu de forma a sentir seus olhos arderem, ainda abaixada no chão de seu quarto.

- Minha filha, o que houve? - Ruth aproximou-se lentamente da filha ao ver seus olhos marejarem e suas bochechas ruborizarem, reação típica da loira ao chorar. - Conte para a mamãe, filha. Somos amigas, se lembra?

- Eu não consigo, mãe. - Marília disse com a voz embargada.

Como se lesse seus pensamentos, Ruth sentou-se ao lado de Marília, aninhando-a com um abraço. - Você sabe que pode me contar qualquer coisa, e que jamais te julgaria por nada. Não quero que se sinta pressionada para falar o que te machucou, mas quero que saiba que estou aqui com você. - Afagou os cabelos recém lavados de sua filha, ouvindo um baixo soluço da mulher aninhada.

- É a Maiara. - Marília disse baixo, sentindo seu corpo inteiro tremer ao proferir as palavras. - Eu não sei o que está acontecendo.

- Mas eu sei, filha. - Ruth disse calmamente, ainda afagando os cabelos da loirinha, - Está tudo bem se atrair por mulheres, meu bem.

Marília então levantou-se rapidamente, - C-Como você sabe?

Ruth sorriu levemente, - Mães sabem de tudo, Marília. Eu notei como você estava se comportando nos últimos meses, e como você ficava ao falar de Maiara. Além disso, acha que eu não percebi aquilo com a prima do Henrique?

A loira imediatamente sentiu seu rosto beirar a roxo, e sua pressão despencar abruptamente com a confissão de sua mãe. - Mãe, eu não sabi... - Marília foi cortada pela risada leve de sua mãe, o que lhe rendeu uma careta confusa.

- A mamãe sempre soube que um dia você se descobriria, filha. - Disse divertida, - Você sempre deu alguns indícios, desde novinha.

- Eu sinto muito, mãe. - Marília disse, abaixando a cabeça.

Ruth então franziu o cenho, confusa, - Por que está pedindo desculpas? Espero que tenha sido pelo acesso de raiva em arremessar o celular, marcando a parede branca do quarto. Você sabe que eu odeio manchas na parede.

Marília então gargalhou, - Sim, por isso também. Mas por fazer você ter esse tipo de conversa comigo, mesmo depois de adulta.

- Minha filha, - Ruth começou, - Para mim, você sempre será um bebê. - Aproximou-se, beijando o rosto da filha, - A mamãe ama você. - Abraçando a mulher novamente, perguntou - Agora, vai me contar o que a Maiara fez?

Marília suspirou pesadamente, - Na verdade, não foi diretamente comigo, sabe? - Começou manhosamente, - É que eu vi no twitter que ela saiu com o Fernando, e isso me incomodou bastante.

- Vocês se envolveram, né?

- Não sei dizer ao certo se nos envolvemos... - Começou, defensivamente. Ao notar a sobrancelha escura de sua mãe erguendo-se lentamente, bufou em rendição - Sim, mãe. Nos envolvemos. Mas não era nada de mais, e não temos nada também. Eu só sou...

- Ciumenta? - Ruth cortou a filha, com uma risada leve - Sim, Lila. Você é. - Suspirou, ainda sorrindo - Você quer um conselho de amiga, ou de mãe?

- Os dois, por favor.

- O de amiga é: Controle seus ciúmes, e viva sua vida. Não pare sua vida como sempre parou ao se apaixonar. - Ruth aconselhou, acomodando uma mexa de cabelo da filha atrás de sua orelha.

- Mas mãe, eu não estou apaixonada - Marília disse emburrada, cruzando os braços.

Ruth riu novamente, - O meu conselho de mãe é: Organize seus pensamentos e olhe para dentro de si. Aceite seus sentimentos para que não sofra, e não tenha medo dos julgamentos, eles sempre estarão lá, não importa o que você faça, então simplesmente viva. Seu porto seguro é a sua casa e a sua família, então jamais viraremos as costas para você.

Marília sentiu seus olhos arderem novamente, e sentiu como se um elefante imaginário tivesse levantado uma pata de uma tonelada de seu peito que ela nem sabia que estava lá. Abraçando sua mãe, murmurou - Será que eu estou me apaixonando?

Droga.

*
@poetzproblem: oi gente! acharam que eu morri né? na verdade, quase morri nas provas da faculdade, mas sobrevivi e voltei hehehe

sentiram saudades? por que eu senti, tá? :)

me perdoem a demora pra atualizar. esse é um capítulo curto, mas importantíssimo pra evolução da Marília em aceitar a sexualidade e finalmente conseguir fazer o que tem vontade. a validação da pessoa mais importante da vida dela talvez tenha um peso enorme, e assim a história começa a se desenrolar melhor :)

comentem o que acharam :)

Healing Hearts {Mailila}Onde histórias criam vida. Descubra agora