Oxum enganou Exú para saber o segredo dos búzios

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Marco olhou para o enorme quartilhão de barro da entrada do terreiro, as incontáveis guias penduradas no objeto, algumas tão grossas que o loiro se questionava se eram tão pesadas quanto pareciam e se alguém andava com elas no pescoço tranquilamente.

Era sua primeira vez em um centro de umbanda. Nunca fora alguém muito religioso, mas decidiu tentar ao menos uma vez, afinal, sua vida estava só um carrinho de rolimã sem freio descendo ladeira abaixo.

Seu amigo de infância, Izo, o qual também considerava como um irmão, lhe indicara para jogar búzios com uma yalorixá muito conhecida e, segundo o moreno, extremamente acertiva.

"É tiro e queda, Marco" dissera o mais baixo, "ela acertou tudo, tudo mesmo, quando eu fui lá, até disse que eu conheceria o amor da minha vida em 3 meses e olha só", lembrava do de longas madeixas mostrando o dedo anelar com a aliança prateada, o enorme sorriso contente em seu rosto.

O loiro riu consigo mesmo, balançando sutilmente a cabeça. Talvez, mas só talvez, a empolgação do moreno tenha sido um grande incentivo para que saísse de casa naquele dia levemente nublado para ir sozinho em um terreiro jogar búzios.

A porta do local se abriu enquanto o loiro divagava em abstrações sobre o passado, dando-lhe um susto com o ranger da madeira e a presença de uma figura carrancuda ali.

- 'Tá fazendo o que aí parado? Vai entrar? - questionou o outro erguendo levemente a sobrancelha, suas mãos estavam ocupadas com um pequeno alguidar com farofa amarelada dentro.

- Ah, oi, eu vim... É... Búzios, vim jogar búzios. - Marco ficou um tempo confuso com aquilo, tentando retomar o presente e o fato de que não podia mais voltar atrás, já que já havia sido visto por alguém e seria constrangedor negar agora que fora pelo no flagra ali parado.

Não que estivesse com medo, mas algo novo era sempre um frio na barriga, ainda mais quando não se tem o mínimo de conhecimento sobre o assunto. Os olhos claros do loiro seguiram até o outro, notando a expressão séria se abrir em um sorriso mais gentil e caloroso com sua resposta.

- Ora, por que não disse antes? Vem, vou te levar até a mãe. - O rapaz acenou com a mão, jogando o conteúdo do pequeno alguidar do lado de fora da porta, espalhando pela rua, saudando aquele que cuidava das porteiras.

O loiro tombou levemente a cabeça para o lado em confusão, tentando entender o que o moreno fizera ou suas motivações para lançar a farofa pelo chão, mas não questionou para não ser invasivo demais, já que havia acabado de chegar no lugar.

- Qual o seu nome? Você nunca foi em um terreiro, né?

- Marco e o seu? É... Como sabe?

- Ace, espero que goste daqui - pontuou enquanto caminhava, girando o corpo para ficar de frente para o outro por breves segundos, retornando a posição original pouco depois. - Pela sua cara de assustado quando abri a porta, até parecia que 'tava vendo um Egum.

- Egum é algo ruim? - O loiro ousou em questionar, prendendo levemente a respiração enquanto passavam por um corredor estreito e com algumas imagens e objetos de ferro retorcido nas laterais.

- Não necessariamente. Eguns são os espíritos daqueles que já foram. - O moreno virou o rosto mais uma vez para trás, se certificando de que o outro lhe seguia, notando o olhar curioso do maior pelo local. - Essa parte é onde fica o ibá, ou assentamento, de Ogum, o pai é raspado para Ogum.

- Ah, é bonito, eu não sei o que significa, mas parece interessante.

- Não é? É uma das minhas partes favoritas - comentou o menor abrindo um sorriso ainda mais largo e brilhante. - Assentamento é o local onde colocamos as ferramentas magísticas dos orixás, como um ponto de proteção, defesa, descarrego e de irradiação de energia.

búzios do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora