Oxumarê desenha o arco íris no céu para estancar a chuva

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O corpo largo se jogou sobre a cama. Os fios levemente úmidos e com um doce cheiro de ervas recaiam sobre a face muito mais serena de Marco. 

Sentia-se estranhamente exausto, mas bem, como se boa parte do peso que trazia em suas costas tivesse sido aliviado após o banho frio das ervas. A luz fraca que entrava pela janela preenchia parte de seu quarto e o loiro refletia sobre tudo o que acontecera em seu dia. 

Havia, definitivamente, pisado em um novo mundo, em novos princípios e descoberto tantas coisas, mas que ao mesmo tempo pareciam tão poucas perto da quantidade que imaginava ainda ter por vir. 

E tinha Ace. Aquele rapaz que a primeira vista lhe pareceu tão sério e sisudo, mas que desabrochou tão fácil, mostrando-lhe aquela energia tão espirituosa, tão cálida e gentil. 

Ele fora um grande precursor da calmaria que sentia naquele instante e Marco nem ao menos pensou em negar esse fato óbvio. O outro nem ao menos havia dito tantas coisas para si, mas suas ações, seus gestos, sua preocupação, tudo que ele fizera tinha algum pingo de poder na sensação que dominava seu peito.

Lembrava de quase tudo o que ele dissera e fizera, até mesmo a maneira cômica e fofa com que ficara envergonhado ao ser chamado por um apelido carinhoso pela mãe e, por céus, ele nunca imaginara que conheceria alguém tão cativante em toda sua vida. 

Havia conhecido tantas pessoas durante sua vida, mas nenhuma fora tão eficiente em cativá-lo, mesmo que fosse em um princípio de amizade, quanto o moreno. Ace caíra como um raio em sua frente e, tão rápido quanto surgiu, envolveu-o. 

Ele era de uma doçura maleável que se moldava e se adaptava com graça às circunstâncias, quase como se fosse algo tão inato a ele que nem ao menos percebia que o fazia, como o próprio ato de respirar.

Marco fechou os olhos por longos segundos, deslizando sua mão pela cama até encontrar seu celular, lembrando-se que o moreno havia salvo seu contato ali. 

Abriu o aplicativo de mensagem e o procurou, encontrando a expressão cativante capturada pelo círculo arredondado. Seus olhos logo notaram que a imagem parecia ter sido tirada no terreiro onde fora, reconhecera as envergaduras de ferro do assentamento que Ace lhe mostrara ao fundo da foto, além dos fios de conta que apareciam de relance pendurados no pescoço delgado e a mostra. 

O loiro deu um pequeno sorriso inconscientemente ao ver a expressão sorridente do outro, era algo tão magnético que se tornava difícil não corresponder aquele sorriso brilhante e envolvente. 

Em seguida abriu a conversa vazia, pensando em como começaria aquela troca de mensagens com o menor. Imaginava como Ace começaria em seu lugar, talvez com alguma piada ou brincadeira. 

Por fim, optou pelo tradicional, dizendo um breve "oi" seguido de um "aqui é o Marco que jogou búzios hoje mais cedo". O tradicional parecia combinar bem com seu momento atual. 

As setinhas não demoraram em ficar azuis, indicando que o moreno lera, ou ao menos vira, a mensagem. Marco esperou alguns segundos, esperando o "online" se alterar para "está digitando...", entretanto isso não aconteceu. 

O loiro mordiscou o lábio de forma incerta e decidiu deixar o celular de lado, ficar encarando a própria mensagem começava a fazê-lo se sentir estranho por esperar uma resposta só porque o outro havia visualizado. 

"Talvez ele esteja ocupado agora para responder" pensou colocando o aparelho embaixo do travesseiro, tornando a fechar os olhos para descansar. 

Entretanto sua mente parecia ter sido acionada pela chave da ansiedade e tentava controlar o ímpeto de olhar a conversa mais uma vez. Céus, até podia sentir seu estômago fervilhar ansiosamente pela resposta e seu coração desordenar pela incerteza de que ela viria. 

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