Os Ibejis enganam a Morte

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Esqueci de comentar nos outros capítulos, mas os rituais, informações e etc sobre a Umbanda/ candomblé que eu coloco são das coisas que vi nas casas que frequentei e frequento e de pesquisas independentes, mas como funcionam, fundamentos, etc variam de terreiro para terreiro, da nação, até mesmo da região do país, então não levem como regra

O cheiro do hospital começava a embrulhar o estômago de Marco, não necessariamente pelo aroma de limpeza e dos produtos e medicamentos, mas pelo motivo que estava ali. 

Não fora ali para trabalhar, mesmo que tivesse feito a entrevista naquele mesmo lugar na semana passada, pelo contrário, estava ali como acompanhante de seu pai que estava em processo de entrar em uma cirúrgia de emergência. 

O mais velho havia se queixado de dores fortes no abdômen e logo o levou para o hospital. Agora estava ali com o pai enquanto os médicos e enfermeiros o preparavam para levar para a sala de cirúrgia. 

Estava tenso, desesperado e agoniado. Marco tinha total noção do estado do maior e que qualquer problema poderia ocasionar no fim da trajetória do homem. E esse motivo só o deixava mais afoito e nervoso, seu coração se enchia de angústia e agonia só de imaginar. 

Sabia que uma hora chegaria o momento da despedida, mas não se sentia pronto para ela naquele momento, não estava preparado para dizer adeus ao homem que foi seu maior exemplo de vida, a pessoa que lhe deu um lar e um abraço para se aconchegar. 

Doía-lhe só de pensar nessa possibilidade e sentia seus olhos se encherem de lágrimas com a mísera ideia de perdê-lo tão breve, apesar de ser uma realidade tão evidente. 

Tinha total ciência dr que o velho Newgate estava sofrendo e lutando com todas as suas forças para se manter de pé e passar-lhe confiança de que estava bem, mas no fundo também compreendia que sua hora de ir embora daquele plano já se aproximava. 

Isso era evidente nos exames e em sua idade avançada, suas reações ao tratamento, apesar de se mostrarem eficazes em alguns momentos já não eram o suficiente.

Contudo, Marco ainda queria se agarrar a chance de que o mais velho sobrevivesse mais essa luta, que perdurasse mais um pouco ao seu lado, sendo seu confidente, seu pai, aquele em quem confiava cegamente e faria de tudo para vê-lo feliz e bem. 

Ainda tinha muito para lhe dizer, muito o que agradecer e contar, ainda queria que seu pai experimentasse muitas coisas mais, que vivesse intensa e longamente. 

Queria ao menos realizar um dos sonhos do mais velho que era ter uma enorme família, contudo, não sabia se o outro aguentaria por mais tempo a ponto de ver seus futuros netos, se é que haveria algum vindo de si. 

Sua ex namorada havia sido uma ponte de esperança de que ao menos aquele sonho de seu pai conseguiria realizar, entretanto, o fim repentino pôs a ideia por água abaixo e tornara esse desejo praticamente inviável. 

Claro que também a amava, afinal, não se pensa em criar uma família com quem não se ama profundamente, mas o que mais lhe afetou em seu término fora o fato de que não teria tempo hábil para que seu pai realizasse seu único e grande sonho. 

Obviamente o fim também fora doloroso para si em questões emocionais, contudo, quando se trata dos sentimentos de alguém tão querido parecia doer mais fundo na alma. 

Seus olhos acompanharam a movimentação da mão do mais velho o chamando para se aproximar e assim Marco o fez, pegando a mão alheia entre as suas com cuidado. 

— Quando eu entrar na sala de cirúrgia, vá descansar, meu filho, esfriar a cabeça e pensar em outras coisas. Eu prometo superar mais essa — comentou o mais velho pressionando seus fracos dedos contra a mão do loiro, fazendo-o engolir o choro e tentar se mostrar firme. — Por que não vai com seu amigo enérgico para algum lugar? 

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