Capítulo 11

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Quando as férias de julho chegaram, Vítor viu seus planos de passar as três semanas de recesso com Ana irem por água abaixo. Seus pais vinham projetando uma longa viagem ao norte do Estado para passar um tempo com os avós paternos de Vítor que ainda viviam lá e queriam que o filho fosse também. Na verdade, sua mãe fazia questão, anulando todas as suas tentativas de contra argumentar com aquela determinação que, certamente, Vítor havia herdado dela.

O pior de tudo era que os pais o tinham comunicado da viagem em cima da hora, um dia antes de partirem, e Vítor compreendeu que não teria tempo para despedir-se pessoalmente de Ana. Ao se dar conta de que passaria praticamente um mês longe dela, de seu cheiro, de seu calor, do som de sua voz, ele sentiu um bolo de tristeza e angústia se assentando no fundo do peito.

Enquanto enfiava de má vontade as roupas dentro de uma mala, ele espiava a tela do celular sobre a cama – porque tinha lhe dado a maldita notícia e esperava pela resposta dela – e se perguntava se eles sobreviveriam àquela ausência. E se Ana percebesse que estava perdendo seu tempo com um garoto estúpido e resolvesse retornar à estaca da negação? E se ela conhecesse outra pessoa? E se começasse a esquecê-lo?

Vítor não sabia muito sobre mulheres, menos ainda sobre relacionamentos. Tinha namorado duas garotas antes de Ana – uma de cada vez, é claro, e nunca por mais de quatro ou cinco meses – e passado a noite com algumas outras que conhecera em festas e das quais não lembrava mais os nomes. Às vezes, os amigos falavam-lhe sobre garotas com quem estavam saindo e Thiago reclamava dos ciúmes da namorada. Toda a experiência amorosa de Vítor se resumia a isso. Contudo, diziam que nenhum relacionamento resistia quando desafiado pela distância e ele imaginava, apreensivo, se aquele também seria o caso ali.

Mas a dúvida que o consumia cedeu e tornou-se tão pequena ao ponto de parecer ridícula quando Ana respondeu à sua mensagem com outra que dizia: "Ótimo. Você estava acabando comigo e eu preciso urgentemente de 12hs de sono ininterruptas. Aproveite a viagem. Vou sentir saudades. Te amo".

Vítor estava sorrindo quando começou a digitar que a amava também.

***

Ao longo daquelas três semanas, eles trocaram mensagens quase que em tempo integral. Ana acordava com uma mensagem dele, dando-lhe bom dia – Vítor estava sempre de pé desde cedo porque, segundo ele, na casa dos avós, todos "acordavam com as galinhas" –, e, antes de dormir, despediam-se com outra mensagem de boa noite. No supermercado, na farmácia, na fila do caixa eletrônico, na calçada, tropeçando em uma pedra desnivelada, ou em casa, diante de uma mesa coberta de trabalhos de alunos, onde quer que Ana estivesse, ela estava respondendo ou esperando uma mensagem de Vítor.

Ele perguntava o que ela estava fazendo e Ana queria saber como andavam as férias na casa dos avós. Ela achava graça quando ele mencionava "primos demais" e reclamava da aparente intenção da avó de engordá-lo com pães e doces. Perguntava se ela achava que ele estava mesmo muito magro, referindo-se à opinião da avó, e Ana precisava de um tempo, respirando devagar e profundamente, antes de livrar-se das imagens tentadoras dos braços dele, de suas costas largas e firmes, do peito quente sobre o qual ela gostava de deitar-se, e conseguir se concentrar outra vez na conversa – não, ela achava que Vítor estava ótimo.

Ana imaginava como devia ser divertida a casa de uma família grande. Imaginava os pais, os avós, os primos e os tios de Vítor, todos de ascendência tão germânica quanto ele, olhos e cabelos claros, falando alto e animadamente ao redor de uma mesa comprida. Imaginava tal mesa repleta daquelas comidas maravilhosas que só as antigas matriarcas ainda sabiam fazer, cozidas em fogo lento. Imaginava os gritos e as risadas e talvez um cachorro por perto, aguardando os ossos do almoço.

RuídoOnde histórias criam vida. Descubra agora