Capítulo 5

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Ana seguiu o conselho de Vítor e, no mesmo dia, deixou o carro em uma oficina mecânica. Por esse motivo, e não sabendo calcular muito bem o tempo que levaria para percorrer a pé o caminho que geralmente fazia de carro, chegou à escola muito cedo na manhã seguinte. Na sala dos professores, duas monitoras conversavam sobre doenças de pele, e Ana, um tanto enojada, decidiu que um passeio pela escola cairia bem – afinal, ainda havia espaços que ela mal conhecia e corredores que a confundiam.

Os alunos só começariam a chegar dentro de vinte minutos e agora apenas os funcionários encarregados pela limpeza circulavam pelo prédio, esvaziando lixeiras e abrindo janelas a fim de fazer circular o ar. Ana pensou em pegar um pouco de café no refeitório e sentar-se sob o pergolado do pátio das crianças, mas a brisa da manhã ainda estava fria e ela desistiu da ideia, tomando o rumo da ala leste. Observou alguns desenhos feitos pelas crianças da Educação Infantil e expostos em uma parede, achando-os engraçados, e espiou a escuridão silenciosa da sala de informática, os computadores perfeitamente enfileirados sobre as bancadas.

Atravessou o pequeno hall das salas administrativas, lendo as plaquinhas de "Recursos Humanos", "Ouvidoria" e "Diretoria" sobre as portas ainda fechadas, e encontrou uma escada envelhecida que subia em curva e que lhe pareceu familiar. Deslizando uma mão sobre a madeira do corrimão, extremamente polida pelos anos de uso, Ana subiu até o patamar do terceiro piso e, ao se dar conta de que os degraus continuavam subindo, seguiu-os.

Agora ela se lembrava com clareza. Aquela tinha sido a escada em que ela encontrara Vítor pela primeira vez – ou melhor, em que tinha sido quase atropelada por ele. Recordou-se exatamente do lugar em que eles se chocaram, dos olhos dele muito abertos, da força com que segurou e apertou seus braços, impedindo-a de rolar escada abaixo. Ao deslizar as pontas dos dedos contra a parede, Ana sentiu-se tomada por uma onda de afeto que a fez esboçar um sorriso.

Mas o que haveria lá em cima? Ana nunca tinha ido ao quarto e último andar, e a supervisora nem mesmo o mencionara quando lhe mostrou a escola, como se ele não existisse. Porém, Vítor tinha estado lá, e ela agora queria saber como era. Então continuou subindo, algumas tábuas rangendo de um modo alarmante a cada passo seu. Sob a claridade que passava pelas janelas de vitral, partículas douradas de poeira flutuavam e giravam lentamente, dispersando-se quando Ana avançava por elas.

Os últimos degraus a levaram a um amplo sótão atulhado de caixas de papelão e de móveis antigos. As vigas que cruzavam o teto estavam envoltas em teias de aranha e tudo ali repousava em um silêncio de abandono e esquecimento. A curiosidade de Ana foi iluminada por um instante de fascínio – imaginou as coisas interessantes que poderia encontrar ali, relíquias do tempo – e então arrasada pela iminência dos insetos horripilantes que certamente a observavam naquele momento.

Sentindo os pelos dos braços ficando de pé, preparou-se para voltar pela escada e dar o fora dali, quando avistou uma porta baixa entreaberta. Enquanto se aproximava, Ana prometeu a si mesma que seria apenas uma espiada e então iria embora. A luz ofuscante da manhã penetrava pela fenda aberta e ela estreitou os olhos ao passar para o outro lado, experimentando alguns segundos de cegueira. Quando se acostumou à luminosidade, percebeu que se encontrava em uma espécie de terraço.

E, apoiado a uma balaustrada na extremidade do terraço, seu cabelo parecendo dourado sob a luz do sol, Vítor a encarava.

- Está perdida de novo? – ele sorriu.

- Não. – ela foi até ele. – O que está fazendo aqui?

- Ficando sozinho. – e acrescentou, em tom de ironia: – Ou estava.

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